Na semana que passou, escrevi sobre assuntos que mereciam estar aqui nesta coluna, como a história dos Grandes Prémios alternados. Mas há uma boa que quase ninguém - pelo menos na lingua portuguesa - referiu nesta semana, pelo menos. E tem a ver com os motores para 2014, onde apesar de faltar três anos para tal, começa-se a desenhar algo que merece atenção.
Se tudo correr bem, em 2014 teremos doze equipas na Formula 1, mas em principio, não deve haver motores suficientes para todas elas. Digo bem: motores. É que poderão haver demasiados para as equipas existentes. Renault, Ferrari, Mercedes e Cosworth são as fornecedoras de motores que lá estão, e cada uma fornece três equipas. Mas surge no horizonte uma quinta preparadora de motores: a PURE. Sediada na Suiça, tem como seu principal nome Craig Pollock, que este por trás da criação da BAR, em 1999. Depois do final da sua aventura, Pollock andava um pouco sumido, mas em maio deste ano apresentou o seu projeto ao mundo.
Na altura, Joe Saward deixou escapar no seu blog que a sede da PURE seria nos arredores de Paris, não muito longe do local onde estava a preparadora Mechacrome, que no final da década de 90 decidiu continuar a evolução do motor Renault V10 após a retirada da marca da categoria máxima do automobilismo, em 1997, após oito anos coroados de glórias. Não muito longe dali também fica as instalações de outras marcas, como a Peugeot e a Citroen. A primeira esteve na formula 1 de 1994 a 2000, sem êxito, e a segunda nunca se meteu nisso, perferindo coroar-se de glória nos ralis, graças a pilotos como Sebastien Löeb.
Saward fala que o diretor técnico dessa PURE é Pierre Boudy, um dos homens que ajudou a Renault desenvolver o seu motor V6 Turbo, que o apresentou ao mundo da Formula 1 em 1977 e que conseguiu definir uma era, tal como os Cosworth V8 DFV (sigla para Double Four Valve) de três litros definiram a anterior. Agora que a FIA decidiu, em conjunto com as equipas, que os motores 1.6 turbo serão V6 e não os quatro cilindros em linha decididos inicialmente, a experiência de construir tais motores será sempre bem vinda. E vieram bem a tempo para construir um motor do zero, sem gastar muito dinheiro, já que as outras equipas gastaram algum no desenvolvimento do - agora abortado - projeto dos motores de quatro cilindros em linha, como fez a Renault na altura da decisão.
Passadas algumas semanas, sabe-se que essa companhia já tem financiamento garantido e está a recrutar trabalhadores para a sua fábrica, para poderem ter o seu protótipo a funcionar no dinamómetro em dezembro, o mais tardar.
Isso aparentemente pode ir no rumo contrário à situação da Cosworth. A mítica companhia já não tem o apoio da Ford, como teve a partir de 1967, graças aos esforços de Walter Hayes, o presidente da Ford Europa, que fora convencido no ano anterior por Colin Chapman a fazer um motor de 3 litros para a nova cilindrada, que tinha entrado em vigor nesse ano. Os motores estrearam-se em Zandvoort, no GP da Holanda de 1967, e os carros dizeram dobradinha. Iria ser a primeira das 155 vitórias a marca, mas hoje em dia é mais um preparadora, e os seus dias de Formula 1 estão longe dessa época aurea.
Atualmente, a companhia reentrou na Formula 1 em 2009 devido à imposição de Max Mosley que as equipas teriam de ter tal motor na sua demanda por um corte de custos, projeto seu que quase levou à revolta das equipas e à possivel divisão da Formula 1 em duas. Agora abastece a Williams, Virgin e Hispania, mas já abasteceu a Lotus, que este ano mudou para a Renault. Contudo, nota-se que esta ligação é mais politica do que técnica, já que as equipas não andam satisfeitas com ela e a Williams já anunciou que irá trocar pelos motores Renault em 2012.
Os contratos estão garantidos até 2013, mas a FOTA quer saber se eles continuarão a ser competitivos e estarão a desenvolver um novo motor para 2014. A intenção é positiva, mas eles não tem um grande preparador por trás, como tinham no passado. A sua maneira de sobreviver será alargar o seu leque de clientes ou rezar para que apareça uma construtora para financiar os custos de desenvolvimento não só desse motor, como o do tal motor 1.6 Turbo. E isso, numa altura de crise como está, parece ser complicado.
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