Quando andava a fazer o post sobre o Grande Prémio do Japão de 1990, do bicampeonato de Ayrton Senna e das circunstâncias que o envolveram, faz hoje vinte anos, recordei todas as circunstâncias que envolveram aquela corrida e de como, sem querer, descobri que esta foi uma das corridas mais memoráveis da conta pessoal. Por vários aspectos.
O aspecto da corrida é o mais conhecido. Ver uma disputa do título terminar na primeira curva da primeira volta porque um dos contendores recusou-se a carregar o pedal do travão - e não foi por falta de aviso - demonstrou aquela face de Ayrton Senna que era capaz de fazer tudo para conseguir o que quer. Ainda por cima, era um piloto "mordido" e magoado com as circunstâncias do acidente do ano anterior, desclassificado por causa de uma interpretação dos regulamentos feito por Jean-Marie Balestre, o então presidente da FIA. Senna queria vencer o bicampeonato, mas acima de tudo, queria ganhar em Suzuka, como forma de vingança. E era esse o seu estado de espírito: vingar a afronta de 1989.
Depois do acidente na primeira volta, foi o "bodo aos pobres". Depois de ver Gerhard Berger e Nigel Mansell a desistirem devido a despistes e a quebras mecânicas (no caso de Mansell, era a "face brutânica" a vir ao de cima, ao quebrar a transmissão à saída das boxes), ver os Benetton na frente, que era a terceira força do campeonato, era um final muito feliz de um período turbulento. Duas semanas antes, em Siena, Alessandro Nannini estreava o seu novo helicóptero e quando aterrava no pátio da casa dos seus pais, perdeu o controlo do seu helicóptero e uma das pás decepou o seu braço esquerdo. A operação durou muito tempo e a reimplantação foi um sucesso, mas a sua carreira na Formula 1 estava acabada.
Assim, o seu substituto foi inesperado: Roberto Moreno estava na sede da Benetton a visitar uns amigos quando John Barnard lhe tinha telefonado para saber se estaria disponível para correr em Suzuka. Como a Eurobrun não ia correr nas duas últimas provas do campeonato, ele acedeu, não sem antes apanhar um susto por parte da sua antiga equipa, que exigia uma indemnização. Mas tudo correu bem.
No final, o segundo lugar de Moreno foi o melhor resultado de sempre do pequeno brasileiro, amigo de infância de Nelson Piquet em Brasilia. Este resultado deu-lhe um contato para a temporada de 1991 e foi a melhor prova de que não era só piloto para maus carros, como Coloni, AGS e Eurobrun. Também era um excelente piloto para um carro do meio do pelotão, e reforçou ainda mais a sua reputação de "Super Sub", que os americanos iriam chamá-lo quando correu na CART no final da década seguinte. No final da corrida, Moreno chorava pelo resultado alcançado, pelo seu fim de semana de sonho, abraçado a Flávio Briatore. Ironicamente, a mesma pessoa que o iria despedir meses mais tarde, para colocar no seu lugar um jovem alemão de seu nome Michael Schumacher...
Também houve algo único: ver um japonês no pódio. Os pilotos do país do Sol Nascente sempre ganharam reputação de pilotos rápidos, mas inconstantes. Satoru Nakajima foi o primeiro de uma fornada do qual seguiram Aguri Suzuki, Ukyo Katayama e outros. Houve piadas ambulantes, como Taki Inoue, mas achei irónico ver Suzuki, um bom piloto acima de tudo, no pódio de uma corrida quando provavelmente o melhor piloto da sua geração, Satoru Nakajima, nunca alcançou tal desiderato, apesar de ter tido boas temporadas na Lotus. Foi unico, mas não deixa de ter algum travo de ironia.
Aqui em Portugal, o GP do Japão de 1990 foi a primeira corrida a ser transmitida em directo em plena madrugada. Ver eu, o meu pai e avô acordados às cinco da manhã para ver a corrida de propósito foi algo unico para mim, então um adolescente de 14 anos. Claro, o espectáculo acabou na primeira volta, e cedo, quer o meu pai, quer o meu avô foram dormir, mas vi a corrida até ao fim e fiquei contente com a festa que Nelson Piquet e Roberto Moreno fizeram no pódio, na última vez em que um pódio foi totalmente não-europeu na história da Formula 1. Por estes e outros motivos é que considero esta corrida um evento absolutamente inesquecível em termos pessoais.
