quarta-feira, 24 de março de 2021

A imagem do dia


1984 - Desistiu (problemas de turbo) 
1985 - Desistiu (problemas elétricos) 
1986 - Segundo classificado, atrás de Nelson Piquet 
1987 - Desistiu (motor partido) 
1988 - Desclassificado 
1989 - 11º classificado, a duas voltas do vencedor, depois de uma batida na partida com o Ferrari de Gerhard Berger.

Ayrton Senna não teve uma vida fácil nas suas corridas caseiras em Jacarépaguá. Contudo, quando em 1990 a Formula 1 regressou a São Paulo, depois de de anos no Rio de Janeiro, parecia que Senna poderia ter uma vida mais fácil no templo do automobilismo brasileiro. Até ajudou na remodelação do circuito, ao projetar aquilo que se tornou no "S" de Senna, que os puristas não gostaram muito, pois estragou a sensação de andar a fundo nas curvas 2 e 3 do antigo circuito de Interlagos, o que tinha quase oito quilómetros de extensão.

Quando tudo ficou pronto para 1990, calhou na pior altura possível: o governo Collor, recém-empossado, sequestrou as poupanças das pessoas, e Jean-Marie Baslestre, o presidente da FISA a "inimigo público número um" do Brasil, depois da desclassificação de Senna no GP do Japão de 1989, disse que "nem dinheiro para comprar tomates eles têm!"

Os brasileiros esperavam que Senna dominasse a corrida na sua casa. E era o que estava a fazer, antes de um mal entendido com o Tyrrell de Satoru Nakajima o obrigou a ir às boxes substituir o nariz danificado e não conseguir recuperar mais do que o terceiro lugar, atrás do seu arqui-rival Alain Prost, que triunfava pela sexta vez em terras brasileiras.

Logo, em 1991, as coisas tinham de acontecer. Já devia isso ao público.

Tinha carro, e conseguiu a pole-position. Melhor, ele era o líder do campeonato depois de ter triunfado na prova inicial, em Phoenix, nos Estados Unidos. O seu carro era o melhor, e muitos viam mais o Ferrari 642 como ameaça ao McLaren MP4/6 do que o Williams FW14. Na partida, Senna foi para a frente, e com o atraso de Prost e a desistência de Nigel Mansell, Senna estava bem tranquilo na corrida, e a certa altura, tinha uma vantagem bem tranquila sobre Riccardo Patrese, noutro Williams.

Mas havia um problema oculto: Senna não tinha a quarta velocidade desde a volta 60. Na altura, Mansell ainda corrida e tentava apanhar o piloto da McLaren, mas o despiste que sofreu tranquilizou Senna. Contudo, poucas voltas depois, ficou sem a quinta e a terceira velocidades, e só podia andar em sexta. Qualquer um poderia ter encostado à berma e dar o dia por terminado, mas ele não desistiu. Pudera, liderava a sua corrida caseira!

Manter o pé nos pedais para evitar que o carro não parasse é um feito, e claro, até o mais preparado dos pilotos tem dificuldade em manter o ritmo. Lento, bem lento - a sorte é que Patrese também tinha problemas na sua caixa de velocidades - Senna conseguiu levar o carro até ao fim, num ritmo que o permitia cruzar a meta no primeiro posto. E aquele grito de dor não foi por acaso: estava cheio de caibras de tanto pisar nos pedais, evitar que o carro parasse nas curvas de média e baixa velocidade. 

No final, comemorou com dor algo que perseguia desde o seu primeiro Grande Prémio. Aliás, ele já era campeão, vencedor no Mónaco por mais do que uma vez, rei das pole-positions e tinha feito grandes corridas... mas faltava-lhe triunfar em casa. E sofreu para conseguir, a sua vitória entrou na galeria os seus grandes feitos. 

No final, Senna ainda iria vencer outra corrida em Interlagos, em 1993, também numa vitória popular e à chuva, com Juan Manuel Fangio no pódio e um jovem Michael Schumacher a seu lado. Ao todo, só terminou em cinco das onze edições em que participou, menos de 50 por cento. Mas a gente com estofo de campeão, apenas bastou uma vez para entrar na história.

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