Nigel Mansell, a bordo do McLaren MP4-10, no fim de semana de Barcelona, numa foto tirada por Paul-Henri Cahier. Hoje faz precisamente vinte anos que o "brutânico" fazia a sua última corrida da sua carreira, numa saída pela "porta do cavalo" que até chocou os seus mais acérrimos defensores.
As coisas explicam-se de várias maneiras, sendo a mais simples o sentimento de orfandade que acompanhava a categoria máxima do automobilismo após a morte de Ayrton Senna. Sem campeões do mundo (Prost tinha-se retirado e Mansell corria nas Américas), Bernie Ecclestone queria um nome para abrilhantar a categoria, pois o Michael Schumacher era ainda muito novo. Mansell lá voltou para a Williams, fez quatro corridas e venceu uma, aos 41 anos de idade.
Mas queriam mais, ainda por cima na McLaren. Ron Dennis não queria nomes, mas o seu novo parceiro queria. Ele já sabia do potencial de ter Mika Hakkinen na sua equipa, mas a Mercedes queria um nome sonante. Contrariado, Dennis cedeu, talvez esperando que Mansell, o "Brutânico", se auto-destruisse. E assim foi, mas não sem ajuda do chassis.
Como sabem, o MP4-10 foi um desastre. Na altura tinha um amigo meu que cursava engenharia no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e me contou que certo dia, nas aulas práticas, testaram aquela asinha que a equipa de Woking tinha instalado na parte traseira, e me disse que não era eficaz, com perdas de eficácia na ordem dos oito a dez por cento. E de uma certa forma, era verdade, porque mesmo antes do final da temporada, aquela asa foi tirada do chassis.
Mas voltando atrás, todo aquele final melancólico de Mansell na McLaren beneficiou inesperadamente um piloto: Mark Blundell, que depois de uma temporada na Ligier e outra na Tyrrell, onde conseguiu três pódios, era piloto de testes da McLaren. Como o chassis não cabia para Mansell, Blundell guiou nas duas primeiras provas do ano, onde conseguiu um sexto lugar no GP do Brasil. No regresso, Mansell nunca conseguiu adaptar-se ao carro, e depois de um décimo lugar em Imola e uma desistência em Barcelona, decidiu pendurar o capacete de vez na categoria máxima do automobilismo. Quando isso aconteceu, Blundell foi de novo chamado e marcou mais doze pontos, a sua melhor temporada de sempre... antes de ir embora e correr para os Estados Unidos.
No final, parecia de Ron Dennis tinha razão. E o final de Mansell foi definitivamente melancólico para um dos mais aguerridos pilotos do pelotão. Como Graham Hill, duas décadas antes, não soube sair a tempo.
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