Pouca gente se lembra de Michael Schumacher antes de ter chegado à Formula 1. Só os mais empedernidos recordam que ele foi campeão alemão de Formula 3 em 1989 e que andou em carros de Sport-Protótipos no ano seguinte. Ora, eu talvez seja daqueles (provavelmente pela minha idade) que possa dizer que ouvi falar do alemão em 1990, quando ele andava na Endurance, com um Sauber-Mercedes, numa equipa que a marca de Estugarda criou para fazer evoluir as esperanças alemãs, que consistiam nele, em Heinz-Harald Frentzen (que por essa altura namorava com uma Corinna Betsch), em Fritz Kreutzpointer e o austriaco Karl Wendlinger.
As pessoas dizem que a primeira vez que viram Schumacher maravilhar os "petrolheads" foi em Spa-Francochamps, durante o GP da Bélgica de 1991, a bordo de uma Jordan-Cosworth. Contudo, o problema é que ele tinha feito a mesma coisa apenas dois meses antes... em La Sarthe, a bordo de um carro de Sport-Protótipos.
A coisa é explicada da seguinte forma: em 1990, a Mercedes fez a tal equipa de esperanças, numa altura em que a Alemanha queria ser alguém no automobilismo. Stefan Bellof tinha morrido cinco anos antes e Bernd Schneider não era aquilo que se esperava. E o DTM, apesar de ser espectacular, era ainda vista como uma coisa muito... alemã. A Sauber tinha alinhado com dois C11 para o Mundial de Sport-Protótipos, contra os Jaguar e os japoneses: Nissan, Toyota e Mazda. Os três pilotos iriam correr ao lado do veterano Jochen Mass, no segundo carro da equipa, enquanto que na primeira, o Italiano Mauro Baldi e o francês Jean-Louis Schlesser decidiam ser campeões do mundo na especialidade, vencendo seis das nove corridas dessa temporada.
Contudo, houve excepções. Uma delas foi a prova final, no Autódomo Hermanos Rodriguez, onde aproveitaram a desclassificação do primeiro carro para vencer a corrida, com Schumacher, então com 21 anos, a guiar o carro.
Em 1991, o Mundial tinha um novo regulamento, onde se adoptavam os motores de 3.5 litros aspirados, provenientes da Formula 1 (e que levou ao seu desaparecimento, no ano seguinte), e a Peugeot estava a entrar na competição, com o 905, e com uma equipa de estrelas que incluia ex-pilotos de Formula 1 como Keke Rosberg e Jean-Pierre Jabouille, pilotos no ativo como Yannick Dalmas e Phillipe Alliot e tinha "roubado" pilotos à Mercedes como Mauro Baldi.
Schlesser e Mass juntaram-se, num carro de veteranos, enquanto que o segundo carro foi para os jovens, para Schumacher e Wendlinger. Ambos venceriam em Autopolis, no Japão, quando ambos já estavam na Formula 1: o primeiro na Benetton, o segundo na March.
Mas em junho desse ano, a Sauber alinhou nas 24 Horas de Le Mans com três carros, e um deles foi para a juventude: Schumacher, Wendlinger e Fritz Kreutzpointer. Nesse ano, a Sauber-Mercedes tinha como rival a Jaguar, com o seu XJ14 - desenhado por um tal de... Ross Brawn - e eles eram os favoritos. A Sauber tinha o C291, mas eram batidos pelos ingleses. E para ele, as coisas não corriam bem, pois só tinha sido segundo em Silverstone, na única vez que tinha levado o carro até ao fim.
A qualificação correu bem, onde conseguiu um sólido quarto posto, e parecia que ia a caminho de um pódio quando na saída das boxes, após um reabastecimento, Wendlinger bateu no muro das boxes, perdendo muito tempo a dar a volta ao circuito e a fazer os devidos reparos. Quando chegou a sua vez. Schumacher guiou que nem um louco, baixando varias vezes o recorde de volta (ficou com a volta mais rápida) e levou o carro até ao quinto posto final, a sete voltas do Mazda vencedor.
Tempos depois, foi para a Formula 1, mas ele queria que isso tivesse acontecido com os Flechas de Prata a entrarem com uma equipa completa, ou com a mesma aliança com a Sauber. Contudo, o seu sonho acabou por ser realidade em 2010, aos 41 anos e depois de sete títulos mundiais e 92 vitórias. E com Ross Brawn ao seu lado.
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