terça-feira, 27 de julho de 2010

O piloto do dia - Patrick Depailler (2ª parte)

(continuação do capitulo anterior)

A temporada de 1972 na Formula 2 europeia começa com uma vitória em uma das mãos da corrida de Hockenheim, marcada pelo acidente fatal do neozelandês Bert Hawthorne nos treinos. Patrick Depailler acabou por desistir na segunda corrida devido a problemas mecênicos. Em Pau, terminou num segundo lugar, após uma batalha épica com o britânico Peter Gethin ao longo das 70 voltas da corrida, terminando com os dois separados por 0,9 segundos. Ambos deram… duas voltas ao terceiro classificado, o britânico David Purley.

Uma semana mais tarde, estava a bordo do seu Alpine A364 de Formula 3 no GP do Mónaco. Depailler, já veterano da Formula 3, dominou totalmente ambas as mangas da corrida, a segunda das quais debaixo de intensa chuva, com mais de dez segundos de diferença sobre o segundo classificado. A vitória nas ruas do Mónaco seria uma das mais importantes da sua carreira pré-formula 1, mas… não era para estar aqui. Inicialmente, deveria ter sido o seu companheiro e amigo Jean-Pierre Jabouille a pegar no carro nas ruas do Principado, enquanto que ele deveria correr em Hockenheim, algum tempo antes. Contudo, ficara doente com hepatite, e não recuperou a tempo de correr na pista alemã, fazendo com que ele corresse no seu lugar. Assim, Depailler correu no Mónaco e conseguiu uma vitória categórica.

Depois disto, o passo seguinte foi a Formula 1. Francois Guiter, o homem da Elf, e John Coombs, o dono da equipa na Formula 2, trataram de convencer Ken Tyrrell, apoiado pela Elf e amigo pessoal de Coombs, para conceder uma chance a Depailler. Tyrrell acedeu a e aus estreia foi marcada para o GP de França, que nesse ano iria acontecer… em Clermont-Ferrand, a sua terra natal.

Até lá, correu em algumas corridas de Formula 2, sem resultados de relevo, e a sua estreia aconteceu com um chassis 004, usado como “muleto” para Jackie Stewart e Francois Cevért. Depailler achou excitante começar a sua carreira na Formula 1 na sua pista natal, e teve uma prestação meritória na qualificação, ao conseguir o 13º lugar na grelha. Contudo, uma má escolha de pneus, aliado às várias pedras que existiam no circuito, que causaram demasiados furos entre os pilotos, fez com que Depailler furasse por duas vezes ao longo da corrida e acabasse a cinco voltas do vencedor, Jackie Stewart. Contudo, o seu espírito guerreiro ganhou a atenção de Tyrrell, que lhe prometeu uma nova oportunidade mais tarde na temporada.

Até lá, correu no campeonato de Formula 2, onde conseguiu um quarto lugar em Zeltweg, no Jochen Rindt Memorial Trophy, vence em Enna-Pergusa, foi segundo em albi, conseguindo a volta mais rápida da corrida. No final da época, tinha terminado no quarto lugar do campeonato, ganho pelo britânico Mike Hailwood, no seu Surtees oficial.

Como prometido, no final do ano, Ken Tyrrell lhe concedeu nova oportunidade de guiar o terceiro carro da equipa. A oportunidade foi concedida em Watkins Glen, local onde decorria o GP dos Estados Unidos. Foi um fim de semana onde os Tyrrell dominaram, com Stewart e Cevert a fazerem a dobradinha, e Depailler, que arrancara de um 11º posto na grelha, fez uma corrida consistente, terminando no sétimo lugar da geral.

Apesar de tudo, em 1973 Coombs pediu a Depailler para que ficasse mais uma temporada na Formula 2, no sentido de preparar o ataque ao campeonato, em vez de procurar um lugar ou comprar um chassis de Formula 1. Foi uma temporada consistente, onde esteve sempre nos lugares da frente, com uma vitória em Nurburgring e quatro segundos lugares em Hockenheim, no circuito sueco de Kinekulle, em Monza e em Salzburgring, terminando o ano no terceiro lugar do campeonato, atrás de Jochen Mass e do seu compatriota Jean-Pierre Jarier.

Estas performances eram mais do que suficientes para que tivesse esperanças de correr na Formula 1 em 1974, em princípio na Tyrrell. Por essa altura, haviam fortes rumores de que Jackie Stewart iria retirar-se no final da época e que a Elf queria uma dupla totalmente francesa nessa temporada, com Depailler ao lado de Francois Cevért. Contudo, Tyrrell tinha a ideia de contratar o sul-africano Jody Scheckter, então o terceiro piloto da McLaren e começara a sua carreira com reputação de ser um piloto demasiado rápido e demasiado perigoso, já tendo causado uma gigantesca carambola na partida do GP da Grã-Bretanha, em Silverstone. Para tirar todas as dúvidas, Ken Tyrrell ofereceu o terceiro carro para as corridas de Mosport e Watkins Glen, palco respectivamente das corridas do Canadá e Estados Unidos.

Mas no inicio de Setembro, quando recreava nas colinas de Clermont-Ferrand um passeio de motocross, o desastre acontece. Um embate contra uma árvore o fez partir a perna esquerda em dois sítios, abaixo do joelho, obrigando a um logo período de convalescença. Isso foi um golpe profundo nas suas esperanças de correr naquela temporada pela Tyrrell, para além dos seus apoiantes na Elf terem ficado zangados, porque acharam que tal comportamento tinha sido irresponsável. Contudo, em compensação, algumas semanas depois do acidente, era pai de um menino, a que o casal chamou de Löic Depailler.

Contudo, mesmo em tempos de azar, o destino sorriu-lhe à sua cara. Ken Tyrrell decidiu contratar Scheckter para secundar Cevért, mas quando este morre na manhã de 6 de Outubro, durante a qualificação para o GP dos Estados Unidos, precipitando a retirada do piloto escocês, sem que este cumprisse aquilo que viria a ser o seu centésimo Grande Prémio, a Elf decidiu logo a seguir fazer “lobby” a Tyrrell para que este aceitasse Depailler como substituto de Cevért. Mas o “Tio Ken“ não era um homem que fosse “convencido” e a única coisa que fez foi conceder um teste a Depailler para ver se era capaz de merecer o lugar vago.

Assim, Depailler passou todo o Outono de 1973 num trabalho intensivo de reabilitação da sua perna lesionada, fazendo várias saídas em Clermont-Ferrand, a bordo de um Renault 8 de competição. Em Dezembro, ele foi a Paul Ricard, ainda de muletas, para dar algumas voltas no Tyrrell 006, e ele ficou convencido, dando-lhe o tal ambicionado lugar. E assim, o ano de 1974 iria ser a primeira temporada a tempo inteiro na Formula 1. E já não era sem tempo, pois ele já tinha 29 anos de idade.

Contudo, quando a Formula 1 embarcou em Buenos Aires para correr o GP da Argentina, Depailler ainda precisava de muletas para se deslocar. Era o segundo piloto da equipa, tinha dificuldades em se expressar em inglês com os engenheiros e com o próprio Tyrrell, mas estava mais determinado do que nunca em se dar bem na Formula 1. Nas primeiras corridas, a equipa iria usar os modelos 006, já que o novo 007 só estaria disponível em Jarama, na primeira corrida europeia. Foi uma corrida com alguma sorte à mistura, pois aproveitou duas desistências tardias para terminar no sexto posto e conseguir o primeiro ponto da sua carreira. Na África do Sul terminou no quarto lugar, colando ao terceiro, o McLaren de Mike Hailwood, indicando que as coisas até começavam bem, já que ele tinha quatro pontos, contra zero do seu companheiro Scheckter.

Entretanto, Depailler corria na Formula 2, pela March Racing, com o apoio da Elf. Em Monjuich, alguns dias antes da corrida sul-africana, terminara a corrida no segundo posto, e algumas semanas mais tarde, em Pau, dominara todo o pelotão da Formula 2, batendo-os à chuva e dando quase… duas voltas de avanço sobre eles. Com esta vitória, era um verdadeiro candidato á vitória ao campeonato.

Quando o novo chassis ficou pronto, em Jarama, palco do GP de Espanha, no final de Abril quem teve o direito de o guiar fora Scheckter, e Depailler ficara com o velho 006, que era demasiado nervoso de guiar e apresentava demasiadas dificuldades em se manter competitivo em situação de corrida. Acabou-a no oitavo posto enquanto que o seu companheiro de equipa conseguia os seus primeiros pontos da temporada (e da sua carreira), um quinto lugar.

Depailler teve a chance de ter o novo chassis em Nivelles, palco do GP da Bélgica. As performances foram boas, mas quando rolava na quinta posição, o pedal do travão se partiu e foi obrigado a abandonar. No Mónaco, um dos seus circuitos favoritos, deu nas vistas e conseguiu superar o seu companheiro, sendo quarto na grelha. Contudo, a prestação nos treinos foi a única coisa positiva nesse fim de semana, poi nas volta de aquecimento, os mecânicos detectaram um vazamento no depósito de combustível, que o fez obrigar a largar com o carro de reserva, e na última posição. Contudo, sem nada a perder, no seu típico estilo determinado, deu o seu melhor, mas não foi além de um nono lugar, após uma paragem mais prolongada do que o habitual.

Quando as máquinas e os pilotos chegaram a Anderstorp, palco do GP da Suécia, a Tyrrell de repente se viu nos lugares da frente. E Depailler conseguia superar Scheckter mais uma vez… conseguindo a pole-position! Com Scheckter ao seu lado, a corrida foi um passeio para os dois pilotos. Mas no momento da largada, o sul-africano foi melhor a partir e tomou o comando. Com Ken Tyrrell a vetar qualquer batalha entre os dois pelo primeiro lugar, era Scheckter que acabaria a corrida como vencedor, a primeira da sua carreira. Quanto a Depailler, conseguia o seu primeiro pódio e a volta mais rápida.

Em Zandvoort, Depailler fez também uma boa corrida, mas a partir da segunda metade, quando rolava no terceiro lugar, começou a sofrer de problemas de sobreviragem, fazendo com que caísse na classificação geral, até ao sexto lugar. A partir daqui teve uma série de maus resultados, a pior dos quais foi uma desistência na Áustria, causada por exaustão, devido ao calor que se fazia sentir nessa altura. No final da corrida, ele e Tyrrell discutiram, com este a ameaçá-lo de despedimento caso voltasse a repetir a “gracinha”. Só voltou a pontuar em Mosport e em Watkins Glen, terminando o ano com 14 pontos e o nono lugar na classificação.

E por essa altura tinha conseguido outro objectivo: tinha sido campeão europeu de Formula 2. Depois da vitória em Pau, conseguira mais vitórias em Mugello, no circuito sueco de Karlskoga, em Hockenheim e Vallelunga, nos arredores de Roma, batendo o seu maior rival, e companheiro de equipa, o alemão Hans-Joachim Stuck.

(continua)

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