De Spa-Francochamps para Monza foi uma semana, 780 quilómetros de estrada por estradas belgas, alemãs, francesas, suíças e italianas, e muita coisa escrita em todo o tipo de páginas. A Ferrari parecia estar na mó de cima, comemorando o seu primeiro triunfo da temporada, e louvando Charles Leclerc pelo feito, do qual muito dizem que já merecia. E claro, partiam confiantes para a corrida que mais lhes interessava, o GP de Itália. Se vencessem, já compensaria o ano que estavam a ter, desilusório para muita gente, pois a sua maior rival já tinha dez vitórias no bolso e provavelmente ambos os campeonatos.
Apesar do final de "commedia" digna de Totó, ontem, na qualificação, Charles Leclerc não tinha a vida facilitada, pois Lewis Hamilton e Valtteri Bottas estavam logo atrás, e na frente de Sebastian Vettel. Esperava-se que a chuva fizesse a sua aparição na pista, mas apesar do céu nublado na hora da partida, não chovia em Monza. Logo, a chance de uma corrida veloz - é a mais velo do calendário - era bem real.
A partida foi calma. Leclerc aguentou os ataques de Hamilton e Bottas, enquanto Vettel era passado por Nico Hulkenberg. Os alemães depois trocaram de posições, no inicio da segunda volta, enquanto atrás, Max Verstappen se despistava ao tentar subir posições, na primeira chicane, e acabou nas boxes, para trocar de bico. Iria demorar mais tempo, essa recuperação...
Na volta 4, a ordem era Leclerc, os Mercedes, Vettel, já distantes dos Renault e o Racing Point de Lance Stroll. Pouco depois, Riccardo e Hulkenberg trocaram de posições e o alemão da Ferrari aproximava-se do finlandês da Mercedes.
Mas na volta seis, Vettel erra na Ascari e cai para o fundo do pelotão. Mas quando ele volta à pista, ele o faz na frente de Lance Stroll, e ambos tocam, fazendo com que o carro quebre o nariz. A mesma coisa aconteceu... a Stroll, quando voltou à pista e colocou na gravilha o Toro Rosso de Pierre Gasly. Pouco depois, os organizadores decidiram que Vettel acabou com um Stop & Go de dez segundos, enquanto Stroll teve de fazer uma passagem pelas boxes, também com penalização.
De uma certa forma, para Vettel, "finta la corsa", e para os "tiffos", "finito l'amore". Agora, só Charles, o monegasco, para os salvar.
Entre os da frente, Hamilton deixava Leclerc escapar por causa da degradação dos seus pneus médios. Acabou por parar, mantendo médios e caiu para quinto, atrás dos Renault. Na volta a seguir, Leclerc foi para as boxes, trocando para duros. No regresso à pista, regressou na frente de Hamilton. O inglês atacou o monegasco por duas vezes na volta seguinte, e na travagem para a Variante Roggia, Hamilton meteu o carro por dentro, mas com vantagem para Leclerc. Ele travou, mexeu e o piloto da Mercedes escapou pela gravilha. Os comissários estavam atentos e advertiram a manobra com uma bandeira preta e branca, um aviso.
Chegados ao metade da corrida, Bottas foi às boxes, enquanto Leclerc aguentava as investidas do Hamilton. Por esta altura, Carlos Sainz Jr. ia fazer as suas paragens, mas... esqueceram de apertar todos e o espanhol andou poucos metros depois das boxes. Resultado: Safety Car Virtual por uma volta. Mas ela voltou duas voltas depois, quando Danill Kvyat ficou parado depois da primeira chicane.
Hamilton não parava de atacar. Mas com o Ferrari veloz na reta, era complicado. Apesar de na volta 33, o monegasco errou na primeira chicane, semelhante ao Canadá, mas sem punição pelos comissários - estamos em Monza! - o piloto da Mercedes via a chance de passar cada vez mais complicada.
Na volta 41, havia novo protagonista: Valtteri Bottas. O piloto, que trocara oito voltas depois de Hamilton/Leclerc, estava perto deles, esperando por um erro de alguém para facilitar a sua vida. E foi isso que aconteceu: Hamilton errou a travagem na primeira chicane e caiu para terceiro. O finlandês ficou feliz e aproveitou esta "carta branca" involuntária para se aproximar do piloto da Ferrari e tentar vencer, porque, como Hamilton, também tinha pneus médios.
E a parte final foi dura: Bottas ficou na traseira de Leclerc, mas a três voltas do fim, na primeira chicane, o finlandês errou e deixou escapar o monegasco de forma definitiva. Tentou de novo na última volta, mas cometeu novo erro depois da Variante Roggia. E foi assim até ao final, quando Jean Alesi, outra lenda da Scuderia, deu a bandeira de xadrez para o piloto monegasco pela segunda vez consecutiva.
Com isto, Leclerc pode celebrar como merecia em Spa, mas as circunstâncias da morte do seu amigo Anthoine Hubert o refrearam um pouco. A vitória foi merecida, e ele definitivamente ganhou um lugar no ciração dos adeptos, especialmente porque deu à Scuderia a sua primeira vitória desde 2010. Mas como diziam os escravos aos imperadores nos desfiles triunfais em Roma, "sic transit gloria mundi", toda a glória será efémera. E tal como Vettel era o ídolo da torcida, agora é Leclerc. E ele irá ter a sua decadência inevitável. Mas não hoje. "Carpe Diem", Charles!
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