sexta-feira, 27 de maio de 2011

Entre o Céu e o Mar: o destino de dois irmãos

A primeira fotografia deste post foi tirada esta semana por Joe Saward, quando ele ia a caminho do Mónaco com o seu colega David Tremayne. É na zona de Saint-Tropez, mais concretamente no cemitério de Grimaud, cujo grande elemento são as ruinas do castelo local.

Já falei imenso sobre Didier Pironi, mas o mais espantoso é, para além do fato deste ser, até agora, a única campa do mundo que alberga duas pessoas que já passaram pela Formula 1, é que eles terem sido simultaneamente meio-irmãos... e primos. É que tem o pai em comum, mas ele depois de casar com a primeira mulher, a segunda era a sua cunhada, e o mais velho tratava a sua tia como madrasta. Estranho, mas real.

José Dolhem foi o primeiro a experimentar a Formula 1, correndo por duas vezes na Surtees, em 1974. Depois deixou-se disso e passou para outras coisas, como a aviação. Nessa altura o seu meio-irmão (e primo) Didier dava nas vistas, primeiro nas categorias de base, depois a vitória nas 24 horas de Le Mans em 1978, pela Renault, e por fim na Formula 1, primeiro na Tyrrell, depois na Ligier e por fim na Ferrari.

Ele deveria ter sido o campeão do mundo de 1982, mas o acidente no "warmup" do GP da Alemanha desse ano, quando bateu na traseira do Renault de Alain Prost, destruiu esses sonhos de ser o primeiro francês a ser campeão do mundo. E não mais voltaria a correr competitivamente na Formula 1, pois passou os anos a seguir a fazer mais de três dezenas de operações para recuperar os movimentos das pernas, especialmente o pé direito.

Em 1986, ele estava forte o suficiente para fazer testes na AGS e na Ligier, mas não o suficiente para conseguir um lugar em 1987. Para não ficar parado, construiu o Colibri, um barco em fibra de carbono do qual convidou mais duas pessoas para o guiar: Bernard Giroux, navegador bicampeão do Paris-Dakar, e Jean-Claude Guenard, antigo engenheiro da Renault.

Participaram no Mundial de Offshore daquele ano e venceram uma prova na Noruega, no inicio de agosto, demonstrando que aquele barco era excelente. Contudo, poucas semaanas depois, a 23 de agosto, durante o Needles Trophy, na Ilha de Wight, o barco virou-se a alta velocidade devido a uma onda causada por um petroleiro e matou os três elementos da tripulação.

Dolhem tentou montar os cacos da equipa e queria ser ele a competir nesse barco, em 1988. A 16 de abril daquele ano, Dolhem pegou no seu avião Mitsubishi Marquise de Le Bourget até Montpellier, a 16 de abril de 1988, para encontrar com um grupo de patrocinadores para o Colibri. Após uma escala em Saint-Étiénne, para almoçar, o avião caiu pouco tempo depois, matando toda a tripulação.

Quanto à inscrição na lápide, é o destino de todos os que se vão embora demasiado cedo, a fazer aquilo que mais gostavam. Entre o céu de José, e o mar de Didier.

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