Sobre a polémica desta tarde e as suas consequências

Depois do incidente desta tarde, em que o Felipe Massa cedeu a liderança a favor de Fernando Alonso, e deu à Ferrari a sua segunda vitória do ano, a FIA mandou chamar os pilotos da marca, bem como os seus responsáveis, a começar por Stefano Domenicalli, para que justificassem tal medida, para saber se eles violaram o famigerado artigo 39.1, que "proíbe ultrapassagens entre membros da equipa que influenciem o decorrer da corrida". Depois de ouvidas ambas as partes, decidiu-se que iria ser aplicada uma multa de cem mil dólares à Scuderia do Cavalino Rampante e que iria ser convocada uma reunião do Conselho Mundial, em Paris, em data a anunciar, para que a Ferrari possa apresentar a sua defesa.

Sinceramente, não acredito muito numa penalização desportiva, por uma boa razão: os resultados desportivos desta tarde não foram suspensos. Se existisse um risco de desclassificação, tal teria acontecido. Em suma, não direi que este é um dia negro para a Formula 1, mais sim mais um dia de cão.

Eu sei que fui duro com o que se passou e com o gesto do Felipe Massa. Sei que muitos criticam aquela frase que coloquei no Twitter, que a Alessandra Alves citou na rádio. Respeito as vossas opiniões, reconhecendo até que fui demasiado duro em relação ao Felipe, ao comparar os acontecimentos de hoje com os de há pouco menos de um ano, em Budapeste.

Mas tem de entender uma coisa: eu hoje sou um homem muito zangado com toda esta fantochada. Pois sou daqueles de "antigamente", que cresceu a acreditar no automobilismo havia cavalheirismo e no "fair-play" britânico, que os duelos eram limpos e leais, e qualquer combinação de resultados seria no minimo desonrosa e socialmente inaceitável. Que provavelmente perfere ver heróis mortos a cobardes vivos. É por isso que digo que a reputação e a confiança é algo que demora anos e se conquista a pulso, e bastam alguns segundos para ser destruida. E hoje fui defraudado.

Para mim, se o Massa quiser recuperar a confiança, deveria sair imediatamente da Ferrari, para que esta possa ir buscar o Giancarlo Fisichella. E perfiro a ele porque acho o Luca Badoer demasiado pífio para estar num Formula 1. Ou então, para deixar os pratos limpos perante todos nós, fãs e jornalistas e demais observadores, é assumir que é o segundo piloto da Scuderia e que vai cumprir, qual cão fiel e obediente, o contrato até 2012. E que de quando em quando, lá terá de engolir uns sapos, a favor do "Principe das Asturias", a bem da Nação Ferrarista.

Andei esta tarde a ler os tweets do Stirling Moss, e via-se que, mais do que desiludido, era um homem muito zangado com tudo isto. E tem razão: como é que posso respeitar, defender esta modalidade que tanto gosto, se as equipas como a Ferrari, ainda por cima a mais antiga e vitoriosa da Formula 1, viola as regras e safa-se com meras multas milionárias?

Às vezes dou por mim a comparar a Formula 1 com o boxe, uma modalidade que sabemos que existe, mas que hoje em dia está quase escondida, com a carga de transmissões pagos a peso de ouro, em combates transmitidos em mecas do jogo como Las Vegas. E o mais engraçado é que uma das razões para que o boxe está hoje onde está foi devido aos arranjinhos e resultados combinados pela Máfia, entre outros, que contaminaram a reputação desse desporto ao longo do século XX. Até ao incidente de Zeltweg, eu não dizia que a Formula 1 fosse um desporto contaminado por esse tipo de combinação, e depois dela, foi muito duro afastar essa nuvem, do qual o "Singaporegate" ou "Nelsinhogate" não ajudou muito. Mas começo a pensar que dizer este não é um desporto contaminado, é como remar contra a maré...

Em suma, a multa de cem mil dólares e a chamada da marca ao Conselho Mundial, que se vai reunir de modo extraordinário para analisar as atitudes da marca de Maranello nesta tarde, não foi mais do que um mero cumprimento de regulamentos. Sei que queriam mais, mas vou esperar para ver. Se nada decidirem em relação ao cumprimento do artigo 39.1 dos regulamentos da FIA, transmite um péssimo sinal para o desporto, e provavelmente abrirá uma nova "Caixa de Pandora", ao qual as outras equipas tomarão nota disso. A tinta vermelha.