quinta-feira, 9 de setembro de 2010

5ª Coluna: filhos, enteados e algumas coisas mais

As previsões dos cinicos e dos não crentes confirmaram-se ontem á tarde. A FIA decidiu nada acrescentar à multa de cem mil dólares aplicada no final do GP da Alemanha pelas ordens da Ferrari, que ordenou a Felipe Massa para que deixasse passar o seu companheiro Fernando Alonso, violando o artigo 39.1 do Regulamento Desportivo. A ideia, defendida por certa imprensa inglesa, de que a FIA é a sigla para "Ferrari International Assistence" volta em força, como seria de esperar, e claro, pode-se dizer que a Ferrari pode dobrar os regulamentos, pois a pena a pagar é o preço de um modelo dos seus... usado.

Claro, como é obvio, a partir daqui pode-se dizer que a Formula 1 como desporto está "morto" e que a formula 1, como negócio, vive. Os regulamentos só servem para embelezar, ou simular que existem regulamentos, que todos simuladamente cumprem, ou não, e que uma equipa que tenha os seus dois carros na frente, pode decidir quem ganha, porque acima de tudo - e esse é o principal argumento dos cinicos e defensores das ordens de equipa - é que acima de tudo está a marca. Se assim fosse, mas valia abolir o Mundial de Pilotos, não?

Agora perguntam-me: se isto iria acabar assim, porque é que se reuniram na mesma? Houve mais coisas a serem decididas nesta reunião, e também são importantes para o automobilismo: a não inclusão de uma 13ª equipa para 2011 e o calendário para o próximo ano. Portanto, tinham de decidir alguma coisa, para que a reunião fosse considerada como produtiva... disso falarei mais abaixo.

O interessante no meio disto tudo é ler o comunicado da FIA sobre o artigo 39.1 em si e as reacções sobre esta decisão nos vários orgãos de comunicação, principalmente os "insiders". Alguns protestam, é certo e sabido, mas este caso mostrou uma "careca": esta lei, tal como está, não serve. E isso a FIA reconheceu, o que, mesmo sabendo que isto foi uma má decisão, pode haver consequências interessantes. A FIA decidiu establecer um grupo de trabalho sobre a história das ordens de equipa. E o que pode acontecer é que isso deixe de ser uma lei generalista para se tornar em algo mais especializado. Em suma: o regresso das ordens de equipa, com regras.

Se for esse caso, até podem ser positivas, desde que se respeite o espirito da Formula 1. O James Allen, no seu blog, defende a ideia que as ordens de equipa deveriam ser legais após 75 por cento da realização do campeonato, e desde que o seu companheiro de equipa tenha menos de 60 por cento dos pontos. Claro, isso não impediria, por exemplo, de definir quem seria o primeiro e segundo piloto logo no primeiro GP da temporada, mas se calhar poderia impedir algo tão obscenamente óbvio como o Austria 2002 e agora o Alemanha 2010...

Mas também deveria establecer um caderno de sanções. Casos desses, por exemplo, deveriam ter como pena a simples desclassificação dos pilotos e equipa e multa pesada, independentemente da equipa em questão. E aparentemente, existe outra mudança em breve, que outro insider, Joe Saward, conta no seu blog. A FIA está neste momento a estudar a ideia de um Tribunal Desportivo, um orgão separado do Conselho Mundial da FIA, e que iria julgar este tipo de casos. Um corpo independente das Federações e das equipas e marcas, constituidos por especialistas do Direito Desportivo. Soa a algo muito interessante...

No final, a decisão desta quarta-feira foi uma derrota para os amantes do automobilismo em geral e da Formula 1 em particular. Mas aparentemente, este caso pode ter desencadeado consequências maiores daquilo que nós pensavamos. E nem todas tem cara de serem negativas...

Sobre a 13ª equipa e o calendário para 2011

Como disse acima, finalmente a FIA decidiu sobre a 13ª vaga para a temporada de 2011, e o resultado já vinha a ser falado de forma não oficial desde o inicio da semana: a FIA não aceitou as candidaturas da espanhola Epsilon Euskadi e da italiana Durango. Há boas razões para a FIA ter decidido tal coisa, e que já se lia ao longo dos últimos meses: a falta de financiamento e o prazo muito curto para montar uma equipa, construir um chassis e montar um motor. E também fica-se com a ideia de que a entidade máxima do automobilismo via com melhores olhos a candidatura da ART, a equipa francesa co-dirigida por Nicolas Todt, o filho do presidente.

Mas também pode haver outra boa razão para esta decisão, para além das referidas: uma mudança de politica. No final de 2009, Lotus, Virgin, USF1 e Campos Meta foram aceites como arma politica de um Max Mosley em guerra com as outras equipas no sentido de controlar a Formula 1, a famosa batalha FIA-FOTA. E numa altura em que Mosley, que via fugir as construtoras devido à crise internacional, quis impor um tecto orçamental às equipas, impondo componentes de série, quase transformando a Formula 1 num troféu monomarca e monomotora. A história das novas equipas serem obrigadas a usar os motores Cosworth foi um desses casos.

Agora há um novo presidente, Jean Todt, e claro, nova politica. A contenção de custos pode ser conseguida de outras formas, e não há pressa para ter uma grelha alargada para 26 carros. Aliás, até Bernie Ecclestone agradece que pelo menos uma das novatas desapareça da grelha no final desta temporada. Pode não ser necessáriamente assim, mas há semanas correram rumores sobre a possivel compra dos activos da Hispania pela Epsilon Euskadi...

Para finalizar, a nova temporada. Pela primeira vez teremos vinte corridas numa só temporada, fazendo com que esta comece em meados de Março e acabe quase em Dezembro, algo incrivel. Tirando a folga de Agosto, vai haver vários meses em que haverá três corridas por mês. Até pode ser bom para espectadores, pilotos e construtores. É bom para os cofres de Bernie Ecclestone, pois é mais dinheiro que entra. Aliás, é o concretizar do sonho do Tio Bernie, pois há anos que quer um calendário de vinte corridas, boa parte delas fora da Europa, nos emirados ricos em patróleo... a novidade de 2011 será, claro, o GP da India, em Outubro. E o seu final será a 27 de Novembro, no circuito brasileiro de Interlagos.

Contudo, um calendário muito extenso pode não ser totalmente vantajoso para as equipas. A não ser que a FIA pague as despesas de todas as equipas, em vez das actuais dez, isto pode ser muito desgastante para os orçamentos das mais pequenas. Se a ideia é de as "enxotar" através de "incentivos" económicos, é mais um caso de morte lenta do que propriamente uma explusão. Mas acho que este calendário é muito grande, especialmente quando se passa metade da temporada fora da Europa. Veremos.

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