Mesmo com todos os olhos no Mundial de 2010, que agora está na sua recta final, com a Holanda e a Espanha a decidiram quem fica com o primeiro lugar, o automobilismo continua a decorrer, com o novato Rali da Bulgária e o GP da Grã-Bretanha num Silverstone renovado. Mas mais do que ver o mundo inteiro a olhar para as TV's para ver quem é a melhor equipa do mundo e comparar com as previsões feitas pelo polvo Paul na véspera, o grande assunto da semana torna-se na 13ª vaga para 2011.
Ontem, a ART, equipa de Frederic Vasseur e Nicolas Todt, anunciou que iria abdicar da candidatura para 2011, afirmando que não tinha financiamentos sólidos para prosseguir com o projecto. Isto foi encarado como um golpe duro nas pretensões da FIA, pois via-se que a ART era a melhor candidatura, nem que fosse pelo facto de um dos proprietários ser o filho do patrão da FIA. Pensa-se que agora a vaga fica à mercê da espanhola Epsilon Euskadi, de Joan Villadelprat, mas os "insiders" de plantão dizem à boca cheia que eles também estão para atirar com a toalha ao chão, somente faltando o anuncio oficial.
De facto, o timing do anuncio, que está previsto para meados deste mês, não calha bem para as novatas, pois terão pouco tempo para projectar e desenvolver um chassis decente para 2011, que ainda por cima tem algumas novas regras, desde o regresso do KERS até às asas móveis, uma controversa opção aerodinâmica. Mas para piorar as coisas, a actual crise internacional fez fechar as bolsas de muitos investidores, principalmente os de risco. Com a economia a recuperar lenta e fragilmente, o tempo não está bom para aventuras.
Restam outras candidaturas. Uma delas é a americana Cypher, que tem alguns elementos da nado-morta USF1. Trabalha-se para ela, e um dos insiders, James Allen, fala que eles poderão ter o apoio do Grupo Playboy. Isto faz-me franzir o sobrolho, pois é publico que as coisas não andam muito bem para a empresa nos Estados Unidos, com vendas a descer e prejuizos constantes. É certo que a crise é geral na imprensa, que está em autêntica mutação, mas neste caso especifico, a coisa vem de trás.
Quanto às outras hipóteses em cima da mesa, como a Stefan GP e a Durango, não são para serem levadas a sério.
Passando disto para as três novatas, resultado da controversa decisão de "Mad Max" Mosley em meados de 2009, verifica-se que somente a Lotus tem pernas para andar. Estas três concorrem para o ambicionado décimo lugar da classificação dos construtores, que dá direito a um substancial desconto nas deslocações e nos dinheiros da TV dados por Bernie Ecclestone. O projecto da Lotus malaia é bem sustentado e planeado a médio, longo prazo, e as evoluções demonstram que estão no bom caminho.
Quanto às outras duas equipas, os rumores são muitos. Desde o possivel abandono de Richard Branson e do Grupo Virgin no final da temporada até à troca de pilotos na parte final da época, no sentido de completar o orçamento e pagar aos fornecedores, isso demonstra que a ideia de Max Mosley em cortar nos custos saiu pelo tacto acima. A Formula 1 é uma modalidade caríssima, que se sustenta graças aos direitos televisivos, cada vez mais caros (a cada ano que passa, mais e mais países tem as corridas difundidas em canais pagos), numa espiral que sofre em tempos de crise.
Por isso que digo que colocar uma equipa na Formula 1 é como assinar um pacto com o Diabo. Investir cem milhões de euros para não fazer figura de urso não lembra a ninguém, especialmente quando se tem outras modalidades que, com a mesma exposição televisiva, saem mais baratos. O futebol é um bom exemplo. Com esses mesmos cem milhões de Euros se constroi na Europa um plantel capaz de disputar a final da Liga dos Campeões, caso tenham um bom treinador... é por isso que os "sheiks" árabes e os oligarcas russos perferem comprar uma equipa falida na Premier League ou na La Liga espanhola e tentar ganhar o título nacional nesses países. Mesmo um Roman Abramovich sabe onde conseguir mais lucro.
No cômputo geral, esta escalada de custos, mesmo contida nestes tempos de crise, estará um pouco mais solta quando voltarem o tempo das vacas gordas. Não creio que a 13ª vaga será preenchida em 2011. Aliás, creio até que no final do ano poderemos não ter uma equipa. Claro, quando digo isso, todos pensarão na Hispânia...
Mas vou um pouco mais longe. Voltem para o final de 2008, no momento em que a Honda anunciou que iria abandonar o barco. Imaginem que Ross Brawn e Nick Fry não conseguiam o acordo de "management buyout" e não viamos em acção o excelente BGP 001. Mais do que não ver Jenson Button campeão do mundo, iriamos ver uma grelha de 18 carros a alinhar em Melbourne. E imaginemos ainda que a Toyota e a BMW sairiam nesse final de 2009, e os alemães não entregariam as instalações ao seu dono, Peter Sauber. E para piorar as coisas, a Renault decidisse pura e simplesmente tirar o tapete?
Neste ano de 2010 teriamos visto, na pior das hipóteses, uma grelha de seis equipas, doze carros. Algo que arruinaria o negócio e provavelmnente teria sido o prego final do caixão de Bernie Ecclestone e Max Mosley, mas do que as brigas da FIA-FOTA e subsequentes. Provavelmente, diriamos que a crise económica e a aposta unica em construtoras, negligenciando os garagistas, teria sido uma boa razão para o "final" da Formula 1. Mas o verdadeiro culpado são os custos de construir e manter uma equipa. Foram, são e serão sempre altos, porque a tecnologia para os construir é, foi e continua a ser cara. Mais do que artificializar, colocando um tecto orçamental, como queria Max Mosley, o melhor caminho para baixar os custos deveria ser um embaratecimento dos materiais para construir um carro de Formula 1.
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