quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A letter to Mike

Hello there, Mike!

Há exactamente cinquenta anos atrás, resolveste fazer aquilo que hoje em dia se chama, pelo menos no meu país, de "picanço", com um Mercedes 300 SL, só porque tu odiavas ver um carro alemãso melhor do que o teu Jaguar. Aquilo que tu conseguiste evitar em pista, ocorreu numa banal auto-estrada inglesa, perto de Guilford. E logo quando recebias os louros de ser o primeiro campeão britânico de Formula 1! Que irónico, hein?

Caro Mike, outro dia escrevi para um amigo seu que decerto já o deve ter conhecido lá em cima, o Gilles Villeneuve. Disse que esperava que vocês se competissem entre si no mais puro estado de amizade, e que todos vocês no final se juntassem num agradável convivio, explicando uns aos outros como era correr no vosso tempo. Acho que tu, como o Alberto, ou o Juan Manuel, o homem que tu mais respeitavas (tu até não lhe deste uma volta de avanço em Reims, no teu ano de campeão, por puro cavalheirismo!), não irias compreender quye hoje em dia, muita daquela ética que tinham em pista já desapareceu.

Se os que vieram ter aí onde estás depois de ti ainda não te contaram, eu digo-te. Quando o teu "Mon Ami, Mate", Peter Collins, morreu, tu decidiste ir embora, mas não sem a coroa de louros. E tiraste-a a Stirling Moss. Ele tentou mais vezes, mas nunca conseguiu. Mas hoje em dia, recebe mais adulação, porque é o unico do vosso tempo que ainda vive. Quem diria? Deve ter sido uma troca.


Depois de ti, veio o Graham Hill, num BRM que no teu tempo ninguém acreditava muito no sucesso da empreitada. Pois bem, conseguiu. Depois apareceu um génio: Jim Clark, que graças às máquinas concebidas por outro génio, Colin Chapman, ganhou dois títulos mundiais, e deu aos britânicos o equivalente a Enzo Ferrari: a Lotus. Acho que adorarias ter conduzido um desses carros, se tivesses vivido o suficiente. Mas já te aviso: eram frágeis...



Depois veio outro escocês, Jackie Stewart. Não sei se o irias aceitar aquilo que ele defendia, mas tens que lhe dar o crédito de ter parado com a hemorragia de jovens e talentosos pilotos que desapareciam de nós demasiado cedo da nossa vista e dos nossos corações. Depois veio Hunt, Mansell e Damon Hill, filho do Graham. Se calhar, ele já te contou coisas acerca dele lá em cima, não? E agora, têm Lewis Hamilton, um mestiço. Já viste, 50 anos depois de ti, a Velha Albion a ser pioneira noutro marco?


Se descesses à terra, ias ver como o nosso mundo mudou. Os carros são mais seguros e mais económicos. Passamos por três choques petroliferos, que nos consciencializaram que o petróleo não é um recurso infinito. Continuam as guerras e as desigualdades sociais, e no entanto, nunca tantos viveram tão bem como agora, num planeta cada vez mais apertado, e que sofre cada vez mais nas nossas mãos. A América tem um presidente mestiço. Temos coisas que só estavam escritos em livros de ficção cientifica. Os carros de Formula têm hoje em dia tantos "gadgets" num espaço tão curto, que ficarias confuso. E infelizmente, muitos dos teus conterrâneos andariam em carros alemães, aqueles que tu tanto detestavas. Sim, meu amigo Mike, há pouca industria britânica de automóveis, e a tua amada Jaguar, que sei que eras proprietário de um concessionário, pertence a um indiano. O colonizado compara o colonizador. Quem diria?


Enfim Mike, diverte-te com os que lá andam por aí. Espero que tenhas recebido bem as duas mais recentes chegadas, o Bernard e o Phil, que eram do teu tempo, lembras-te? Já não falta muito para que o teu circulo fique completo. Seja paciente, e aqui, Mike, o Leão Britânico continua a dominar as pistas do Mundo, embora este leão seja cada vez mais multicultural, cada vez mais multinacional. Dá um abraço meu a "Mon Ami, Mate" e a todos os que lá estão, sinto falta de todos eles.


Farewell, Mike!

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