quinta-feira, 21 de outubro de 2010

GP Memória - Japão 1990

Bastaram três semanas e uma viagem intercontinental para que o panorama da Formula 1 alterasse radicalmente. Embora na frente a luta entre Ayrton Senna e Alain Prost estivesse ao rubro, noutras partes do pelotão, havia mudanças e ausências. A principal era o acidente grave do qual Alessandro Naninni tinha sofrido duas semanas antes em Siena, vitima de um acidente de helicóptero. Apesar de uma operação de onze horas ter permitido recolocar o braço com sucesso, a sua mobilidade tinha ficado reduzida e não mais voltou a competir na Formula 1, embora tenha depois voltado à competição como piloto do DTM, ao serviço da Alfa Romeo.

No seu lugar na Benetton ia o brasileiro Roberto Moreno. A entrada veio em boa hora para ele, pois a Eurobrun, a equipa onde o brasileiro corria, decidira não participar no GP japonês. Aliás, tal como ele, a Life também não iria participar na corrida japonesa, e desapareciam de cena pela porta dos fundos. com trinta carros inscritos, as pré-qualificações não se realizariam mais nessa temporada.

Na Lotus, com Martin Donnely ainda nos cuidados intensivos, a equipa decidiu pedir a Johnny Herbert que corresse com eles até ao final do ano no seu lugar, ao lado de Derek Warwick. Assim o fez, ao mesmo tempo que na Minardi, o italiano Paolo Barilla decidiu sair da equipa, tendo ido para o seu lugar o compatriota Gianni Morbidelli.

No paddock, algumas equipas faziam alguns anuncios oficiais. Brabham e Arrows iriam ficar com novos motores na temporada de 1991, significando a entrada de novos fornecedores, Yamaha e Porsche, respectivamente. Na qualificação de seta-feira, Jean Alesi sofreu um forte despiste durante a qualificação e ficou magoado num dos musculos do pescoço, impedindo-o de participar no resto do fim de semana. Os seus tempos não foram anulados e o seu lugar não foi preenchido, fazendo com que apenas largassem 25 carros em vez de 26.

No final das duas sessões de qualificação, o melhor foi Ayrton Senna, no seu McLaren, conseguindo bater o seu arqui-rival Alain Prost, que partia da segunda posição. Na segunda fila, Nigel Mansell tinha sido mais rápido do que Gerhard Berger, enquanto que na terceira fila estava o Williams-Renault de Thierry Boutsen e o Benetton-Ford de Nelson Piquet. Antes de se lesionar, Jean Alesi conseguiu fazer o sétimo tempo, mas no seu lugar foi o segundo Williams-Renault de Riccardo Patrese, que ficou á frente do segundo Benetton de Roberto Moreno, adaptando-se bem ao carro. Por fim, a fechar o "top ten" ficaram o Larrousse de Aguri Suzuki e o Minardi de Pierluigi Martini.

Quatro carros ficaram de fora: o Osella de Olivier Grouillard, os AGS de Gabriele Tarquini e Yannick Dalmas, e o Coloni de Bertrand Gachot.

Fora de pista, o ambiente de tensão estava no ar. Desde que se tinha realizado o GP de Espanha, favorável à Ferrari, que Senna e a McLaren temiam que a alta da Ferrari lhe tirasse a hipótese de vencer o bicampeonato e vingasse os eventos do ano anterior, que para ele, tinha sido obra da politica de Jean-Marie Balestre e Alain Prost. Quando soube que os seus pedidos para mudar o lugar da pole-position para a esquerda, por ser a trajectória mais "limpa", tinham sido recusados por ordem expressa de Jean-Marie Balestre, Senna viu essa recusa como mais uma tentativa de lhe tirarem o título "na secretária". E avisou nas horas antes da corrida que não iria levantar o pé na largada, caso perdesse o primeiro posto. Os dados estavam lançados e a expectativa era alta.

