Há trinta anos, a Lancia entrava
relativamente tarde na guerra dos Grupo B, mas quando ele se estreou nas
classificativas um pouco por todo o mundo, foi mais do que suficiente para
dominá-las. Vencedor no primeiro rali em que disputou, tornou-se num sério
candidato contra os Peugeot 205 e os Audi Quattro. Contudo, os acidentes
sofridos na temporada de 1986 fizeram com que terminasse o Grupo B. Hoje falo
do Lancia Delta S4.
Desde meados de 1984 que se
procurava um sucessor digno do modelo 037, que não era um carro totalmente de
Grupo B, apesar de ser um vencedor nas mãos de pilotos como Markku Alen, por
exemplo. Assim sendo, colocaram o seu motor 1.8 litros turbo num modelo baseado
no Lancia Delta, transformando-o no S4. Fabricado debaixo de um chassis
tubular, com uma casca feita de fibra de vidro, o carro usava os mesmos
materiais do 037, com a parte traseira a ser totalmente atarrachada, para
facilitar o acesso dos mecânicos ao motor, já que iria ser instalado ali, como
acontecia com o 205 Ti16.
Com tração total às quatro rodas,
o sistema (desenvolvido em parceria com a Hewland) fazia com que 75 por cento
do impulso fosse para as rodas traseiras, para evitar a subviragem num carro
cujo peso estava maioritariamente na parte de trás do carro. Ao todo, o carro
pesava 890 quilos, mas com um motor a dar cerca de 480 cavalos, com um sistema
de turbocompressão dupla (mais eficaz do que um turbocompressor simples) era um
carro extremamente leve.
Aliás, a potência do carro sempre
foi alvo de dúvida. Embora a marca dissesse que era essa a potência oficial do
seu motor, outras fontes falavam que eles tinham 560 cavalos de potência. E os
técnicos da Lancia chegaram a experimentar em banco de ensaio um motor com
turbocompressores a darem 5 bars de potência, e chegaram perto os mil cavalos…
O carro estreou-se apenas na
última prova do campeonato de 1985, o Rali RAC, na Grã-Bretanha, com dois
carros para os finlandeses Markku Alen e Henri Toivonen. O rali correu bem para
eles, pois ficaram com o primeiro e segundo lugar, com vantagem para Toivonen.
A mesma coisa aconteceu na primeira prova do ano, o Rali de Monte Carlo, com
três Delta S4 para Toivonen, Alen e o italiano Massimo Biasion. Ali, Toivonen
voltaria a vencer, vinte anos após o seu pai, Pauli, ter feito o mesmo, em
circunstâncias polémicas…
Na Suécia, voltaram a ter dois
carros, para Alen e Toivonen, mas ambos não chegaram ao fim, e em Portugal,
voltaram a ter três carros, para Alen, Toivonen e Biasion. Contudo, o acidente
na primeira etapa, na Serra de Sintra, fez com que os pilotos de fábrica
decidissem retirar-se do rali, incluindo os Lancias. O comunicado foi lido pelo
próprio Henri Toivonen.
A Lancia voltaria à ação com os
seus Delta em maio, no Rali do Córsega, com três carros para os mesmos pilotos.
Toivonen dominava o rali, liderando com uma distância cada vez maior sobre a
concorrência quando na 18ª classificativa, perdeu o controlo e caiu numa
ravina, pegando imediatamente fogo. Ele e o seu navegador, o italo-americano
Sergio Cresto, tiveram morte imediata, e a marca decidiu retirar os carros do
rali. No seu lugar, a Lancia deu um dos Delta S4 para o sueco Micael Ericsson,
mas nessa altura, a FIA decidira que no final do ano, o Grupo B iria ser
abolido, bem como o Grupo S, cuja potência iria ser limitada aos 300 cavalos (e
à construção de 20 unidades, contra as 200 unidades de estrada exigidas pelo
Grupo B) e do qual a Lancia já tinha feito um modelo, o ECV.
Biasion conseguiu um segundo
lugar no Rali da Acrópole, e Alen conseguiu a mesma coisa no Rali da Nova
Zelândia, antes de vencerem no Rali da Argentina, através de Biasion, com Alen
a ser segundo e o local Jorge Recalde a ser o quarto classificado. Na
Finlândia, Alen foi o melhor, sendo o terceiro classificado, com Ericsson e ser
quinto e outro sueco, Kalle Grundel, a ser o sexto.
Em “casa”, no Rali de San Remo,
os Lancia dominaram, monopolizando o pódio, com Alen a ser o vencedor e
praticamente a ser o campeão do mundo, com Dario Cerrato em segundo e Massimo
Biasion em terceiro. Contudo, isso tinha acontecido porque os Peugeot tinham
sido desclassificados por os organizadores acharem que as suas saias laterais
eram ilegais, algo que a FIA… afirmava o contrário. A Peugeot protestou, e dez
dias depois do final do rali, decidiu que, apesar de validar os resultados, não
os incluiu na classificação geral, impedido a Lancia de vencer o Mundial de
pilotos, nas mãos de Alen, e praticamente dando a Juha Kankkunen, piloto da
Peugeot, o seu primeiro título mundial.
Alen acabou a temporada com um
segundo lugar na Grã-Bretanha e uma vitória no Rali Olympus, no noroeste
americano, mas foi insuficiente para conseguir os títulos, ambos para a
Peugeot. Mas no final do Grupo B e a passagem para os Grupo A fez com que a marca
se preparasse melhor, construindo um Lancia Delta 4WD, mais do que suficiente
para dominar o panorama dos ralis nos cinco anos seguintes.
Ficha Técnica: Lancia Delta S4
Motor: Lancia Turbo 1.8 de quatro cilindros em linha
Pneus: Pirelli
Pilotos: Markku Alen, Henri Toivonen, Massimo Biasion, Kalle Grundel, Mikael
Ericsson, Jorge Recalde.
Ralis: 12
Estreia: RAC 1985 (Grã-Bretanha)
Último Rali: Olympus 1986 (Estados Unidos)
Vitórias: 5
(Toivonen 2, Alen 2, Biasion 1)
Pontos: 192
(Alen 107, Biasion 47, Toivonen 40,
Ericsson 18, Recalde 10, Gundel 6)
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