Uma semana depois dos acontecimentos no Estoril, máquinas e pilotos deslocavam-se para o desolado Autódromo de Jerez de la Frontera, onde a Ferrari só alinhava com um carro para esta corrida, cumprindo o castigo que Nigel Mansell tinha sido punido por ter desobdecido à ordem de parar, e ter colocado Ayrton Senna fora de caminho. Mansell protestou a suspensão, ameaçando até retirar-se da competição de forma imediata, mas o bom senso apossou-se dele e obedeceu à sanção. Nesta corrida espanhola, Senna tinha uma unica chance, muito longa e quase impossivel de impedir que o campeonato caisse nas mãos de Prost: vencer as três provas que faltava, pois ainda beneficiava da regra dos onze melhores resultados, algo que não iria acontecer a Prost, que devido à sua regularidade, iria deitar pontos fora. Independentemente disso, esta era uma tarefa digna de Jim Phelps, o homem da Missão Impossivel...
Entretanto, no enorme pelotão da Formula 1, a Rial, do volátil Gunther Schmidt, trocava de pilotos. O alemão Christian Danner foi substituido pelo suiço Gregor Foitek, que tinha corrido anteriormente pela Eurobrun. Foitek não melhorou muito mais a situação da equipa alemã, e para piorar as coisas, o piloto suiço sofreu um forte embate contra os rails, devido a uma quebra no aerofólio traseiro, quase no mesmo sítio onde um ano mais tarde, o irlandês Martin Donnely terá o seu grave acidente, que acabou com a sua carreira na Formula 1. Mas desta vez, e para alivio de todos, Foitek saiu incólume.
Na pré-qualificação de sexta-feira de manhã, para surpresa de alguns, os Osella de Piercarlo Ghinzani e Nicola Larini conseguiram passar, acompanhados pelo Larrousse de Philippe Alliot e pelo Onyx de J.J. Letho, que conseguiu ser mais rápido do que o do seu companheiro Stefan Johansson, que tinha conseguido um pódio na corrida anterior, e o Larrousse de Michele Alboreto, que não conseguiram a qualificação.
No final de ambas as sessões de treinos, o melhor foi o McLaren de Senna, com Gerhard Berger, no seu Ferrari, a seu lado. Alain Prost era o terceiro, com o Minardi de Pierluigi Martini a aproveitar a boa onda e a qualificar-se na quarta posição da grelha. Na terceira fila estava o Larrousse de Alliot, que tinha a seu lado o Williams-Renault de Riccardo Patrese. Na fila a seguir estavam Nelson Piquet, no seu Lotus-Judd, e o Brabham-Judd de Martin Brundle, e na quinta fila, para fechar os dez primeiros, estava o jovem Jean Alesi, no seu Tyrrell-Cosworth, e o Benetton de Emmanuele Pirro.
Três pilotos falhavam a qualificação. Para além dos dois Rial de Foitek e Pierre-Henri Raphanel, o Ligier de René Arnoux também não conseguia ficar entre os 26 pilotos que faziam então parte da grelha de partida.
Apesar de uns ameaços de chuva na hora anterior à partida, a corrida começa com tempo seco. Senna parte na frente, seguido de Berger e Prost. A meio do pelotão, Ivan Capelli e Satoru Nakajima colidiam, com o japonês a abandonar e o italiano da March a perder cinco voltas com o incidente. À medida que as voltas eram cumpridas, via-se a longa fila de carros, numa corrida longa e extenuante, dado a sinuosidade do circuito. E não havia grandes emoções na frente, apesar dos problemas que Berger sofria no seu motor, especialmente quando curvava à esquerda. Mas nada de demais existiu nessa corrida, com a excepção de uma troca tardia de Patrese, que perdeu o quarto lugar em favor de Alesi.
No final da corrida, Senna tinha cumprido a sua missão, com Berger em segundo e Prost em terceiro. Nos restantes lugares pontuáveis ficaram Alesi, Patrese e Alliot, dando à Larrousse e à Lamborghini o seu primeiro ponto do ano. Agora máquinas e pilotos arrumavam os seus carros e preparavam-se para correr dali a três semanas, no circuito japonês de Suzuka. Sabia-se que aquela iria ser a etapa decisiva do Mundial, mas desconhecia-se então até que ponto aquela corrida iria ser marcante naquele ano, e na história da Formula 1...
Fontes:
Santos, Francisco - Formula 1 1989/90, Ed. Talento/Edipromo, Lisboa/São Paulo, 1989.
http://en.wikipedia.org/wiki/1989_Spanish_Grand_Prix
http://www.grandprix.com/gpe/rr482.html
3 comentários:
Olha que gafe, a bandeira brasileira totalmente fora dos padrões!
Só uma correção: para ser campeão Senna tinha que vencer as três últimas, mas não precisava contar com um deslize de Prost. A regra dos 11 melhores resultados ainda valia e beneficiaria Senna, que tinha quebrado muito.
3 segundos lugares não bastavam para Prost se Senna vencesse as três corridas.
Danilo:
Obrigado pelos esclarecimentos. De facto, os anos passam e as minhas lembranças dessa altura começam a esbater, e os livros que tenho usado para suportar (e relembrar) esse tempo não foram grande ajuda neste caso em particular. Sabia que o Senna tinha de ganhar as corridas, mas tinha me esquecido que o Prost não poderia ter qualquer influência no resultado em termos de tabela. Provavelmente se explica o incidente de Suzuka...
Já agora, Danilo: seja de novo bem vindo. Há eras que não o vejo por estas bandas!
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