Juan Manuel Fangio a abraçar Juan Domingo Peron, sob o olhar atento da sua mulher Eva, algures em 1949, num comicio na Casa Rosada, a sede do governo de Buenos Aires.
Este é o capitulo mais polémico de Fangio na Argentina: o seu posicionamento politico. "El Chueco" só foi para a Europa em 1948, aos 37 anos, e depois de uma carreira consolidada na sua Argentina natal e em várias provas da América do Sul, que começou ainda antes da II Guerra Mundial. Apesar de ter prosperado durante o conflito com um negócio de venda de pneus, no final do conflito, ao retomar a competição e aos seus dias de glória, não tinha a capacidade financeira de competir fora do seu país. Mas houve uma pessoa que ajudou nisso: Juan Domingo Peron, uma das personagens mais controversas do século XX argentino.
Liderando com mão de ferro o seu país desde 1946, mas com um enorme apoio popular, especialmente dos "descamisados", a Argentina estava na mó de cima após o final do conflito mundial, que tinha devastado a Europa. A sua politica populista, culminando com o carisma da sua mulher Eva Duarte - a Evita - fez com que a Argentina estivesse nas bocas do mundo. E o automobilismo não fugia a esse brilho: Peron era "petrolhead" e decidiu que não seria mau de todo se promovesse um campeonato onde os melhores pilotos europeus competissem contra astros locais como Fangio, Froilan Gonzalez, Onofre Marimon, entre outros.
Assim sendo, investiu na ACA (Automovil Club Argentino) e em 1948, esse grupo de pilotos foi à França para disputar a corrida local, em Gordinis, para no ano seguinte, correr com Maseratis, onde foram mais bem sucedidos. Fangio venceu cinco corridas e ganhou um contrato oficial com a Alfa Romeo para 1950.
Na Argentina, Peron promoveu um torneio de verão, com corridas em Buenos Aires, Mar del Plata e outros locais, onde pilotos como Achille Varzi, Jean-Pierre Wimille, Louis Rosier, Luigi Villoresi, entre outros, competiram com os locais, com sucesso. Até a Mercedes, mal teve levantado o embargo aos carros alemães em 1951, foi correr com os W154, com Karl Kling, Hermann Lang e... Fangio. Apesar de tudo, foram batidos pelo Ferrari 166 de Froilan Gonzalez. E em 1953, a Formula 1 fazia a sua longa viagem à América do Sul, algo que durou até 1960.
Depois da Alfa Romeo lhe ter dado um contrato e um salário, em 1950, Fangio não teve muito mais contactos com os Peron, apesar de aparecer ao lado deles em alguns eventos. Com o tempo, também se tornou o importador da Mercedes para a Argentina, mas em 1955, Peron foi derrubado pelos militares e exilado - só voltaria em 1973, seis meses antes da sua morte, a 1 de julho de 1974.
Fangio, que tinha sido campeão pela marca alemã, teve uma vida difícil por causa da sua ligação ao peronismo. O novo regime investigou os seus negócios, e apesar de não ter encontrado nada de irregular, não o deixava sair do país. Apenas a poucas semanas de começar a temporada de 1956, conseguiu uma autorização e assinou pela Ferrari, para vencer o título mundial pela quarta vez. Apesar dos vários regimes que se sucederam naquele país, ainda hoje há quem o associe ao peronismo, um regime que tanto causa amores como ódios, mais de 60 anos depois.
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