Já escrevi várias vezes sobre Francois Cevért, naquelas duas vezes por ano que devemos lembrar sobre ele: quando do aniversário do seu nascimento e agora, no aniversário da sua morte. Se agora comemoramos um numero redondo, em fevereiro do ano que vêm haverá outro numero redondo: aquele que deveria ter sido os 70 anos do seu nascimento. Mas mesmo assim, existe sempre um bom motivo para escrever sobre ele, como verão nas linhas a seguir.
Soube neste sábado que houve um evento de tributo ao piloto francês nos arredores de Paris, com a presença da familia - Jackie Stewart, a sua irmã Jacqueline e o cunhado Jean-Pierre Beltoise estiveram presentes - e dos seus amigos mais próximos, que assistiram ao tributo feito ao piloto francês, desaparecido precocemente aos 29 anos.
Nas últimas semanas, andei a ler muita coisa sobre ele, e o que mais me espanta são duas coisas: a primeira é que a Tyrrell estava a preparar tudo para que Cevért atacasse o título de 1974. Ao ler a edição deste mês da Motorsport, vi que o modelo 006, que deu a Jackie Stewart o seu terceiro título mundial, tinha um grande defeito: a sua distância entre eixos, que era mais curta do que o Lotus 72, a referência. Aliás, o próprio Emerson Fittipaldi perguntou certa vez ao escocês: "Como é que consegues guiar esse carro?". Certamente que o escocês tinha os seus segredos, mas o carro era certamente mais complicado de controlar. Aliás, foi esse descontrole que levou ao final trágico do piloto francês.
O modelo 007 foi feito para que a Tyrrell corrigisse esse erro, e Stewart ajudou Derek Gardner nesse campo, mesmo sabendo que não o iria guiar. Basicamente queria ajudar o francês a ser o primeiro piloto a ganhar o campeonato do mundo. E pelo que vejo dos resultados que Jody Scheckter teve nesse ano, convenço-me que Cevért iria ser o grande adversário de Fittipaldi nessa temporada. Ou então seria um "duelo a cinco" com o brasileiro contra os Ferrari de Niki Lauda e Clay Regazzoni, com o sul-africano a trocar com o francês as vitórias, a não ser que Ken Tyrrell combinasse um estatuto entre Scheckter e Cevért, como fizera entre o francês e o escocês.
A realidade é que o sul-africano conquistou duas vitórias - Suécia e Grã-Bretanha - e lutou pelo campeonato até ao fim. Em Monza, a duas corridas do término do campeonato, estava um ponto atrás de Clay Regazzoni - que tinha 46 - com Emerson Fittipaldi apenas dois pontos atrás dele, com 43, com Niki Lauda no quarto lugar, com 38. E falávamos de um piloto que fazia a sua primeira temporada completa. O sul-africano ficou afastado do título mundial apenas porque não acabou as corridas americanas. Portanto... se ele fez isso, o que faria o francês, quatro anos mais experiente e que tinha feito uma excelente temporada de 1973?
É um grande ponto de interrogação sem resposta.
A segunda coisa que ficou na memória foi o relato do jornalista suiço Gerard "Jabby" Crombac, falecido em 2005, sobre os dias a seguir ao acidente mortal de Cevért em Watkins Glen. Adam Cooper recuperou o seu testemunho para a revista americana "Racer".
“Era um amigo pessoal, e depois do seu acidente, tinha de ajudar. Levei Jean-Pierre Beltoise a um telefone, e nós telefonamos para a familia. Eu fiquei com algumas das tarefas mais ingratas dadas por Ken [ndr: Ken Tyrrell, o patrão da equipa com o seu nome]: fui com a Norah [a mulher de Tyrrell] para buscar as coisas de Francois. É uma das coisas mais tristes que tu podes fazer, que é tirar os pertences de alguém que está morto e arrumar a sua mala. E depois, tive de escolher um caixão. Essa é uma das minhas piores memórias da minha vida.
“Depois tive de organizar as burocracias para trazer o corpo de volta, porque na América, há muito disso. Chamei Francois Gutier, da Elf, porque sabia que tinha estado nos serviços secretos. No dia seguinte, apareceu uma pessoa dos serviços secretos franceses e ele faz as devidas diligências em pouco tempo, portanto, trouxemos o corpo de volta."
“Tenho aquela certeza que caso não tivesse sido morto, ele teria sido campeão do mundo no ano seguinte. Jackie [Jackie Stewart] tinha ensinado tudo a ele, e a razão pelo qual era bom era porque ele era mais jovem, mais ambicioso - porque não tinha ganho nada - e adquiriu toda a experiência a Jackie. Jody Scheckter usou o 006 nas primeiras corridas de 1974. Não era um bom carro, mas Jackie e Francois aprenderam a lidar com ele. Jody não marcou quaisquer pontos até que o 007 estivesse pronto, mas no final do ano, não ficou muito loge do título."
Acho que com Cevért vivo, o título de Emerson Fittipaldi teria sido mais suado.
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