O dia de hoje está a ser fértil em termos politicos naquele país do Norte de Africa. Desde há três semanas que explodira na Tunisia o barril de pólvora que se vinha acumulando há anos - um regime corrupto e autocrático, governado pela mesma pessoa há 23 anos, com uma classe média educada mas sem prespectivas de emprego e com os preços em alta dos alimentos - e hoje, os eventos precipitaram-se. Primeiro, o ditador Ben Ali demitira o governo e no final da tarde, fugiu do pais, entregando o poder nas mãos do seu primeiro ministro, numa espécie de golpe de estado constitucional.
As manifestações, que começaram a meio de Dezembro em Sidi Bouzoud, no centro do pais, já tinham chegado à capital, devido ao desemprego e à corrupção das elites no poder. Aos poucos, tinham crescido em manifestantes e em numero, chegando a Tunis e faznedo com que o seu ditador, Ben Ali, reagisse. Depois de dois discursos a culpar "extremistas e mercenários" pelas manifestações, esta quinta-feira cedeu e tinha prometido no dia anterior que iria mudar o governo e prometer eleições em breve, bem como alargar as liberdades civicas. Mas o povo continuou a manifestar-se esta tarde, apesar do recolher obrigatório, da repressão policial que já tinha matado pelo menos 36 pessoas. Após a fuga de Ben Ali do país e da sua familia, com destino ainda desconhecido - a França já recusou acolhê-lo -, o primeiro ministro Mohammed Ghanouchi tomou as rédeas do pais e manteve o recolher obrigatório até ao dia de amanhã.
Os eventos da Tunisia, o mais pequeno, o mais rico e o mais educado da zona, demonstram que a população, cuja maioria é constituida por jovens, e do qual muitos estão desempregados, está a ser seguida com muita atenção pelo resto do mundo árabe. Grande parte dos seus lideres são autocráticos, estão no poder há demasiados anos (Ben Ali até era dos que estava há menos tempo...) e a elite dominante reprime violentamente a população mais pobre, a pretexto de combater o extremismo islâmico e a evitar a repetição de uma gerra civil semelhante ao da Argélia.
Já agora, uma dos instrumentos da mobilização para esta agitação tunisina foram as redes sociais. Facebook, Blogger, Twitter, Youtube e outros ajudaram a espalhar mensagens e videos mostrando a repressão policial ou a apelar à mobilização das pessoas para as manifestações um pouco por todo o país. E parece que a velha frase vai ser reescrita, tal como acontecera um ano antes no Irão: "a revolução será feita nas redes sociais".
Hoje, de Marrocos até ao Paquistão, mas mais concretamente no Norte de África e no Médio Oriente, os que estão no poder tremeram de medo, pois sabem que podem ser os próximos.
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