"Todos os Fords de fábrica estavam com Goodyears, exceto o nosso, pois fomos contratados pela Firestone. No húmido, os intermediários da Firestone eram terríveis. No sábado à noite, fizemos duas paragens extra nas boxes e estavamos três voltas atrás dos líderes. Então, Bruce disse, 'eu vou resolver isso'. Ele foi ter com a Firestone e disse: 'Nós vamos retirar o carro, se não colocarmos os Goodyear'. Então a Firestone disse: 'Coloquem os Goodyears, então'. Eles me chamaram, mudei os pneus, e Bruce gritou para mim: 'Não temos nada a perder. prego a fundo.'
"Choveu de forma intermitente durante a noite, mas nós dois guiávamos prego a fundo, e pelo domingo de manhã estávamos na liderança, cerca de um minuto à frente do carro Ken Miles e Denny Hulme. Ford pendurou para fora o sinal EZ (para andar mais devagar) que Bruce levou algum tempo para ler, mas Ken não desacelerou nem um pouco e "comeu" toda a vantagem que tínhamos alcançado. Então, algo estranho aconteceu: no pitstop seguinte, quando não estávamos devido a troca de pneus, o cara da Goodyear, sem sequer olhar para os pneus, ordenou que os mecânicos alterassem uma das frentes, o que nos fez atrasar. Eu acho que ele não queria que os pilotos contratados pela Firestone vencessem a corrida. Então, Ken estava de volta na liderança e a distância para Bruce estava sendo agora alargada."
"Choveu um pouco mais, e tornou-se incrivelmente escorregadio. Bruce passou por Ken novamente, e, em seguida, Ford nos disseram que queriam encenar a chegada. Os dois carros cruzariam a linha mais ou menos lado a lado, mas os franceses decidiram que eramos os vencedores, porque tínhamos partido 30 metros atrás de Ken na partida".
Este foi o testemunho de Chris Amon sobre a sua vitória nas 24 Horas de Le Mans, ao lado de Bruce McLaren, na primeira vitória dos Ford GT40, contada anos depois, em 2008, numa entrevista à Motorsport britânica. O desaparecimento de Amon, esta quarta-feira, aos 73 anos, acontece precisamente meio século depois da sua vitória em Le Mans, numa corrida épica ao lado do fundador da McLaren. Foram esses dois pilotos neozelandeses que deram a Henry Ford II a vitória que tanto queria em La Sarthe, para ter a perfeita vingança sobre Enzo Ferrari. Como é sabido, a Ferrari dominava a corrida de La Sarthe, e depois disso, nunca mais voltou a vencer à geral.
Contudo, para um vencedor, houve vencidos. E a históiria sabe que o mais amargurado deles todos foi Ken Miles, que muito queria a vitória, mas que acabou por chorar amargamente o segundo lugar, num carro que partilhou com outro neozelandês, Dennis Hulme. E essa amargura foi ainda mais sentida quando cerca de mês e meio depois, quando Miles testava o GT40 J-Series, em Riverside, sofreu um acidente e acabou por morrer. De uma certa forma, parecia que era uma injustiça que Miles, um inglês que tinha sobrevivido à II Guerra Mundial como condutor de tanques, e que sobreviveu a uma longa carreira no automobilismo, viu a sua maior vitória fugir-lhe às mãos por conta de um golpe publicitário, e pouco depois, sofrer o seu acidente fatal.
"Choveu de forma intermitente durante a noite, mas nós dois guiávamos prego a fundo, e pelo domingo de manhã estávamos na liderança, cerca de um minuto à frente do carro Ken Miles e Denny Hulme. Ford pendurou para fora o sinal EZ (para andar mais devagar) que Bruce levou algum tempo para ler, mas Ken não desacelerou nem um pouco e "comeu" toda a vantagem que tínhamos alcançado. Então, algo estranho aconteceu: no pitstop seguinte, quando não estávamos devido a troca de pneus, o cara da Goodyear, sem sequer olhar para os pneus, ordenou que os mecânicos alterassem uma das frentes, o que nos fez atrasar. Eu acho que ele não queria que os pilotos contratados pela Firestone vencessem a corrida. Então, Ken estava de volta na liderança e a distância para Bruce estava sendo agora alargada."
"Choveu um pouco mais, e tornou-se incrivelmente escorregadio. Bruce passou por Ken novamente, e, em seguida, Ford nos disseram que queriam encenar a chegada. Os dois carros cruzariam a linha mais ou menos lado a lado, mas os franceses decidiram que eramos os vencedores, porque tínhamos partido 30 metros atrás de Ken na partida".
Este foi o testemunho de Chris Amon sobre a sua vitória nas 24 Horas de Le Mans, ao lado de Bruce McLaren, na primeira vitória dos Ford GT40, contada anos depois, em 2008, numa entrevista à Motorsport britânica. O desaparecimento de Amon, esta quarta-feira, aos 73 anos, acontece precisamente meio século depois da sua vitória em Le Mans, numa corrida épica ao lado do fundador da McLaren. Foram esses dois pilotos neozelandeses que deram a Henry Ford II a vitória que tanto queria em La Sarthe, para ter a perfeita vingança sobre Enzo Ferrari. Como é sabido, a Ferrari dominava a corrida de La Sarthe, e depois disso, nunca mais voltou a vencer à geral.
Contudo, para um vencedor, houve vencidos. E a históiria sabe que o mais amargurado deles todos foi Ken Miles, que muito queria a vitória, mas que acabou por chorar amargamente o segundo lugar, num carro que partilhou com outro neozelandês, Dennis Hulme. E essa amargura foi ainda mais sentida quando cerca de mês e meio depois, quando Miles testava o GT40 J-Series, em Riverside, sofreu um acidente e acabou por morrer. De uma certa forma, parecia que era uma injustiça que Miles, um inglês que tinha sobrevivido à II Guerra Mundial como condutor de tanques, e que sobreviveu a uma longa carreira no automobilismo, viu a sua maior vitória fugir-lhe às mãos por conta de um golpe publicitário, e pouco depois, sofrer o seu acidente fatal.
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