O aspecto da corrida é o mais conhecido. Ver uma disputa do título terminar na primeira curva da primeira volta porque um dos contendores recusou-se a carregar o pedal do travão - e não foi por falta de aviso - demonstrou aquela face de Ayrton Senna que era capaz de fazer tudo para conseguir o que quer. Ainda por cima, era um piloto "mordido" e magoado com as circunstâncias do acidente do ano anterior, desclassificado por causa de uma interpretação dos regulamentos feito por Jean-Marie Balestre, o então presidente da FIA. Senna queria vencer o bicampeonato, mas acima de tudo, queria ganhar em Suzuka, como forma de vingança. E era esse o seu estado de espírito: vingar a afronta de 1989.
Depois do acidente na primeira volta, foi o "bodo aos pobres". Depois de ver Gerhard Berger e Nigel Mansell a desistirem devido a despistes e a quebras mecânicas (no caso de Mansell, era a "face brutânica" a vir ao de cima, ao quebrar a transmissão à saída das boxes), ver os Benetton na frente, que era a terceira força do campeonato, era um final muito feliz de um período turbulento. Duas semanas antes, em Siena, Alessandro Nannini estreava o seu novo helicóptero e quando aterrava no pátio da casa dos seus pais, perdeu o controlo do seu helicóptero e uma das pás decepou o seu braço esquerdo. A operação durou muito tempo e a reimplantação foi um sucesso, mas a sua carreira na Formula 1 estava acabada.
Assim, o seu substituto foi inesperado: Roberto Moreno estava na sede da Benetton a visitar uns amigos quando John Barnard lhe tinha telefonado para saber se estaria disponível para correr em Suzuka. Como a Eurobrun não ia correr nas duas últimas provas do campeonato, ele acedeu, não sem antes apanhar um susto por parte da sua antiga equipa, que exigia uma indemnização. Mas tudo correu bem.
No final, o segundo lugar de Moreno foi o melhor resultado de sempre do pequeno brasileiro, amigo de infância de Nelson Piquet em Brasilia. Este resultado deu-lhe um contato para a temporada de 1991 e foi a melhor prova de que não era só piloto para maus carros, como Coloni, AGS e Eurobrun. Também era um excelente piloto para um carro do meio do pelotão, e reforçou ainda mais a sua reputação de "Super Sub", que os americanos iriam chamá-lo quando correu na CART no final da década seguinte. No final da corrida, Moreno chorava pelo resultado alcançado, pelo seu fim de semana de sonho, abraçado a Flávio Briatore. Ironicamente, a mesma pessoa que o iria despedir meses mais tarde, para colocar no seu lugar um jovem alemão de seu nome Michael Schumacher...
Também houve algo único: ver um japonês no pódio. Os pilotos do país do Sol Nascente sempre ganharam reputação de pilotos rápidos, mas inconstantes. Satoru Nakajima foi o primeiro de uma fornada do qual seguiram Aguri Suzuki, Ukyo Katayama e outros. Houve piadas ambulantes, como Taki Inoue, mas achei irónico ver Suzuki, um bom piloto acima de tudo, no pódio de uma corrida quando provavelmente o melhor piloto da sua geração, Satoru Nakajima, nunca alcançou tal desiderato, apesar de ter tido boas temporadas na Lotus. Foi unico, mas não deixa de ter algum travo de ironia.
Aqui em Portugal, o GP do Japão de 1990 foi a primeira corrida a ser transmitida em directo em plena madrugada. Ver eu, o meu pai e avô acordados às cinco da manhã para ver a corrida de propósito foi algo unico para mim, então um adolescente de 14 anos. Claro, o espectáculo acabou na primeira volta, e cedo, quer o meu pai, quer o meu avô foram dormir, mas vi a corrida até ao fim e fiquei contente com a festa que Nelson Piquet e Roberto Moreno fizeram no pódio, na última vez em que um pódio foi totalmente não-europeu na história da Formula 1. Por estes e outros motivos é que considero esta corrida um evento absolutamente inesquecível em termos pessoais.
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