Lauda marcou como melhor tempo 1.06.68, que era um recorde da pista. Contudo, Carlos Reutemann rapidamente elevou a fasquia com um 1.05.83, para delírio dos milhares de tifosi que não sabiam se exaltavam Reutemann ou se ofendiam Lauda. Mas quando Gilles fez um respeitável 1.06.25, depois de mais um habitual pião (!), explodiram em uníssono: "VILLANOVA, VILLANOVA". Também ele era mais rápido que o "traidor austríaco"...
A Ferrari, nesse ano, tinha decidido trocar o seu tradicional fornecedor de pneus Goodyear pela Michelin, na esperança de encontrar uma vantagem com relação aos seus concorrentes, mas para tanto teve que desenhar e construir um novo carro: o 312T3. Contudo, não estaria pronto para o inicio da época e assim foi com o "híbrido" 312T2/78 que Reutmann e Villeneuve se apresentaram em Buenos Aires para o inicio do campeonato.
"Carlos Reutemann era um piloto genial, a quem a natureza não ajudou dando-lhe uma personalidade complicada", assim o definiu Enzo, e eu concordo totalmente, mas no dia certo era rapidíssimo e um competidor seríssimo para qualquer um, e na sua Argentina natal, tudo lhe correu bem ,conseguindo por o dificílimo e caprichoso Ferrari na primeira linha da grelha, ao lado do Lotus 78 de Mario Andretti.
Gilles não conseguiu passar do 7º lugar, a pouco mais de 1 segundo de Andretti tendo nesse percurso... feito vários piões e andado a comer relva. Enfim, o costume.
Na corrida, não se portou mal e conseguiu terminar em 8º lugar, após uma longa batalha com o seu amigo Patrick Tambay, que foi sexto. Reuteman foi sétimo, Andretti primeiro e Lauda segundo. Gilles, na terceira volta da corrida, fez a volta mais rápida da corrida. Prometia.
Na corrida, Reutemann saltou para a frente e foi-se embora, e até á bandeirada final não foi mais incomodado. Gilles perdeu uma posição na largada para Fitipaldi, mas ao fim de poucas voltas já tinha recuperado essa posição e ultrapassado também Tambay. Na 15ª volta, apanhou Peterson e tentou passa-lo, o sueco defendeu-se. e... chocaram outra vez! Peterson desistiu na hora e Gilles foi á box trocar uma roda, mas com a corrida arruinada, voltou a rodar tendo desta vez desistido.
A corrida era para esquecer, pois os Ferraris eram lentos. Alem das dificuldades de potência, também a Michelin tinha uns compostos que desde o primeiro minuto não se adaptaram bem. E para piorar as coisas... novo incidente. Na 55ª volta, teve uma fuga de óleo, que ao entrar em contacto com os escapes, provocou uma fumarada dos diabos. Gilles em vez de imediatamente estacionar, percorreu quase uma volta inteira ao circuito a derramar óleo só parando com o motor gripado. Na volta seguinte, Reutmann... derrapou no óleo de Gilles, despistou-se e o seu Ferrari pegou fogo. Caiu o "Carmo e a Trindade", com os "especialistas" a quererem que Enzo substitui-se Gilles pela jovem esperança italiana que brilhava na Formula 3 e Formula 2, um tal Elio de Angelis...
Na largada, os dois Ferraris e os dois Alfas atacaram a 1ª curva ao mesmo tempo, mas só havia espaço para um. Watson ao travar tarde demais "empurrou" Reutemann e Lauda para o lado sujo da pista e desta vez Gilles, com sorte, aproveitou-se e conseguiu agarrar o primeiro lugar. Enquanto Reutemann lutava com Lauda e Watson, Gilles conseguia manter-se facilmente na liderança, mas após a ascensão do seu colega ao 2º lugar percebeu que Reutemann era mais rápido e forçou o ritmo.
Nos circuitos citadinos, Gilles estava no seu ambiente e as suas derrapagens controladas e estilo super agressivo eram espectaculares e incendiava o espírito de quem quer que estivesse a assistir. Gilles em pista causava essa impressão ás pessoas, era único. Mas esta característica de Gilles tinha o seu outro lado da moeda, que era o excesso de impetuosidade e na 38ª volta, demonstrou-o.
