segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A paz podre do automobilismo português


Que há vários meses sabemos que há algo de muito podre no automobilismo português, isso é verdade. Basta ler os artigos do Pedro Matos Chaves no Autosport para ver até que ponto ele é o critico mais vocal das atuais politicas da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), dirigido por Luiz Pinto de Freitas. Sabe-se que - a crise também ajuda, não é? - que o panorama automobilístico nacional, quer seja em pista, quer seja nos ralis, não anda famoso, quer em termos de inscritos, quer em termos de perspectivas para o futuro.

Bem vistas as coisas, passada a formação no karting, não há mais nada em termos de monolugares que segura os pilotos em Portugal, indo para o estrangeiro. Os tempos dos troféus monomarca já lá vão, as inscrições são demasiado altas para que os pilotos as possam pagar, e o melhor que existe por aí são os campeonatos de GT's e os Clássicos, enquanto que nos ralis, o panorama é de uma pobreza franciscana, quando há poucos anos tínhamos marcas a apostarem nos ralis, como a Peugeot.

Em julho, os associados chumbaram as contas da FPAK para 2010 e 2011, algo inusitado até então. Deu burburinho, especialmente devido às dúvidas levantadas pelo Revisor Oficial de Contas devido ao exagero em alguns dos valores apresentados, mas não se ouviu mais nada, especialmente depois de terem sido novamente apresentadas e aprovadas. Mas este domingo, a RTP Madeira apresentou uma reportagem (o video está em cima, para que todos o possam ver) em que fala de uma série de movimentações no sentido de destituir esta direção, usando o artigo 15 dos Estatutos da Federação, apontando como motivos citados na reportagem: "descredibilização da atual direção, incapacidade de apresentar ideias novas para a atual situação, abuso de poder na área desportiva, péssima gestão dos valores entregues por associados e pilotos, falta de ética e promiscuidade na gestão financeira, falta de colaboração com os clubes na elaboração de regulamentos."

Os clubes contestatários querem fazer valer o artigo 15 dos Estatutos, onde se lê que "Os membros dos orgãos estatutários podem ser destituidos em Assembléia Geral, mediante proposta fundamentada de pelo menos um terço do total de votos à Assembleia Geral". E aparentemente, esse terço já poderá ter sido alcançado, e a ideia dos clubes é de destituir esta cúpula até ao final do ano, para colocar no poder uma nova direção, em março ou abril de 2013, que teria nomes de prestigio - todos querem Miguel Pais do Amaral, patrão da Media Capital e que correu na ASM Quifel Racing na Le Mans Series - e o campeão do mundo de Grupo N, Rui Madeira, seria o representante da federação para a área dos Ralis.

Já agora, por curiosidade, a reportagem também fala dos salários que a cúpula ganha por ano:

Presidente FPAK, Luís Pinto Freitas: 150,000 mil euros/ano
Consultor técnico desportivo, Nuno Vilarinho: 123,500 mil/ano
Secretario geral adjunto, Eduardo Freitas: 85,000 mil/ano 
Consultor técnico desportivo, Fernando Barros Alves: 69,000 mil/ano
Consultor técnico desportivo, José Manuel Qeitano 68,000 mil/ano
Consultor técnico informática, Gonçalo Aguiar: 76,000 mil/ano
Chefe de serviços técnicos, Gabriel Paula: 69,000 mil/ano

Dividam isto por catorze (creio que na FPAK ainda pagam subsídios de Natal e de férias...) e podem ficar com uma ideia de quanto é que se gasta por ano naquela federação em salários: mais de 640 mil euros. É muito dinheiro. 

Honestamente, não sei o que poderá acontecer daqui para adiante, mas que existe uma situação complicada, existe. E que é precisa uma reação ao atual estado de coisas, precisa. Não exagero quando digo que o futuro do automobilismo nacional está em jogo. Veremos as cenas dos próximos capítulos.

Sem comentários: