sábado, 31 de julho de 2010

O piloto do dia - Patrick Depailler (6ª parte)

(continuação do episódio anterior)

Por esta altura, Patrick Depailler começara a experimentar um novo desporto radical, a asa-delta. Sendo um homem que adorava desportos de ar livre, começou a aparecer frequentemente no Puy de Dome, o monte mais famoso da região de Auvergne, para praticar tal desporto. Numa das suas saídas, no inicio de Junho, a asa delta foi apanhada por uma forte turbulência e bateu forte na encosta da montanha, a mais de 50 km/hora.

Evacuado de helicóptero para o hospital de Clermont-Ferrand, as lesões eram extensas e graves: fracuras múltiplas em ambos os tornozelos e pernas, para além de ferimentos nos braços e pulsos. Para ele, a temporada de 1979 tinha chegado ao fim e tinha pela frente longos meses de operações e respectiva fisioterapia.

As criticas sobre este seu comportamento de risco voaram por todos os lados, e Guy Ligier, seu patrão, estava particularmente zangado. Sabia-se que ele para além da asa delta, Depailler era um ávido praticante de ski, mergulho, para além do motocross, que lhe causou o seu acidente de 1973, que lhe impediu de participar nas últimas corridas daquele ano. Ligier criticou abertamente tal comportamento, afirmando que tal estava proibido contratualmente, que o fez zangar profundamente a Depailler. Rebateu as criticas e pouco depois, Ligier despediu-o, invocando justa causa.

Ironicamente, o acidente demonstrou até que ponto estavam dependentes dele. Sem o seu “feedback” técnico, a equipa não conseguia evoluir de forma a acompanhar a Ferrari, e depois a Williams, após a segunda metade do campeonato. Mesmo os seus maiores críticos, como Jacques Laffite, que se queixava do facto da não existência de hierarquias era prejudicial, e claro, Guy Ligier, sentiram a falta de Depailler, mesmo sem o admitir abertamente.

Mas entretanto, ele tinha outras coisas com que pensar: tinha de salvar a sua carreira. As feridas tinham infectado e corria o risco de amputação. Foi transferido para Paris, onde esteve aos cuidados do dr. Letournel, a maior autoridade francesa sobre o assunto (que depois operou Didier Pironi nos três anos após o seu acidente de Hockenheim, em 1982) e ao longo dos meses, efectuou várias cirugias para reabilitar os ossos partidos de Depailler, que só pensava em voltar a correr, porque para ele, era a sua vida.

Entretanto, algumas equipas estavam a seguir os seus progressos. Williams e Renault estavam interessados nos seus serviços, mas na condição de segundo piloto, algo que Depailler claramente rejeitava. Mas a partir de Setembro de 1979, uma nova equipa entrava na equação. Era a Alfa Romeo, que nesse ano montava a sua própria equipa de Formula 1 com os italianos Bruno Giacomelli e Vittorio Brambilla nas suas fileiras.

Carlo Chiti, o homem por detrás da Autodelta, a estrutura que tomava conta da parte competitiva da marca de Varese, estava interessado nos seus conhecimentos técnicos, e correu riscos ao perguntar se queria correr para eles na temporada de 1980. Depailler, na véspera de uma importante operação para a reconstrução dos ligamentos do tornozelo, aceitou, sem saber se iria voltar a correr. Felizmente para ele, a operação correu-lhe bem, e no mês seguinte, Depailler saia do hospital para uma série de longas e intensas sessões de fisioterapia, numa corrida contra o tempo, pois a primeira corrida do ano iria acontecer na segunda semana de 1980, em paragens argentinas.

No final de Dezembro de 1979, deu as primeiras voltas no novo carro em Paul Ricard, e apesar de se sentir ainda pouco confortável, o grande objectivo tinha sido alcançado: correr num Formula 1.

Alguns dias depois, Depailler, ainda com a ajuda de canadianas, estava em Buenos Aires a bordo do modelo 179 da Alfa Romeo, adaptado ao regulamento de 1980. Ainda desconfortável, não sabia se iria adaptar-se ao novo carro, e se iria aguentar fisicamente todo o esforço do fim de semana. Felizmente, apesar de alinhar na 23ª posição da grelha de partida, não estava longe do seu companheiro Giacomelli, e mais para além disso, tinha alcançado nova vitória pessoal, o de conseguir alinhar numa corrida. E ia conseguindo terminá-la, quando a sete voltas do fim, quando rolava no sétimo posto, o seu motor desenvolveu uma fuga de óleo e terminou a sua corrida. Era uma nova vitória para ele, apesar de não ter terminado a corrida. Mas para a sua auto-estima, era uma das suas melhores vitórias, pois agora podia concentrar noutros objectivos, e um dos quais era o de desenvolver e tornar competitivo o carro que tinha nas suas mãos.

No Brasil, o carro continuava pouco competitivo e Depailler não chegou ao fim, devido a problemas com a dirigibilidade do seu carro. Mas ele continuava a ganhar quilómetros preciosos com o seu carro e a começar a entender onde é que podia melhorar o chassis. Quando chegaram à África do Sul, palco da terceira corrida do ano, o chassis era 30 quilos mais leve, e o triangulo da suspensão tinha sido redesenhado, graças ás sugestões do francês. E os resultados na grelha não se fizeram esperar, ao conseguir o sétimo melhor tempo. Contudo, isso não serviu de nada na corrida, quando o motor começou a falhar por várias vezes e não fez mais do que 53 das 78 voltas previstas, terminando não classificado.

Quando Depailler colocou o seu carro no terceiro lugar da grelha, na qualificação do GP dos Estados Unidos Oeste, em Long Beach, todos os observadores reconheceram que Depailler estava totalmente reabilitado e de volta aos velhos dias. Agora o seu objectivo era de fazer com que o carro se tornasse mais fiável, mostrando que os bons resultados nos treinos tinham repercussão na corrida.

Na partida, Depailler saltou para o segundo posto, e lá ficou até à volta 18, quando foi ultrapassado por Alan Jones. Pouco depois, fora ultrapassado por Gilles Villeneuve, no seu Ferrari, mas conseguia permanecer no quarto posto até à volta 40, quando bateu no muro de concreto e abandonou a corrida com a suspensão danificada.

Em Zolder, as coisas não correram bem, mas ele tinha esperança que no Mónaco, o seu circuito favorito, as coisas poderiam ser diferentes. Sétimo na grelha, saltou para o quinto posto no final da primeira volta e pouco depois subiu ao quarto, e depois ao terceiro lugar. A partir dali lutou com Jacques Laffite, seu ex-companheiro na Ligier, pelo pódio até que na volta 50, na zona das Piscinas, o seu motor rebentou.

Com a Alfa Romeo a falhar a corrida de Jarama devido aos conflitos entre a FISA e a FOCA, a prova seguinte seria o GP de França, no inicio de Julho. Nos treinos, Depailler perde o controlo do seu carro a 235 km/hora na saída de Signes, a curva mais rápida do circuito, saindo ileso devido ao facto das redes de protecção terem conseguido segurar o Alfa Romeo. Na qualificação, conseguiu o 11º tempo e andou em luta com Gilles Villeneuve pelo sétimo posto até que um amortecedor estragado o obrigou a abandonar na 25ª volta.

Logo a seguir, a equipa estava a correr em Brands Hatch, palco do GP da Grã-Bretanha. Com um novo chassis, Depailler estava a ter dificuldades em se adaptar com ela devido aos problemas de alimentação do motor. Para piorar as coisas, sofre uma nova saída de pista em Clearways, uma curva em alta velocidade. Mas mesmo assim, conseguiu o suficiente para fazer o oitavo tempo na grelha.

Na prova, cedo sobe para o sexto posto, mas na volta 21 vai às boxes mudar de pneusm, que o fazem cair para o penúltimo posto. Na volta 24, Depailler vai às boxes devido a problemas no seu carro. Quando os mecânicos abrem o chassis, descobrem uma válvula partida e a sua corrida terminava ali.

Com a temporada de 1980 a meio, a Alfa Romeo tinha conseguido apenas dois pontos, resultantes de um quinto lugar de Giacomelli na Argentina. Quanto a Depailler, apesar dos bons resultados nos treinos, não conseguia acabar em nenhuma das corridas, demonstrando que estava a lidar com um carro pouco fiável. E para piorar as coisas, tinha sofrido dois despistes a alta velocidade, em duas corridas consecutivas. Se sabia de algo sobre a inabilidade do Alfa de fazer curvas a alta velocidade, preferiu nada dizer e partir para 15 dias de férias no Arquipélago dos Açores, onde em conjunto com a namorada Valerie e o seu amigo Francois Guiter, gozou do sol e dos prazeres da caça submarina, e esqueceu dos problemas da Alfa Romeo. Porém, a 1 de Agosto, estava de volta ao trabalho, para preparar o GP da Alemanha, no veloz circuito de Hockenheim.

(continua)

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