Mónaco veio a seguir, e Gilles, que vinha, no mínimo, com fama de cowboy doido para a sua primeira corrida na Europa, não conhecia o circuito, mas a sua técnica de condução rapidamente chamou a atenção pois não foi uma nem duas vezes que os seus pneus roçaram os "guard-rails" monegascos e rapidamente as pessoas começaram a movimentar-se à procura daqueles lugares onde ele dava mais espectáculo. As suas passagens, especialmente na curva do Casino, eram já ovacionadas e rapidamente Gilles era aclamado em todo o circuito, especialmente pela legião de fans italianos que tomam tradicionalmente conta de Mónaco no fim-de-semana do GP. Contudo, desta vez já sabiam o nome dele e agora era, "GILLES, GILLES".
Nos treinos conseguiu o 8º lugar, sendo que Reutemann fez a Pole-Position. Imediatamente ao lado de Gilles estava Peterson e atrás dele Scheckter e Jones. Na partida, Villeneuve... portou-se bem e sem se envolver em incidentes foi subindo na classificação, sendo que já rodava em 4º lugar a 13 voltas do final, á frente de Lauda que terminou em segundo. Contudo, na zona do túnel, o local mais rápido do circuito, o seu Ferrari surpreendentemente foge da sua trajectória habitual e embate nos rails de protecção. Foi dos grandes.
Desgovernado, o carro vai brutalmente a varrer a pista de lado a lado embatendo violentamente nos guard-rails dos dois lados da pista em puro "Villeneuve style", tendo se imobilizado, totalmente destruído, no exacto lugar onde anos antes, em 67, Lorenzo Bandini tinha morrido queimado dentro do seu Ferrari, naquele que foi o primeiro GP que aqui o pretenso "autor", assistiu pela TV.
Gilles já era adorado pelos fans, mas os "especialistas" olhavam aos números e a verdade era que em 7 corridas pela Ferrari na F1, ele só tinha terminado uma e já eram vários os carros totalmente destruídos. Mauro Forghieri já não escondia a sua irritação e Gilles sentiu que as coisas não estavam fáceis. António Tomaini, que era com quem Gilles se dava melhor no plano pessoal na equipa avisou-o da situação e "pediu-lhe" que terminasse os GP´s. Ao menos isso, disse-lhe ele.
Gilles pediu ao seu manager, Gaston Parent, que fosse sondar Enzo sobre a sua situação mas Enzo era teimoso e um grande admirador de Gilles e tranquilizou-o dizendo: "Olhe, Villeneuve é um campeão e ninguém pode ser campeão de F1 se não correr riscos. Villeneuve está a corre-los porque tem essa capacidade. Assim é claro que não o tiraremos da equipa".
O GP da Bélgica era a corrida seguinte, e Villeneuve FINALMENTE termina o GP. Nos treinos, obtêm um 4º lugar, sendo que a "Pole-Position" foi conseguida por Andretti no seu novo "wing car" Lotus 79, quase 1 seg mais rápido que Reutemann. Lauda era terceiro.
Na corrida, Andretti saiu como um foguete, mas Reutemann falhou uma mudança e por isso, atrás dele, várias colisões aconteceram, sendo que Lauda, Hunt e Fitipaldi ficaram logo por ali. Villeneuve passou e assumiu a 2ª posição, até que seu pneu frente esquerda ter explodido na volta 39, forçando a sua ida à box. Com a paragem, Gilles cai para 6º lugar, mas não desiste. Nas últimas 30 voltas, consegue retirar mais de 20 segundos a Reutemann e alcança o 4º lugar final, atrás dos dois Lotus e do seu companheiro.
Na Áustria, finalmente Gilles corre o seu primeiro GP sob chuva e termina em terceiro. A corrida foi interrompida na 7ª volta, quando um dilúvio se abateu sobre as montanhas Styrian e no reinicio, ainda com chuva e apesar de fazer um pião, Gilles recupera, e ao fim de 16 voltas está na liderança da corrida ultrapassando em pista nomes como Jacques Lafitte, Vittorio Brambilla, Emerson Fitipaldi, Didier Pironi, Derek Daly, Hans-Joachim Stuck, Patrick Depailler, Niki Lauda, Carlos Reutemann e Ronnie Peterson. Nada mau, hem??
Com a pista a secar e com a volta dos pneus slicks, voltaram os problemas e Gilles tem que ceder a Peterson, que ganha, e a Depailler. A Holanda é o GP seguinte e Gilles, com a sua carreira em jogo e animado pela excelente corrida na Áustria, atacou Zandvoort de uma forma fantástica e com um carro inferior consegue um 6º lugar ,á frente do seu companheiro de equipa.
