quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 69, Brands Hatch, a corrida - II)

(continuação do capitulo anterior)

Após a confirmação de que Van Diemen estava definitivamente afastado da corrida, Monforte começou aos poucos a acelerar o seu ritmo. Em pouco mais de cinco voltas, começa a ficar gradualmente perto dos escapes de Beaufort e logo de seguida, pressiona-o como forma de teste, para saber como ele reagiria a algo assim. O francês começou a sentir-se ameaçado, especialmente quando ele ficava suficientemente perto para ensaiar ultrapassagens, no entanto sem as concretizar. Este estranho bailado começava a perturbar o francês, e intrigava todos os que viam a corrida da boxe.

- Que raio anda ele a fazer? pergunta Arthur.
- Aparentemente, anda a provocar o Philippe, respondeu Pete.
- Com que objectivo.
- Fazer com que ele erre e fique com a liderança.
- E isso é possivel?
- Pode ser. Pode não dar em nada, mas nunca se sabe.

Este jogo do "gato e do rato" prolonga-se nas sete voltas seguintes. Ambos seguiam-se colados um no outro, e Philippe sentia-se acossado, estando numa posição contrária a aquele que tinha sentido no Mónaco, ,eses antes, quando pressionava Reinhardt para conseguir a tal vitória inesperada na última curva. Ele começou a perceber que estava a jogar no erro, e decidiu reagir, pressionando mais o acelerador.

- Este jovenzinho não me engana... vou tentar afastar-me dele, pensou Beaufort.

Mais atrás, Reinhardt ficava cada vez mais solitário, à medida que se livrava dos seus adversários que estavam na sua cauda, como Carpentier, Turner, Solana ou Kahola. Com o finlandês de lado após o seu acidente com Bernardini, Carpentier tivera um furo e estava também muito atrás, e era agora uma batalha pelo quarto lugar entre o veterano piloto britânico e o piloto mexicano da Apollo. Atrás desses dois, outros quatro pilotos lutavam pelo último lugar pontuável: o McLaren de Revson, o Jordan de Medeiros, o Apollo de De Villiers e o Temple-Jordan de Hocking. Estes quatro revezavam-se, sem que nenhum deles conseguisse descolar-se um do outro. O mais interessante de seguir era o brasileiro, na sua primeira corrida oficial de Formula 1, portava-se muito bem perante companheiros mais experientes.

Quando Beaufort e Monforte passam pela meta na volta 50, ambos estão colados um no outro, e o sildavo repara que as bandeiras foram tiradas do final da curva Druids, onde estavam os carros de Kahola e Bernardini. Vendo a situação pelo canto do olho, decidiu que iria atacar ali, caso estivesse mais próximo do Matra. Este não se conseguia afastar muito dele, e começava a ficar aflito por causa disso. Aquele jogo de espera estava a intrigar todos nas boxes, e Pete pensava alto:

- Onde é que tu vais atacar, Alex? Tem cuidado, não desperdices o segundo lugar.

Adrian Sherwood, o mecânico-chefe de Monforte, ouviu a conversa e perguntou:

- Ele está mais rápido que o francês, não?
- Está. Agora resta saber se ele vai facilitar. Estou a ver que e esperto. Espera pelo erro dele...
- Vai atacar?
- Pelos vistos, só quando for necessário. Ele está a ser mais rápido do que ele?
- Nem tanto, amdam os dois iguais.
- Então vai no ritmo dele, não no seu. Agora resta saber se está a puxar pelo carro. Dá sinal para que o tente passar, quero ver o que ele vai fazer.
- Mas deu instruções contra isso!
- Sei eu, mas quero ver como reage.

Sherwood vai buscar um painel onde colocará o sinal MON PASS, dando carta branca para o passar. Preparava-se para mostrá-lo no inicio da volta 53, mas quando ambos os carros saiam da Stirlings Bend e iam a caminho da Stoddard Curve, Beaufort falha a saida da curva, a conta de uma marcha mal metida, e Monforte reage, ultrapassando-o e tomando conta da liderança. Nesse instante, as reacções rápidas do piloto sildavo, bem como a desaceleração súbita do Matra pilotado pelo lider do campeonato, causavam comoção nas bancadas. Quando viu o carro, Sherwood mostrou a placa, mas já era um gesto inutil, pois a manobra tinha sido feita instantes antes. De dentro do cockpit, Alex viu a placa, sorriu e disse entre dentes:

- Já vem um pouco tarde, não?

