(continuação do capitulo anterior)
As coisas continuaram assim em Silverstone, mas a Jordan viu um dos seus carros a ver a bandeira de xadrez. Pedro Medeiros fora o segundo classificado, mas havia desilusão nas faces dos responsáveis, porque ele tinha dominado grande parte da corrida e teve de abrandar para levar o carro até ao fim, e isso foi aproveitado por Van Diemen para ganhar a corrida. Bernardini fora terceiro, Kalhola era um discreto nono classificado, a duas voltas do vencedor, e começava a reclamar da pouca potência do motor a turbina e do “lag” que este tinha, que reagia lentamente aos estímulos causados pelo seu pé direito, demasiado espaçados e quando vinha, caso acontecesse em curva, era demasiado fácil perder o controlo. Alguns dias depois, ao fazer uma curva em Thruxton, Antti perdeu o controlo do carro e capotou violentamente, sendo cuspido para fora. Por milagre, saiu dali sem quaisquer escoriações, mas o carro ficou destruído e ele não tinha carro para Nurburgring.
De inicio, Jordan só queria alinhar com um carro, mas Antti insistiu para que fosse buscar o velho chassis. Bruce não estava muito para aí virado, mas calmamente pediu para que lhe desse uma chance com o velho chassis, para além de que queria conduzir no Nordschleife. Bruce Jordan acedeu, e o velho chassis, que servia de “muleto” foi colocado a funcionar e inscrito para a corrida alemã.
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Ali, a chuva e o nevoeiro eram constantes, o que fazia com que o tempo fosse demasiado perigoso para correr. Tinha sido assim durante o final de semana, onde se viu que o carro a turbina de Medeiros tinha sido apenas um mero 13º classificado na grelha, enquanto que Kalhola levava o carro ao quarto posto, atrás de um Ferrari, um BRM e um Matra, respectivamente de Van Diemen, Soalana e Brasseur. Ao seu lado estavam o Apollo de Monforte e o segundo BRM de Gustafsson, mas a corrida debaixo de chuva e nevoeiro tinha sido uma coisa diferente.
Bastaram quinze voltas no Inferno Verde para demonstrar que aquele chassis merecia uma segunda vida e que o experimentalismo do carro a turbina era tempo perdido. A aquele jovem finlandês bastou-lhe memorizar onde travar e acelerar naquelas cento e tal curvas, ganhar confiança suficiente para saber travar e acelerar onde devia, não entrar em pânico quando apareciam os concorrentes atrasados ou quando via fugir os seus oponentes. Eventualmente algum deles iria ter um problema mecânico ou “abraçar uma árvore” e ele simplesmente ficaria com o lugar. Foi uma tarefa gigante, mas cumpriu-a como um campeão, sem falhas nem erros.
Quando viu a bandeira de xadrez, ficou aliviado pela corrida ter terminado, pois estava-lhe a ser difícil correr naquelas condições, apesar da chuva ter parado de cair e o nevoeiro ter levantado um pouco. Mas aparte a leitura da placa na quarta volta onde lhe diziam “P4” nada mais sabia, porque quando quis ver de novo a placa, na volta seguinte o nevoeiro não lhe deixara. Assim, concentrou-se apenas em correr e fazer as curvas como deve de ser e ver a bandeira de xadrez. Foi por isso que ficou surpreendido quando se preparava para encostar o carro e viu Bruce Jordan e os mecânicos em êxtase:
- O que se passa? Ganhei a corrida?
- Sim, exclamou Bruce, abraçando-o. Ganhaste por mais de quatro minutos sobre o segundo classificado!
- Mas como? Eles desistiram? Atrasaram-se?
- O Van Diemen teve um furo e ficou atrás de ti, o Solana bateu e o Carpentier ficou sem motor, conseguiste!
- E o Pedro?
- Não acabou, a turbina foi-se.
- Ahh… sorriu. Depois de ver os jornalistas e os fotógrafos à sua volta, subiu ao pódio para receber o champanhe e a coroa de vencedor.