O dia 21 de Outubro de 1990 era um dia de sol outonal, algo que a formula 1 ainda não tinha visto nessas paragens nipónicas. Quando todos estavam alinhados na partida, a tensão estava no ar, sabendo que algo poderia acontecer. Quando acendeu a luz verde, Prost largou melhor, mas Senna continuou acelerando, não levantando o pé numa manobra de "tudo ou nada". À entrada da primeira curva, o inevitável aconteceu: ambos os carros bateram e acabaram na gravilha. Com este resultado, Ayrton Senna era campeão do mundo pela segunda vez na sua carreira, mas o título fora atribuido da mesma forma polémica do ano anterior.

O campeonato já estava decidido, mas havia mais 52 voltas para serem disputadas, e as surpresas iriam começar. No inicio da segunda volta, Berger, que tinha superado Mansell da mesma forma, distrai-se e sai de pista, cedendo o comando ao britânico da Ferrari, seguido pelos carros de Piquet e Moreno, pelos Williams de Boutsen e Patrese e pelo Larrousse de Suzuki.

Mansell herdou a liderança de Berger e imprimia o seu ritmo de maneira forte, para assim ter uma hipótese de ganhar, já que iria parar uma vez, algo que os seus adversários não o iam fazer. Na volta 26, Mansell para para meter pneus novos, uma troca feita de forma perfeita por parte da Ferrari, mas na pressa de sair dali e apanhar os seus adversários, ao engatar a segunda velocidade, o "brutânico" quebra a transmissão e acaba por desistir, deixando caminho livre para os Benetton.

Até ao final da corrida, foi uma corrida controlada por parte da Benetton. Nelson Piquet, que não vencia uma corrida desde o GP de Itália de 1987, pela Williams, e depois de uma passagem apagada pela Lotus, onde "consegui ganhar mais dinheiro que pontos", estava a caminho da vitória. Com o seu velho amigo de Brasilia, Roberto Moreno, mesmo atrás dele, tudo estava controlado. Mais atrás, Patrese tinha passado Boutsen, mas descobriu que os pneus se desgastavam mais rapidamente que esperada e teve de parar, sendo passado por Aguri Suzuki, que ia a caminho de algo inédito: o primeiro pódio de um piloto japonês. E em Suzuka!

Com a bandeira de xadrez a ser mostrada, foi uma festa na equipa italiana. Era a primeira dobradinha de sempre, a terceira vitória da equipa e a primeira vitória de Piquet em três anos. Por fim, Roberto Moreno, aos 31 anos, fazia valer o seu talento num chassis competitivo, ao conseguir o seu primeiro pódio da carreira. E isso lhe daria contrato competitivo em 1991, pela Benetton. Aguri Suzuki estava radiante pelo feito, especialmente num carro do meio do pelotão e o seu conhecimento de Suzuka. Nos restantes lugares pontuáveis ficaram os Williams de Riccardo Patrese e Thierry Boutsen, e o Tyrrell de Satoru Nakajima.

Fontes:

Santos, Francisco: Formula 1 1990/91, Ed. Talento/Edipódromo, Lisboa/São Paulo, 1990.

1 comentário:

Anónimo disse...

Na madrugada no Brasil, a torcida brasileira comemorou com a "Tripla Vitória Brasileira" em Suzuka: Ayrton Senna (campeão), Nelson Piquet (vitória) e Roberto Moreno (2º lugar e único pódio na carreira).
Os japoneses também vibraram com a atuação de seus pilotos locais: Aguri Suzuki foi ao pódio pela primeira (e única) vez na carreira (o primeiro pódio de um piloto japonês) e para completar a festa, eles comemoraram com o 6º lugar de Satoru Nakajima. Pela primeira vez na Fórmula 1 que dois pilotos nipônicos terminaram uma prova pontuando.

Notas:

- primeira dobradinha da Benetton na Fórmula 1;
- 11ª e última dobradinha do Brasil na categoria e
- quando Nigel Mansell (a única Ferrari que tinha restado) abandonou a corrida na 26ª volta, a equipe McLaren pôde comemorar a sua conquista no Mundial de Construtores com uma prova de antecedência, assim como Senna no de Pilotos. Com os carros das duas rivais fora da corrida, a equipe inglesa permaneceu com 118 pontos e não pode ser alcançada matematicamente com 100 pontos da italiana.