terça-feira, 6 de junho de 2023

Quando uma corrida em África?


Correr em África não é uma obsessão para a Formula 1, mas sabem que não seria uma má ideia correr para o único continente no qual ainda não correm, e do qual não fazem isso desde 1993. Contudo, não é uma empreitada fácil, por causa de diversos fatores. e de quando em quando, surgem mais que aparenta colocar esse sonho num lugar mais distante.

A Formula 1 correu em dois lugares: Marrocos e África do Sul. O primeiro, em 1958, e o segundo, entre 1962 e 1985, com interrupções em 1966 e 1981, e no regresso, em 1992 e 93. O circuito de Kyalami foi a pista que recebeu mais corridas, 17, entre 1966 e 85.

Contudo, nos últimos anos, graças a Lewis Hamilton, se pensa na ideia do regresso a paragens africanas, e a África do Sul é a primeira candidata. Contudo, desde então que aconteceram diversos obstáculos que impedem uma chegada mais rápida. A primeira envolveu Warren Scheckter, familiar do campeão Jody Scheckter, que em 2021, negociou com o governo e a Liberty Media a chegada da Formula 1 a Kyalami, mas por causa de um problema com finanças - o promotor exigiu mais dinheiro - o negócio não se concretizou. 

Contudo, o surgimento recente de outra companhia, a 777, que promove as 9 Horas de Kyalami, poderá fazer com que a Formula 1 regresse a África, mas recentemente, a Formula 1 decidiu que não iria mais pensar no regresso a essas paragens. A razão? Politica. 

Aparentemente, o alinhamento político recente da África do Sul com a Rússia, que culminou na descoberta de um fornecimento de armamento para o país que está em guerra com a Ucrânia, e que furou as sanções ocidentais contra aquele país, arrefeceu bastante as relações do resto do mundo com aquele país, e ao contrário do que aconteceu há 45 anos, quando a Formula 1 se tornou no "último reduto" do boicote desportivo mundial ao regime do "apartheid", nesta ocasião, a Liberty Media preferiu não avançar mais neste caso. O que fez, segundo se conta, salvar o GP da Bélgica, cujo contrato termina no final de 2023.

Mas há outros lugares que poderão pensar na ideia. Fala-se bastante no Ruanda, que em quase 30 anos se transformou num lugar onde 800 mil pessoas foram mortas em 100 dias por ser da tribo errada para ser uma espécie de "Singapura de África". Estão no meio de projetos enormes, desde ligações ferroviárias até ao Índico - pela Tanzânia e Quénia - até à construção de um novo aeroporto, passando por outras infraestruturas, para atrair o turismo de massas para um país... que não tem mar, por exemplo. 

Contudo, o governo local está na disposição de financiar o projeto de uma pista de Classe 1, provavelmente desenhado pelo arquiteto do costume, Hermann Tilke, mas tudo isso está numa fase muito inicial. 


Marrocos tem uma pista, em Marrakesh, que já recebeu a Formula E, e é semipermanente, que poderia ser remodelada e apetrechada para categoria 1 da FIA, mas por agora, não há planos para esse sentido. E recentemente surgiu a proposta de um lugar inesperado: a ilha de Zanzibar, no Índico.

Segundo conta o site italiano sportface.it, o governo local e a ZIPA, Zanzibar Investment Promotion Authority, está disposto a investir até 500 milhões de dólares num complexo turístico na ilha, que teria um circuito dentro desse complexo, que teria, entre outras coisas, hotéis, edifícios de escritórios e de habitação. Salim Turky, parlamentar da tanzaniano, que também é o vice-porta-voz do projeto, destaca que “[isto] vai ser um divisor de águas, não pela corrida em si, mas porque vai trazer África e Zanzibar para o palco mundial do turismo e serviços”. E já atraiu para o projeto o ex-piloto da Jordan, Benetton e Ferrari, o italiano Giancarlo Fisichella

Contudo, eles são os primeiros a admitir que o projeto ainda está na sua fase inicial, e que demorará entre quatro e sete anos para ter tudo - ou boa parte de tudo - completo. 

Portanto, o regresso a África da Formula 1 poderá ser, pelo menos até ao final da década, algo que poderá ser mais desejo do que realidade. E sabe-se-lá que mais obstáculos não aparecerão até que tal desejo aconteça. Porque vontade, até que existe. 

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