sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 70 - Brands Hatch, numero 3)

(continuação do capitulo anterior)

Quando os carros abordam Paddock Hill Bend pela última vez, Monforte olha para o espelho para ver se o Matra azul estava atrás, mas este não se encontrava. Olhou em frente para fazer as curvas de maneira certinha, para não ser apanhado desprevenido. A sua concentração estava em alta, bem como os seus reflexos. E à medida que fazia as curvas, queria fazer tudo certinho, porque estava ainda a assimilar a ideia de que, minutos antes, lhe tinham mostrado uma placa a dizer "ALEX P1". Algo que só tinha imaginado em sonhos... Abrandara o ritmo, para assim evitar qualquer erro, e vigiar a aproximação de Beaufort, mas ele desconhecia que atrás de si desenrolava-se um drama.

Quando Beaufort passar pela Paddock Hill Bend e subia para a Druids, o seu carro começou a tossir, e o seu acelerador começava a não responder convenientemente. Nas descidas, ele andava bem, mas num circuito onde existiam grandes oscilações de altura, isso era uma dificuldade acrescida. E quando subia para a Hawthorn Bend, novamente o seu carro tossia. Ele notou imediatamente o que se passava. "Merde! Não há gasolina no depósito", e começou a desesperar. Temia que não tivesse gasolina para cruzar a meta, e abrandou o ritmo de forma considerável.

Mas ao aproximar-se de Clearways, viu o Jordan de Reinhardt a aproximar-se e decidiu acelerar para não perder o segundo posto. Vendo o Matra azul no horizonte, o alemão não fez mais nada senão caregar ainda mais no pedal do acelerador. Ambos os carros aproximaram-se, mas Reinhardt vinha mais embalado e conseguiu passar o francês à entrada da Sttodart Curve. Quando a bandeira de xadrez foi mostrada, Beaufort estava nitidamente mais lento, mas não teve de sair do seu carro, pois o impulso era mais do que suficiente para conseguir passar a meta. Mas perdera o segundo posto.

Esse drama tinha sido pouco visto nas boxes da Apollo, pois todos estavam em delírio com a vitória de Alexandre de Monforte. Quase um mês depois de sofrerem a pior das baixas, um piloto que meses antes tinha usado parte da herança do seu avô para comprar um chassis em segunda mão para poder correr na categoria máxima do automobilismo, estava agora com um carro oficial e a entrar na galeria dos vencedores. A ele e ao seu país. E todos na boxe abraçavam-se e choravam emocionados.


Os três restantes lugares pontuáveis ficaram para o McLaren de Peter Revson, o segundo Apollo de Teddy Solana e o Matra de Gilles Carpentier, qwue assim colocavam fora dos pontos o terceiro Apollo de Philipp de Villiers, o Jordan de Pedro Medeiros e o Temple-Jordan de Brian Hocking. Pouco depois, o carro de Monforte parou nas boxes e foi cercado por uma verdadeira multidão de mecânicos, fotógrafos, operadores de câmera e alguns jornalistas. Pete Aaron abraçou-o, mal ele se levantou do carro.

- Parabens, Alex. Foste magnifico.
- Obrigado Pete. Isto tudo é para mim?
- É sim, que achas?

Ele olhou à volta, vendo os "flashes" dos fotógrafos e o resto das pessoas a aplaudir. Sem tirar o capacete, alguns jornalistas já o abordavam com perguntas que ele não respondia. Ainda digeria o que estava a acontecer, pois parecia tudo um sonho. De repente, vindo da multidão, um fiscal da RAC vai ter com Pete Aaron e diz que ele tem de o levar ao pódio para receber o prémio, a coroa de louros e a taça.

- Alex, tens de ir ao pódio.
- OK, deixa-me tirar o capacete.

Quando tirou, tinha um sorriso do tamanho do mundo. Saudou a multidão, colocando-se em cima de uma das rodas, e ergueu os braços no ar, para saudar mais uma vez, por alguns segundos. Depois, disse a Pete para que o levasse dali para o palanque, onde o director do Royal Automobile Club o aguardava. Imediatamente antes disso, reparou em Teresa. Estava ali na multidão, e foi ter com ela para o saudar. Acabaram por abraçar-se e levou-a até ao pódio.

- Que estás a fazer?
- Que achas? Tou-te a dar um exclusivo e uma vista previlegiada.
- Ah não, não vou contigo. Depois do que conversamos?
- Esquece o que conversamos ontem. Eu olho para ti e vejo que ainda me amas por todos os poros. Eu sei que não sou o melhor dos namorados, mas vejo-te e vejo-me: quero ficar contigo o resto da minha vida. Não me perguntes porquê, mas sim.
- Sabes que não me consegues convencer-me dessa...

Não completou a frase. Ele beijou-a e levou ao colo a caminho do pódio. Ela ainda esboçou um protesto, mas de nada lhe valeu. Lá foram eles, acompanhados por Pete Aaron, e receberam do responsável da organização o troféu, a coroa de louros e a garrafa de champanhe, antes de escutarem o hino sildavo, reservado ao vencedor. No final, Pieter Reinhardt e Philippe de Beaufort juntaram-se a ele no pódio e agradeceram os aplausos. No final, quando se recolhiam à caravana da Apollo, ela continuou a reclamar:

- Nós acabamos, não sabes disso?
- Sei, e faço-te uma contra-proposta. Queres casar comigo?

Ela ficou estarrecida. Só se conheciam desde Abril, e três meses depois já o propunha em casamento. Não o conhecia bem, só o via como piloto e não como pessoa. Sabia das suas origens mas não sabia como era a sua familia, como é que se comportavam. SAbia da sua nobreza, mas não sabia como reagiriam à filha de um advogado e de uma professora, que se tornara jornalista só para ter dinheiro para pagar os estudos universitários em Germânicas, pois estudava para ser professora. Tudo isto era rápido demais para ela e queria dizer não, mas... sabia que havia ali um magnetismo que não sabia explicar. Disse a seguir.

- Casar, ainda não. Mas... sim, aceito voltar para ti.
- É melhor do que nada, afirmou, abraçando-a.

Depois entrou na tenda da Apollo, onde todos comemoravam com champanhe deitado nos copos. Foi recebido com aplausos, que se prolongaram por alguns minutos. Os jornalistas e fotógrafos presentes observaram o ambiente de festa, quando de repente, Alexandre tomou a palavra:

- Quero, primeiro que tudo, prestar homenagem ao John O'Hara. É a ele que dedico esta vitória. Há menos de um mês, passamos pelo pior dos cenários. Perdemos um amigo, um excelente piloto, e sei que estou aqui devido a ele. Eu ganhei por causa dele e nunca vou esquecer isso até ao final dos meus dias. Portanto - dirigindo-se a Arthur O'Hara - curvo-me perante a sua memória e apesar de isto não servir para o trazer de volta, espero que sirva para diminuir a dor e a saudade que temos dele. Obrigado. E onde quer que ele esteja... três vivas para o John. Hip, hip...

- Hurrah!

O velho Arthur, de lágrimas nos olhos, veio ter com Alexandre e agradeeu o gesto, abraçando-o. Depois disse:

- Serás sempre bem-vindo a nossa casa, Alex.
- Muito obrigado.
- Foi um belo gesto, o teu, disse Pete.
- Obrigado. É o minimo que posso fazer. Vocês concederam-me a oportunidade, limitei a retribui-la. E agora?
- Agora? Vamos apanhar um pifo. Onde estão as garrafas de whisky, Arthur?

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