Pessoalmente, o motociclismo atrai-me pouco. Como é óbvio, tenho consciência do impacto de Valentino Rossi na Moto GP, como é obvio, e sei perfeitamente que há um GP de Portugal todos os anos, no velhinho Autódromo do Estoril, no qual aparecem sempre cerca de 50 ou 60 mil pessoas para o ver correr.
Pessoalmente, também, nunca gostei muito de motas. Só conduzi umas duas ou três vezes na vida, e nunca em competição ou algo assim. Sei que são muito mais frágeis do que os automóveis, e como desde cedo me apaixonei pelas competições em quatro rodas, a minha relação com as motas foi menorizada. E também sei que é porque os que conduzem dicam numa situação mais frágil que os que escolhem as quatro rodas como meio de deslocação do ponto A para o B.
Sei que os pilotos do motociclismo estão numa posição mais frágil do que o automobilismo. Quando vejo o Dakar, por exemplo, sei que estão protegidos por um capacete, umas protacções nas pernas, nos braços e nada mais. Ao cair, podem fraturar pernas, pescoços, pés e sabe-se lá o quê. Grande parte das mortes e dos acidentes graves no Dakar devem-se aos motociclistas. Mas nas pistas é algo que acontece pouco, felizmente. A última morte no Moto GP foi em 2003, com o Daijiro Katoh, um excelente piloto, vencedor na categoria de 250 cc e que morreu no inicio da temporada, em Suzuka.
Às vezes, nas outras categorias, como as Superbikes, vejo outros acidentes graves. Ainda recordo bem do acidente mortal do Craig Jones em Brands Hatch, em 2008, atropelado por outro motociclista quando caiu na pista. Essa é a pior parte para um piloto: cair na pista imediatamente antes de outro piloto. O atropelamento subsequente é das cenas mais horiveis que se pode assitir. É semelhante a um piloto se despistar e ficar na trajectória de outro carro e este não poder fazer nada para evitar o embate. O impacto é horrivel e até nós encolhemos, institivamente, porque sentimos à distância, as dores do outro.
O acidente mortal do jovem piloto japonês Shoya Tomizawa, de apenas dezanove anos, acontece numa altura complicada. Uma semana antes acontecera, numa das provas laterais do GP dos Estados Unidos, em Indianápolis, o acidente mortal de um rapazinho de 13 anos, Peter Lenz de seu nome, atropelado por outro piloto em pista após uma queda. Semelhante a de Jones. Semelhante, agora, a de Tomizawa, esta manhã, quando caiu na pista e ficou na trajectória dos seus concorrentes, o sanmarinense Alex de Angelis e o britânico Scott Redding. Os seus multiplos ferimentos a nivel toráxico, craniano e abdominal foram, infelizmente, fatais.
Ainda por cima, Tomizawa corria na Moto2, a categoria que substituiu este ano as 250 cc, e do qual foi o primeiro vencedor, no Qatar. Neste ano, o segundo a tempo inteiro na categoria, tinha conseguido um começo incrivel, com dois pódios e duas pole-positions, sendo uma das maiores esperanças da categoria, vinda de um país que deu imensos talentos ao motociclismo de pista. Infelizmente, tudo terminou hoje.
O calendário tem destas coisas: faz hoje dezassete anos que Wayne Rainey teve o seu acidente que fez terminar abruptamente a sua carreira. E no mesmo sitio: Misano. O seu apelido nas pistas não podia ser contrastante: Mr. Clean, por ter um estilo de condução tão certinho que não cometia erros. E foi por isso que venceu três títulos mundiais, entre 1990 e 1992, e poderia estar a caminho de um quarto título, caso não tivesse tido o seu acidente. E agora, dezassete anos depois, uma fatalidade.
Certamente, os amantes da modalidade deverão odiar este dia.
1 comentário:
a ultima morte em Moto GP foi Marco Simoncelli em Sepang 2011
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