No meio de toda a azáfama de ontem, deixei escapar esta efeméride, embora esteve na minha mente ao longo do dia. Aqui vemo-lo a comemorar a vitória de um dos seus carros, em Hockenheim, em 1980, numa foto do Bernard Cahier.
Sei desde cedo que partilho a data de nascimento com Guy Ligier. E a história dele é bem rica e interessante: orfão de pai, trabalhou cedo para conseguir o seu sustento e depois de ter jogado na seleção francesa de rugby, comprou um bulldozer em segunda mão e abriu um negócio de construção civil.
Mas o mais interessante da vida de Ligier - que fez ontem 85 anos de idade - é que multiplicou a sua fortuna por várias vezes. Foi amigo pessoal de Francois Mitterand, que lhe ajudou no seu negócio automobilistico e na sua equipa de Formula 1, comprou o negócio da Matra no automobilismo - entre os ganhos, ficou com um jovem projetista chamado Gerard Ducarouge - e acabou por vencer nove vezes na categoria máxima do automobilismo.
Contudo, há coisas interessantes e pouco conhecidas de Ligier. Nos anos 60, antes dos Matra, ele ajudou o importador da Ford em França, com o seu amigo Jo Schelesser. E claro, correu treze Grandes Prémios em 1966 e 67, conseguindo um ponto... e um papel no cinema. Pois é: no seu Cooper-Maserati, ele foi um dos pilotos retratados no filme "Grand Prix", de John Frankenheimer. Basta o verem na cena de Spa-Francochamps, onde os pilotos estão reunidos no salão do hotel, a discutir os aspectos de segurança do circuito e da Formula 1.
E há uma coisa mais interessante ainda: a sua equipa seria originalmente uma ação conjunta com Schelesser, correndo com dois McLarens de Formula 2. Contudo, a morte do seu amigo alterou os planos, e decidiu que a partir dali, iria construir os seus carros, sempre com as iniciais JS nos seus bólidos.
Ligier era temperamental. O seu fisico de jogador de rugby intimidava por vezes os que conviviam com ele e ele conseguia ser persuasivo. E a ideia de ele ser o dono de uma "Ecurie de France" convenceu bastante para ter o apoio das tabaqueiras estatais, ajudadas, claro, pelo "mon ami Mitterand". Mas não guardava ressentimentos por muito tempo, tanto que alguns dos elementos que sairam da sua equipa acabaram por voltar, como Ducarouge, por exemplo. E Jacques Laffite, seu piloto "fétiche", regressou à equipa mesmo depois da sua passagem pela Williams.
Em 1992, cansou-se da Formula 1 e vendeu a equipa a Cyril de Rouvre, e decidiu virar-se para o negócio dos fertilizantes. Não perdeu dinheiro, bem pelo contrário... e o automobilismo nunca esteve muito longe. Para além dos micro-carros, tem também a Endurance que voltou a colocar o seu nome no automobilismo...
Assim sendo, parabéns (atrasados!)
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