Há 25 anos, em paragens nipónicas, Nelson Piquet vivia um fim de semana de sonho. Tinha conseguido algo inédito para um piloto brasileiro, o tricampeonato, e ainda por cima, via o seu maior rival no hospital, vítima de uma batida mais forte contra os pneus, durante a qualificação de sexta-feira, quando perdeu o controlo do seu Williams.
O tricampeonato de Piquet, conquistado aos 35 anos de idade, e na sua décima temporada na categoria máxima do automobilismo, tinha sido o corolário de uma temporada onde bancava o "brasileirinho contra todo o mundo". E era verdade: a equipa Williams estava concentrada em ar o título mundial a Nigel Mansell, o "Brutânico". Um piloto altamente veloz nos seus melhores dias, mas do qual faltava "cérebro", ou seja, sangue-frio e estratégia para vencer corridas, ou então, de conseguir ser o mais regular possível para no final da temporada, ser o melhor colocado para o título mundial.
E Piquet aproveitava essas desvantagens, da melhor maneira possivel. Mais do que "picar" e o "chatear" no dia-a-dia com as suas picardias divertidas, era o seu lado mecânico que vinha ao de cima. Primeiro, quando no inicio do ano, compensou o seu acidente grave em San Marino com uma serie de segundos lugares, um deles "obtido" depois de uma recuperação memorável de Nigel Mansell, em Silversone, perante o seu público, e coroado com uma ultrapssagem em Stowe, a poucas voltas do fim. O público pode ter no final invadido e aplaudido a manobra de Mansell, mas Piquet estava a ser como as galinhas: a cada grão (leia-se, pontos) enchia o papo (o título).
O segundo fator da conquista do título foi a suspensão ativa. Nessa altura, na Williams, era um projeto lateral do qual ninguém estava muito interessado. Piquet viu o potencial desse elemento eletrónico no inicio do ano e começou a desenvolvê-lo, com uma equipa de técnicos, engenheiros e mecânicos, tudo para o afinar e estar pronto para o estrear em pista. Quando começou a vencer corridas, na segunda metade do ano, teve força suficiente para estrear a suspensão ativa no GP de Itália, do qual saiu-se vencedor. Por causa disso, a Lotus, que também estava a desenvolver o seu sistema, colocou-o no carro de Ayrton Senna na corrida seguinte, em Portugal, mas pagou o preço da juventude.
Em suma, entre estes e mais outros fatores, o titulo mundial de Nelson Piquet foi "cerebral". Soube aproveitar as falhas de uma equipa que se concentrava à volta de Mansell, soube aproveitar as falhas do próprio piloto, soube adaptar-se a um acidente tão forte como a de Imola - anos depois, admitiu que aquele acidente lhe tirou um segundo de média por volta - e soube poupar o carro para chegar ao fim na melhor posição possível para lutar pelo titulo. E ainda por cima, quando se soube que Piquet iria para a Lotus na temporada de 1988 e aproveitaria os motores Honda que lá existiam - a Williams os iria perder nesse ano para a McLaren - soube ter cabeça fria e ser esperto, como sempre foi, para aproveitar os carros da melhor maneira possível e no final, receber a recompensa: um terceiro título mundial.
E caiu bem, porque nos anos seguintes, na Lotus e na Benetton, sofreu um ocaso que, àparte as suas vitórias em 1990 e 1991, foi por vezes penoso, especialmente em 1989, pela Lotus, onde em algumas corridas, chegou a partir da última fila de uma grelha de partida altamente competitiva, de uma equipa que se sabia passar por uma decadência do qual não conseguiria recuperar - Piquet disse depois que só tinha ido para lá pelo dinheiro. Em suma, aquele título mundial não poderia ter vindo em boa altura.
Assim sendo... parabéns, Nelson Piquet!
1 comentário:
Eu estava diante da tv pulando que nem doido.
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