Antes de Monza, Enzo chama Gilles para uma reunião e renova-lhe o contrato para e época de 1979. Diz-se que o velho homem, devido á grande controvérsia que girava à volta de Gilles, pediu a todos os membros da equipa que dessem a sua opinião sobre qual piloto deveria ficar. Unanimemente, escolheram Gilles.
Mas mais atrás, a tragédia instala-se, pois vários carros chocam numa incrivel carambola, e o Lotus de Peterson pega fogo. James Hunt e Clay Regazzoni conseguem retirar o sueco do carro, que tinha as pernas partidas. Ele e Brambilla, que tinha levado com uma roda perdida na cabeça, foram transportados para o Hospital de Milão. Na segunda largada, Gilles salta "depressa demais" para a frente e Andretti segue-o. Algum tempo depois os comissários de pista penalizaram-os com 1 minuto ao seu tempo de corrida.
Gilles atacou o quanto pode, mas o Lotus naquele ano era um carro muito superior e a 6 voltas do final, Andretti passa-o. Andretti ganha e Gilles foi segundo mas ao retirarem-lhes esse minuto ao seu tempo final, caem para sexto e sétimo da classificação geral. Mario Andretti, com o ponto obtido, sagra-se matematicamente campeão do mundo.
Na manhã seguinte, a notícia da morte de Ronnie Peterson, causada por um aneurisma cerebral decorrente de pequenos fragmentos dos ossos da sua perna, aquando da sua operação de urgência, terem interrompido a normal irrigação sanguínea, chocou a comunidade da Formula 1 e o mundo em geral.
Foi nos EUA que se correu o Grande Prémio seguinte. Andretti já era campeão mas queria-o mostrar na sua terra e foi com um tempo fantástico que colocou o Lotus na "Pole-Position", a 1 segundo do segundo, Reutemann. Jones foi terceiro e Gilles quarto. Na corrida, ao fim de duas voltas, Reutemann e Gilles passam Andretti e instalam-se comodamente na liderança. Mas a meio da corrida, o Ferrari de Gilles, "entrega a alma ao criador", impedindo o pequeno Canadiano de mais pódios e pontos. Reutemann ganha, seguido de Alan Jones e Jody Scheckter.
Seguia-se agora o último GP da época de 1978, e iria correr-se em "casa" de Gilles, no novo circuito da Ilha de Notre-Dame, em Montreal, no seu Quebéc. Os treinos assistiram a uma sensacional pole-position arrecadada pelo francês Jean Pierre Jarier, aos comandos do Lotus que tinha sido de Ronnie Peterson, fazendo jus á enorme rapidez e enorme talento deste piloto, que nunca teve resultados de acordo com as credenciais que tinha. Scheckter, no Wolf canadiano, foi segundo, e Gilles foi terceiro.
Na largada, Jarier salta para a frente, seguido de Alan Jones que ultrapassa Gilles e Jody. O dia estava frio, mas a gigantesca moldura humana liderada pelo 1º ministro do Canadá, Pierre Trudeau, estava ao rubro para seguir as peripécias do seu "menino" de Berthierville, que se definia como alguém que somente gostava de andar rápido. Na 19ª volta, Gilles ataca Jones e passa-o para logo de seguida apertar o ritmo e chegar-se a Jody Scheckter ,superando-o na 25ª volta, deixando os 70.000 espectadores á beira de um ataque de nervos.
Gilles via o que se estava a passar nas bancadas e decidiu que, apesar de estar a quase 30 segundos de Jarier, tinha que dar o seu melhor e deu-o, começando de uma forma gradual a diminuir a distância para o francês. Contudo, o Lotus era o carro do momento e caso nada tivesse acontecido não seria expectável que a classificação se alterasse.
Mas nesse dia... Deus era canadiano, e com problemas de travões, na 50ª volta Jarier desistiu, e Gilles assumiu a liderança do GP. Faltavam 20 longas voltas para a bandeirada final, e podemos imaginar o que se passou na cabeça de Gilles. Guiava um Ferrari, no seu circuito natal, em frente aos seus compatriotas e a vitória era possível. Tudo fez nessas voltas foi poupar a mecânica do Ferrari, e na 70ª e última volta, recebeu a bandeira quadriculada em 1º lugar!
"Foi o dia mais feliz da minha vida" declarou o extasiado Gilles depois das cerimónias do pódio. O seu companheiro, Carlos Reutemann, disse também que estava muito feliz por ele, e que também estava feliz por não ter ganho aquela corrida. Disse também que Gilles era um excelente piloto e que em breve seria um campeão do mundo, e que Jody Scheckter não teria trabalho fácil no futuro frente a Gilles... a ver vamos.
(A continuar)
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