quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

"Eu quero que a democracia se f***!"

Ele poderia ter dito isso, mas não o disse. Pelo menos no ar e em público. Mas em privado, é isso que diz, todos os dias, à vista de nós todos. E a razão é uma e só uma: dinheiro. Os lucros da categoria estão em máximos históricos - cerca de 1,8 mil milhões de dólares, pouco mais do que isso em euros - e o segredo do sucesso disso são os gordos patrocínios vindos das petro-monarquias e das petro-repúblicas como a Rússia, e agora, o Azerbeijão, num calendário que este ano vai bater recordes, com 21 corridas no calendário.

Bernie Ecclestone, que sempre odiou a democracia (não tem problemas nenhuns em elogiar Adolf Hitler e Robert Mugabe, por exemplo), desde que tem as rédeas da Formula 1, aproveitou bem a passagem dela por sitios considerados como duvidosos, para não falar das ditaduras fortes e feias. Argentina e Brasil nos anos 70 ou a África do Sul do tempo do "apartheid" são os melhores exemplos. Aliás, toda a gente sabe que a Formula 1 foi a última a aderir ao boicote desportivo ao regime de minoria branca, em 1985, e só após forte pressão internacional sobre a FISA, liderada por Jean-Marie Balestre. É sabido que um terço do valor vai para ele e para a CVC Capital Partners, entidades cuja contribuição para a atividade da Formula 1 é minima, e claro, as equipas não são muito fãs.

Mas a grande novidade disto tudo apareceu hoje, e quem conta isto é o Ico, no seu blog. Foi hoje divulgado o relatório da ONG "Freedom House", onde afirma que dessas 21 rondas de 2016, oito acontecerão em regimes não democráticos ou "parcialmente democráticos". Em contraste, no ano 2000, a Formula 1 estava num país parcialmente (ou não livre), em 17 possiveis. E esta regressão não aconteceu por causa desses países terem regredido na democracia: pura e simplesmente, Bernie deixou a Europa para trás em busca dos milhões asiáticos, especialmente depois da alta do petróleo, a meio da década passada.

Os regimes parcialmente livres são três: Singapura, Malásia e México. E os não-livres são China, Bahrein, Azerbeijão, Emirados Árabes Unidos (Abu Dhabi) e Rússia.

Contudo, isso não é algo exclusivo de Bernie e da Formula 1. Como é sabido, a FIFA vai organizar o Mundial de Futebol na Rússia e no Qatar, em 2018 e 2022, enquanto que os Jogos Olímpicos tiveram na cidade russa de Sochi na sua última edição de inverno, em 2014, e em 2022, estarão em Pequim. De uma certa maneira, todos vão onde está o dinheiro. Só que no caso do automobilismo, as coisas são mais constantes. Mas com a baixa do preço do petróleo, é altamente provável que esses países peçam para baixar o preço do pagamento que Bernie exige para que a Formula 1 ande por lá... 

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