A noticia publicada na edição desta semana no Autosport inglês teve óbvias reprecursões em Espanha. Este Sábado, o jornal "Marca" respondeu à sua maneira, acusando a revista de estar a lançar uma campanha contra Fernando Alonso. Segundo o jornal - o mais lido de Espanha - tudo isto não passa de uma campanha britânica contra o piloto das Asturias, afirmando no seu artigo que os britânicos também têm culpas no cartório, apontando como exemplos a qualificação do GP do Canadá deste ano, quando Lewis Hamilton fez a pole-position sabendo que não tinha gasolina suficiente para não chegar às boxes, e poucas semanas depois, quando o mesmo Hamilton foi perdoado por uma polémica manobra no GP da Europa, em Valencia.
O jornal acusa também o ex-presidente Max Mosley de ter permitido que no inicio de 2009 ter legalizado o duplo difusor do carro da Brawn GP, "permitindo ao medíocre Jenson Button vencer o campeonato".
A resposta de um órgão de comunicação como a "Marca" demonstra até que ponto as coisas chegaram. Quem conheça relativamente bem os meandros do jornalismo sabe que a objectividade no seu estado puro é um mito, mas toda a gente se esforça para escrever as noticias baseadas em factos e deixar as opiniões para nós mesmos, ou para secções devidamente criadas para o efeito. Mas os jornais desportivos, pelo meu conhecimento, são em certa forma menos objectivos do que os generalistas. Principalmente quando se trata do orgulho nacional.
Pessoalmente, sou critico desse tipo de jornalismo. Pode ser bom noticiar os feitos dos nossos atletas lá fora, em campeonatos do Mundo. Mas acho que exageram nessa defesa, porque acho que as consequências serão que passam uma ideia errada para os leitores, ouvintes ou telespectadores. Por exemplo, acho idiota os jornais exigirem medalhas de ouro quando os atletas vão aos Jogos Olimpicos, quando sei que nos restantes três anos e onze meses, são pouco ou nada mencionados, especialmente num mundo desportivo onde 80 por cento das noticias são sobre futebol. No caso espanhol, sei que Fernando Alonso é o seu herói e irão defendê-lo até ao limite do razoável, incluindo insultar os seus adversários. Os episódios "racistas" a Lewis Hamilton, no inicio de 2008, são o melhor exemplo disso.
Sobre este caso em concreto, achei que a resposta do jornal "Marca" um total exagero, pois por um lado, creio que as acusações feitas por Mark Hughes no "Autosport" britânico de dificil prova, logo, creio que nada vai ser feito. Mas acho que isto tudo pode estar a levar para áreas perigosas, especialmente por parte da imprensa, e sobretudo, dos fãs espanhois. Até ao aparecimento de Fernando Alonso, a Formula 1 nunca se preocupou com manifestações de massas vindas de outros sitios que não a Grã-Bretanha, Itália, Alemanha ou até Brasil. Nunca vi nesses fãs os exageros que vi, especialmente depois da entrada em cena de Lewis Hamilton. Por um lado, alguns espanhois julgam que Alonso tem o direito de ser o unico piloto da equipa, desde o primeiro dia, e julgavam que isso deveria ter acontecido na McLaren. Mas como todos sabem, Ron Dennis gostava de Hamilton e tinha-o "fabricado" desde o inicio da sua carreira. E ninguém iria pensar que o piloto britânico era ser tão bom como é agora...
Recordo-me da "tempestade" que houve nos fóruns italianos da Gazzetta dello Sport, em Abril, quando pediram a cabeça de Stefano Domenicalli apenas por este não ter ordenado a Felipe Massa para que cedesse a sua posição no GP da Austrália, dpeois do espanhol ter vencido no Bahrein, a primeira prova do campeonato. Acabou-se depois por descobrir que a maioria dos pedidos tinham vindo de Espanha, especialmente de fóruns alonsistas...
Não quero acreditar que o episódio alemão, ocorrido meses depois, tenha acontecido como consequência da tempestade australiana, mas se for assim, acho que uma ilusão perigosa. E ainda mais perigosa seria se isso fosse uma manipulação involuntária aproveitada por eles, e do qual "martelaram" tanto que acabaram por acreditar nela. Que foram eles que o colocaram na Ferrari, atavés do Banco Santander, que foram eles que o colocaram como primeiro piloto na Scuderia. De uma certa forma, isto pode ser visto como a utilização do "quarto poder" na Formula 1. Se assim for, acho isso tudo uma ilusão perigosa.
Mas em jeito de conclusão, os exemplos espanhois não são diferentes dos existentes no resto do mundo, estejam eles na Grã-Bretanha, Itália, Alemanha, Portugal, Argentina, Brasil... com uma imprensa desportiva forte e com tendência para euforizar. Desejo e gosto de acreditar que todos estes episódios não serão mais do que "tempestades em copos de água". Se não envolvesse a imprensa espanhola, acreditaria nisso. Mas o meu maior temor é a maneira como isto tudo vai ser interpretado por aqueles que o lêem. E como sei que a imprensa desportiva espanhola vive numa era euforica, numa altura em que parece que ganharam uma aura de invencibilidade em todas as modalidades (futebol, basquetebol, andebol, volei...) penso que talvez toda esta polémica seja apenas um enorme monstro que cresce a cada dia que passa.
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