quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre a ideia da FIA de regulamentar as ultrapassagens com asa móvel

Desde o inicio da manhã que ando a ler as criticas sobre um novo artigo no regulamento sobre as ultrapassagens, mais concretamente sobre o como, onde e quando se deve usar a asa móvel nos bólidos. Até aqui, sabíamos que esta pode ser usada apenas quando o adversário estivesse a menos de um segundo, para evitar a procissão que costumamos ver na televisão, do piloto que se aproximava e ficava colado ao carro da frente, mas não ultrapassava. Pois bem, há mais umas adentas que estão a deixar muita gente com os cabelos de pé. Ei-las, cortesia do meu amigo Mike Vlcek, do Formula UK:

"1 – O piloto que vem atrás só poderá acionar a asa se estiver a menos de 1s (um segundo) de distância do carro que persegue.

2 – A asa só poderá ser acionada nos últimos 600 metros da reta designada pela FIA em cada pista.

3 – Para que os pilotos saibam exatamente quando e onde acionar a asa, a FIA pintará linhas no asfalto da seguinte forma:

3a – Na curva que antecede à reta em questão, duas linhas serão pintadas no chão, marcando a distância de 1s mínima entre os dois carros.


3b – No retão, uma linha cruzando a pista mostrará o início da zona de ultrapassagem de 600m.

4 – As ultrapassagens continuam permitidas em qualquer parte da pista (menos boxes), desde que a asa não seja acionada, logicamente.

A princípio, a FIA diz que 600m é uma distância que não deve tornar as ultrapassagens fáceis demais. A entidade acredita que esta distância resultará em uma diferença de velocidade final na ordem de 10 a 12 km/h."

A FIA diz que irá rever o regulamento caso haja necessidade após as primeiras quatro corridas do ano, ou seja, quando a Formula 1 chegar à Europa. Espero que sim, porque quem conhece as coisas, sabe que o Mónaco e o Hungaroring não são propriamente conhecidas pela sua alta velocidade e longuíssimas retas...

Até aqui, em termos pessoais, a minha opinião sobre a asa movel era "nem carne, nem peixe". Se contribuisse para melhorar o espetaculo e facilitar as ultrapassagens, excelente. Mas quando começo a ler os regulamentos sobre quando e como se deve usar a asa, quase me faz lembrar de uma exposição que visitei há uns anos sobre a Idade Média. Algures a meio, li que a Inquisição até regulamentava quando e como os casais deveriam for*****. Não podiam fazer nos dias religiosos, na Quaresma, às segundas e quartas-feiras, não podiam fazer com ela menstruada, etc... e claro, era só para fazer filhos, e a sodomia era punivel com pena de morte.

Quando vi agora a maneira como devem regulamentar as coisas nesse aspeto, é isso que me faz lembrar. A obsessão pelo espetaculo, a artificilidade da competição, para satisfazer as audiências, de uma certa forma, demonstra que a FIA muitas vezes se comporta como uma galinha que perdeu a cabeça e corre como tonta para todo e qualquer lado, procurando por algo que já não tem. E mudar os presidentes é quase como mudar as moscas: a m**** é a mesma. A estabilidade é um mito. E confesso não colocar muita fé nos regulamentos de 2013, pode haver que apreça um génio, do género Luca de Montezemolo, que queira colocar umas adendas no sentido de "sabotar" a coisa.

E depois há outra coisa, do qual só agora é que falo: os muitos botões no volante. Cada vez mais eles se tornam numa cacofonia de botão do qual tem de regular, apertar, premir. Os pilotos de automobilismo parecem cada vez mais com um piloto de aviação ou do Space Shuttle. Além de já terem o comando das marchas ao lado do volante, o que até gosto, premir botões, mais regular a asa e olhar para o espelho para ver se alguém ultrapassa - e ainda temos a volta do KERS, do qual terá de premir um botão qualquer para o colocar a funcionar - começa a parecer altamente confuso para os que vêm as coisas de fora, e até os pilotos começam a queixar-se de tanto botão.

Sabem porque adoramos o passado do automobilismo? Porque as regras de então eram mais simples. Os carros eram simples, e essa simplicidade fazia aguçar o engenho dos projetistas, que eram livres de experimentar coisas radicais nos seus carros. E numa era onde na aerodinâmica estava tudo por descobrir, vimos esses rasgos de génio em bólidos inesqueciveis. Já imaginaram se estas picuinhices politicamente incorretas de 2010 se aplicassem em 1970, por exemplo? Imaginemos, por exemplo que a FIA dissesse que todos os carros tinham de ser em aluminio. Caramba, que coisas é que não teriam sido descobertas e aplicadas para, por exemplo, salvar as vidas dos pilotos.

É certo que se queiram cortar nos custos da Formula 1 para evitar o disparo dos custos. Mas chegar ao ridiculo de dizer, onde, quando e como ultrapassar, faz-me lembrar a Inquisição e as suas regras na Idade Média.

1 comentário:

L-A. Pandini disse...

Speeder, considero como "marco zero" da lambança regulamentativa da F1 a temporada de 1993, quando "por economia de custos" decidiram limitar o número de voltas que cada piloto poderia dar nos treinos. Eu achei bastante estranho na época, mas não mais que isso. Mal sabíamos, mas ali entrávamos iniciando a era das regras estúpidas e inúteis. Abraços! (LAP)