Pensava que os elogios que os jornalistas lhe faziam pela sua condução eram exagerados, mas só teve consciência do que aconteceu no dia seguinte quando leu os jornais, em companhia de Medeiros, De Villers e do casal Monforte. Todos, quer falassem em inglês, francês ou alemão, falavam do feito do rapaz da Finlândia, que superara os V12 e o carro a turbina e era “das Regenmeister”. Intrigado, perguntou o que isso significava, e lhe traduziram como “mestre da chuva”. Sorriu e disse, menorizando o assunto:
- Não é grande coisa. Não chove todos em todos os Grandes Prémios.
- Lá isso é verdade. Mas somente um génio é que poderia correr naquelas condições. Foste melhor do que o Fangio, Antti, respondeu o seu companheiro.
- E como sabes, correr ali é perigoso.
- Eu não me senti ameaçado. Para ser franco – disse, aproximando-se do casal Monforte – é mais perigoso correr naquele carro a turbina do que naquele Nurburgring, para ser franco.
- Foi assim tão assustador?
- Sim. Tive muita sorte. E se calhar com isto, posso convencer de que este carro é melhor e mais fiável do que o carro a turbina.
- E parece que o carro não estará pronto antes de Monza, acrescentou Pedro.
- Ou seja…
- Em Zeltweg terei mais uma oportunidade.
De fato, a oportunidade concedida pela Providência foi aproveitada da melhor maneira possível, mas isso apenas lhe deu um terceiro lugar, superado pelo BRM de Solana e pelo Ferrari de Van Diemen, numa corrida em que nenhum dos Matra chegou ao fim e onde o finlandês viu Medeiros a sair fortemente de pista no inicio da corrida, inutilizando o seu carro a turbina. Kalhola aguentou os ataques da armada Ferrari, com Bernardini à cabeça, seguido de Guarini, com o terceiro BRM de Hocking no sexto posto.
Em Monza, com os mecânicos a arranjarem o outro carro a turbina, somente um carro estava pronto e Bruce Jordan priorizou-o para Medeiros, julgando que seria muito mais rápido naquela pista. De fato o foi, com o brasileiro da fazer a pole-position, mas Antti não se importou muito com isso. Era apenas o nono na grelha, entre os dois Apollo, e até se sentia aliviado com isso, pois considerava que Bruce Jordan continuava a fazer carros demasiado perigosos para o seu gosto.
Na pista italiana, as lutas entre os carros eram ao centímetro e ao milésimo, e assim foi, com pilotos a darem lado a lado, por vezes com quatro carros lado a lado. A Ferrari queria ganhar ali para dar uma hipótese de título ao seu piloto, e como seria óbvio, fez o seu melhor. Medeiros poderia ter velocidade de ponta, mas o carro era pesado e lento nas curvas e isso era mais do que suficiente para que primeiro Van Diemen, depois Bernardini, depois os BRM de Solana e Hocking, e depois o Matra de Carpentier e Brasseur, o ulttapassagem, antes de na volta 33, a sua turbina deixasse de funcionar e iria ver os outros a passar pela pista.
Por esta altura, o BRM de Solana tinha acabado e este só poderia torcer para que Van Diemen tivesse problemas, mas não teve. Aliás, viu os carros de Bernardini e Guarini terem problemas, mas ao belga, nada acontecia. E também aos poucos se distanciava do único Matra sobrevivente, o de Carpentier, que tinha o segundo lugar a ser disputado pelo BRM “oficioso” de Brian Hocking – o sueco Anders Gustafsson tinha-se atrasado devido a um furo e estava fora dos pontos – e parecia que iria dar um grande resultado a Bob Turner. No final, acabou por dar, passando Carpentier na meta por meio carro e ficado com o segundo lugar. O melhor dos V8 foi De Villers, no quarto posto, seguido pelo Jordan de Kalhola e o McLaren de Revson.
(continua amanhã)
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