terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A imagem do dia


Esta imagem é das vésperas do anuncio da corrida de Madrid no calendário da Formula 1. Encontrei na conta do Sérgio Milani, um dos narradores da WEC no Brasil - ao lado de Rodrigo Mattar e Felipe Meira - peguei nele e comentei o seguinte na ex-rede social do passarinho azul:

"Sabem qual será a grande ironia? A Formula 1 ir para as cidades, em circuitos semi-permanentes, e a Formula E ir para os circuitos permanentes. Não acreditam? Esperem mais uns anos e verão."

É evidente que a Formula 1 quer seguir uma pegada de neutralidade carbónica. Eles falam que até 90 por cento dos 110 mil espectadores que poderá acolher poderão ir até lá usando os transportes públicos - a rede de metro de Madrid tem mais de cem anos e é das melhores da Europa e do mundo - e o facto de a experiência de Las Wegas ter sido um êxito, irá puxar para que, no futuro, a Formula 1 tenha no calendário dois tipos de pistas: as que estão dentro de cidades, mas permanentes, como Imola ou Loasil, no Qatar, e pistas de rua, desde o Mónaco, Singapura, até Jeddah, na Arábia Saudita, ou as americanas, como Miami e claro, Vegas.

Ao ver o desenho, faz lembrar Adelaide, na Austrália, e claro, Miami. Mas a aposta da Liberty Media é muito recente, é uma tendência que tem poucos anos. Algumas das pistas estão agora a passar pelos síndromas do "segundo e terceiro anos", ou seja, passado o efeito novidade, onde os preços ficam estratosféricos e todos querem vir aqui, as bancadas ficam com menos de metade da capacidade e os preços tendem a cair bastante, para atrair gente. Foi o que aconteceu com Miami e a própria Las Vegas.

Em contraste, a Formula E, que tinha com objetivo correr nos centros das cidades, decide expandir e ir para as pistas permanentes. No ano passado, foi a Portland, nos Estados Unidos, e com a aposta nos recarregamentos, a acontecer em... Misano, em Itália - uma pista permanente - com eles a apostarem nisso para dar maior emoção às corridas, e com o Gen4 a aparecer, em principio, em 2026, não ficaria admirado se eles aproveitarem as pistas de Grau 1 da FIA para irem correr em fins de semana duplos. Algumas pistas, especialmente na Europa, poderão estar a espreitar essa competição para os acolher. 

Poderá ser esse um vislumbre do futuro? Depende da tecnologia. E ainda acho que a competição elétrica ainda é muito pequena e muito nova para competir com os mais velhos. 

O que dará esta aposta da Liberty Media? Há algo que fica evidente. A primeira, é que querem arrecadar já em 2024 até três mil milhões de dólares de receitas, quase o dobro dos 1,8 mil milhões que a Formula 1 arrecadava quando comprou e Bernie Ecclestone e a FOM, em 2017. E no caso da "capital do pecado": com controlo total de todos os aspetos da organização, desde a construção até à bilheteira, passando pelo Paddock Club, onde os bilhetes para os muito ricos custam um mínimo de 10 mil dólares - o equivalente de um Dacia básico ou um Mercedes em segunda mão - e ali, a Liberty poderá ganhar algumas dezenas de milhões de dólares. Se replicarem essa formula a outros lugares, esse objetivo poderá estar mais perto. 

E claro, falta o elefante na sala. E Barcelona? Tudo indica que poderá cair. Mas a Liberty poderá pensar seriamente na ideia de uma segunda corrida em Espanha, como aconteceu não há muito tempo, com Valência, também uma pista semi-permanente num lugar da cidade. O governo da Catalunha está disposta a ficar com a corrida, mesmo depois do contrato acabar, em 2025. Palco do GP de Espanha desde 1991, altura em que a pista de Montmeló foi construída, nos últimos anos tem windo a ser criticada por ser uma pista aborrecida, e para piorar as coisas, a sua localização, a mais de 35 quilómetros do centro da cidade, e os seus acessos insuficientes - uma auto-estrada e pouco mais - não tem vindo a ajudar a reunir e escoar os mais de 80 mil espectadores que vão assistir à corrida todos os anos, por alturas de maio. Ter uma pista no meio da capital espanhola poderá ser bom, mas numa nação federal como aquela, os catalães poderão ver isto como uma apropriação do "poder central" e uma "facada" nas autonomias.  

A combinação é interessante e poderá ser uma porta para um futuro a médio prazo. O problema é que quem sai a perder serão as pistas tradicionais, na Europa, e que se situam "no meio de nenhures". Ou seja, um Magny Cours, nos dias do futuro, não mais irá acontecer. Não se tiver uma auto-estrada, uma linha férrea de alta velocidade, um aeroporto internacional e todos os hotéis de cadeias internacionais a menos de um quilómetro da pista. Pode ser uma combinação para a Arábia Saudita e num dos seus projetos "faraónicos".      

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