quarta-feira, 6 de março de 2013

O legado automobilista de Hugo Chavez

Não vou falar sobre o homem ou sobre a politica. Para isso cabe aos outros, porque sei que imensa gente irá falar de Hugo Chavez como se fosse o maior herói americano desde Simon Bolivar ou Fidel Castro, só porque ele falou mal dos Estados Unidos. Ou então irá vilipendiá-lo, afirmando que era um ditadorzinho de meia tigela, só porque andava com ditadores, ou outra coisa qualquer só para falar mal dele e celebrar a sua morte. Em suma, Hugo Chavez Frias, nascido a 28 de julho de 1954 em Sabaneta, no estado de Barinas, e falecido a 5 de março de 2013 em Caracas, foi uma personalidade polarizadora, para o bem e para o mal.

Contudo, eu quero lembrar Hugo Chavez pelo que fez no campo que conheço melhor: o automobilismo. Alguém se recorda quantos venezuelanos andavam a correr nas categorias automobilisticas em 1998, e quem eram os melhores pilotos desse tempo? Provavelmente não se lembram porque tirando Johnny Cecotto ou a Milka Duno, não havia ninguém a levar o nome da nação de Simon Bolivar aos quatro cantos do mundo. 

Em 15 anos, tudo isso mudou, e não falo só em Pastor Maldonado e as suas aventuras na Formula 1. Falo de pilotos que andaram na IndyCar, como Ernesto Viso, ou os pilotos que andam nas categorias de base, a tentar chegar ao topo. Existe, quer nos Estados Unidos, quer na Venezuela, mais de uma dezena de pilotos a correr por lá, com resultados variáveis. E tudo isso graças a uma coisa: o apoio da petrolifera estatal PDVSA.

Durante estes últimos anos, a PDVSA injetou dezenas de milhões de euros nas carreiras de pilotos, o mais famoso dos quais é Pastor Maldonado. Campeão da GP2 em 2010, mas com fama de destruidor, chegou à Formula 1 em 2011 através da Williams. Com ele, trouxe um patrocinio "gordo", no valor de 40 milhões de euros. Esse dinheiro serviu para pagar os estragos que o inconstante Maldonado teve ao destruir os carros da equipa, mas serviu também para injetar um dinheiro altamente necessário para uma Williamns em decadência, cuja sobrevivência começava a ser questionada. Nas três temporadas que já leva - ele vai começar a sua quarta ao serviço da equipa de Grove - os venezuelanos deverão ter injetado para cima de 120 milhões de euros, o que e uma quantia bem considerável.

Esse dinheiro está a compensar, pelos vistos: a equipa melhorou as suas performances e no ano passado, em Barcelona, voltou às vitórias, após uma ausência de sete anos. Espera-se que a equipa tenha melhores performances em 2013 e que Maldonado bata menos com o seu carro. E vai precisar de melhorar a sua performance, para tirar a imagem de que está ali por causa dos "petrodólares chavistas". É que o dinheiro não é eterno e já se fala que houve uma auditoria interna no final do ano passado para saber sobre o bom uso dos dinheiros da PDVSA. Até agora, Maldonado esteve salvo e provavelmente enquanto os descendentes de Chavez estiverem no poder, o dinheiro fluirá. E fluirá nos outros pilotos que a marca apoia nas outras categorias, que tentam emular o sucesso de Maldonado e de Viso, como Johnny Cecotto Jr.

Contudo, desde que se soube da doença de Hugo Chavez, colocaram-se dúvidas sobre se este iria continuar a fluir com tanta força após o desaparecimento físico do seu líder. Quero acreditar que sim, porque acho que o governo honrará os seus compromissos. E se nas próximas eleições presidenciais forem ganhas pelos partidários pró-Chavez, provavelmente o fluxo continuará, talvez com um ou outro controlo aqui e ali, mas creio que isso não será questionado. Outra história será se o candidato da oposição for o vencedor dessas eleições, e achar que o dinheiro do petróleo seria melhor gasto em outras coisas. 

Essa e outras questões ainda não têm resposta, num país que esteve paralisado até agora por causa do seu estado de saúde, e agora que o desfecho é conhecido, o futuro está ainda indefinido. E é esse pensamento que não só Maldonado, Cecotto ou Viso estão na sua cabeça, mas também os jovens como Jorge Gonçalvez, na Indy Lights, ou a Roberto LaRocca e a Samin Gomez, ambos na GP3.

Em suma: posso pessoalmente detestar a sua retórica e o facto de ele acreditar em teorias da conspiração, mas tenho de tirar o meu chapéu em relação a aquilo que ele fez ao automobilismo na Venezuela. Ele conseguiu colocar o país no mapa e apoiou as carreiras dos que quiseram triunfar neste mundo dificil que é o automobilismo, quer fosse nos Estados Unidos ou na Europa. Isso deve ser lembrado, quer nós queiramos, quer não.

1 comentário:

Juanh disse...

Ojalá los sucesores de Chavez continúen con el apoyo a los pilotos venezolanos; lo que Chavez hizo en este aspecto, ha sido envidiado por el resto de los países latinoamericanos. Ojala la petrolera estatal argentina, YPF, apoyara a los pilotos como lo hace PDVSA.
La muerte de Chavez es una gran pérdida para Latinoamérica, y no sólo en lo referido al automovilismo.
Abrazos!
http://juanhracingteam.blogspot.com.ar/