segunda-feira, 14 de junho de 2021

A imagem do dia


Por incrível que pareça, este homem não morreu, mas quem viu o que tinha acontecido ao vivo, ficou convencido que o pior tinha acontecido. Desde o piloto que o atropelou, que ficou traumatizado com o que tinha acontecido, a alguns dos pilotos, que queriam parar a corrida para socorrer o mecânico e acalmar as coisas. No meio disto tudo, um milagre porque o carro bateu num ângulo certo.

Já contei a história há cerca de um mês, e não vou repetir, podem ler por aqui. Mas posso hoje falar sobre a pessoa que foi atropelada, e que viveu para contar a história. E a sua longa história no automobilismo.

David Luckett era um americano de Connecticut que começou no automobilismo graças à Shadow. Primeiro na Can-Am, no inicio dos anos 70, e depois transferiu-se para a Formula 1, na mesma equipa. E em 1978, seguiu pessoal como Alan Rees, Jackie Oliver, Tony Southgate e Franco Ambrosio, entre outros, para formar a Arrows. E em 1981, era o chefe dos mecânicos.

Anos depois, em 2010, contou ao site australiano Speedcafe que "não me lembro do impacto, só sei que acordei no hospital", mas sobre o que se passara antes, as recordações tinham sido fortes.

Tudo começou na sexta-feira, quando um dos mecânicos de Osella caiu no asfalto e foi atingido pela Williams de Carlos Reutemann”, começou por contar Luckett. “Ouvimos dizer que ele estava mal e realmente morreu no sábado à noite. Todos os mecânicos se reuniram na frente da grelha para um minuto de silêncio e alguns dos pilotos vieram [ter connosco] e se juntaram a nós.

Houve atrasos no regresso dos pilotos para os carros, então foi tudo uma confusão, na verdade”, continuou. “Normalmente voltávamos para as garagens, mas ficamos no muro das boxes e então Riccardo travou o carro. Eu pulei o muro com a máquina e então [o semáforo] ficou verde. Siegi [Stohr] foi por uma brecha no trânsito e correu direto para Riccardo e me pegou. Eu realmente não me lembro do impacto - apenas acordei no hospital. Fiquei bastante maltratado, incluindo uma perna quebrada, braço e perdi a ponta do dedo mínimo”, disse ele.

Fiquei algumas semanas no hospital na Bélgica e depois voltei para o Reino Unido. Depois de algumas semanas, eles me trouxeram de volta à oficina de muletas e disseram que queriam que eu fosse para a próxima corrida para ajudar a animar os meus colegas!”, concluiu.

Luckett dizia que só se lembrava de Zolder nas noites frias de inverno por causa do dedo mindinho que ficara encurtado. Mas depois desse incidente, ele Trabalhou por mais de três décadas no automobilismo, não só na Arrows, como também na Lola e Simtek, trabalhando em carros de gente como Gerhard Berger e Alan Jones. Depois da Formula 1, foi para a Endurance, trabalhando por muitos anos na Highcroft Racing.

No passado sábado, dia 12, Dave Luckett foi vitima de um ataque cardíaco fatal. A sua longa carreira como mecânico vai sempre ficar marcada por aquele domingo de maio em Zolder, é verdade, mas foi muito mais do que isso. Ars longa, vita brevis

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