Na cabina de comentário, Teresa não queria acreditar no que vira. A pessoa com quem tinha rompido ao telefone, horas antes, estava agora a lidera o GP da Grã-Bretanha, e fazia história no automobilismo sildavo e mundial. Tinha colocado as mãos à boca quando ouviu o anuncio aos microfones, sinal de incredulidade. Ao seu lado, um dos jornalistas amigos dela disse:

- O teu namorado vai na frente. Quem diria!

Ela não respondeu. Não tinha contado a ninguém que tinha acabado com ele, apenas limitou-se a erguer da cadeira e a acompanhar a corrida da janela. Até então tinha visto tudo à distância e de forma fria e racional. Mas nas voltas seguintes, esse estado de espírito alterou-se, passando a ser mais fã do que uma observadora atenta. A cada passagem pela meta, começava a incentivá-lo no gabinete de imprensa, e isso começava a chamar a atenção dos seus colegas. Ela não continha o nervosismo, e queria que aquela liderança se mantivesse até ao final da corrida.

- Vai, vai, vai! Anda, foge do Beaufort! gritava.

As voltas passavam, e os carros começavam a notar os habituais sinais de desgaste. Bob Turner tinha encostado de vez o seu caro na volta 65, com a transmissão partida, e quatro voltas depois era a vez de Carpentier, que após uma recuperação notável que tinha-o colocado no quarto lugar, tivera a caixa de velocidades quebrada e encostara também na berma, de vez. Na mesma volta, o BRM de Anders Gustafsson perdia o controlo do seu carro na Stirlings e tocara com a parte traseira direita nos rails e o entortara, parando algumas dezenas de metros depois.

Na volta 72, o Temple-Jordan de Brian Hocking começara a engasgar, indicando que havia problemas com a bomba de gasolina. Abrandara o ritmo e descolava-se do grupo de Revson, De Villiers e Solana, mas continuava a correr com dificuldades, até que na volta 77, ele parava de vez. Mesmo assim, em principio iria ser classificado.

Na frente, a distância entre os dois não se tinha aberto mais do que dois segundos. Ambos andavam colados, mas as hipóteses de ultrapassagem tinha sido quase nenhumas. Tentou apanhá-lo nas cinco voltas seguintes, mas depois colocou de novo a mudança de forma inapropriada e até voltar ao normal durou alguns segundos, distanciando-se de modo quase irremediável, cerca de oito segundos. Aos poucos, acelerou e tentou apanhar o Apollo-Cosworth de Monforte, e conseguiu paulatinamente chegar até à sua traseira, mas não o suficiente para tentar manobras de ultrapassagem.

Na boxe da Apollo, todos sustinham a respiração. Viam-no a fazer as curvas de modo suave, sem pressa aparente, sem forçar o material. Viam-no a fazer tudo de forma tão natural que nem lhes passava pela cabeça que aquela era a sua sexta corrida na Formula 1. Atrás, Beaufort parecia inalcançável aos olhos de todos, e num distante terceiro lugar, Pieter Reinhardt ainda mais inalcançável estava. E todos, nas boxes, na tribuna de imprensa ou na televisão, o viam acelerar na Cooper Straight, a caminho de nova subida e respectiva entrada na floresta. Quando saisse dali e abordasse a Stoddard Curve, iria parte para a sua 80ª e última volta, Com Beaufort a cinco segundos dele.

- Ele vai ganhar, ele vai ganhar! disse um mecânico.
- Tenham calma, comemoremos quando cortar a meta. Já vi pessoal a perder tudo na última curva - avisou Pete Aaron - Lembrem-se do Reinhardt, no Mónaco, concluiu.

(continua)

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