domingo, 26 de março de 2017

A imagem do dia (II)

As 24 Horas de Le Mans de 1978 passaram para a história como sendo o ano do triunfo do Renault Alpine A442 Turbo, guiado pelos franceses Didier Pironi e Jean-Pierre Jassaud. Foi por causa desse triunfo que a Renault decidiu apostar fortemente na Formula 1, com resultados quase imediatos, pois um ano mais tarde, também comemorava uma vitória, na categoria máxima do automobilismo, no circuito de Dijon, através de Jean-Pierre Jabouille.

Contudo, uma das estórias dessa corrida foi a de um Porsche cujo feito, ainda hoje em dia, é celebrado nos círculos automobilísticos brasileiros. O Porsche 935 guiado por três pilotos locais, Paulo Gomes, Alfredo Guaraná Menezes e Mário Amaral, terminou na sétima posição, num feito único na Endurance brasileira, que teve uma história mais pequena do que na Formula 1.

E tudo isso também serviu para homenagear um companheiro caído: José Carlos Pace.

Até então, a história dos brasileiros em Le Mans tinha sido pequena e trágica. Um dos grandes pilotos do começo do automobilismo brasileiro, Christian "Bino" Heins, morreu na edição de 1963 quando pilotava o Alpine A63 e envolveu-se numa colisão com o Jaguar de Roy Salvadori e o Bonnet de Jean-Pierre Manzon. Esse acidente só foi redimido dez anos depois quando José Carlos Pace, que guiava um dos Ferrari 312PB ao lado do italiano Arturo Merzário, acabou a corrida na segunda posição, até hoje o melhor resultado de sempre, igualado por Lucas di Grassi em 2014.

O feito de 1978 foi um pouco por acaso. A ideia veio do então presidente da Confederação Brasileira do Automobilismo, Charles Naccache, e juntou empresas locais com pilotos locais, um pouco também para promover o Brasil numa área onde havia pouca participação. E os pilotos não tinham corrido juntos até então em provas de longa duração, mas conheciam-se: Paulo Gomes correra na Divisão 1 de Turismos (o embrião da atual Stock Car Brasil), Guaraná Menezes andava na Super Vê local contra pilotos como Nelson Piquet, e Mario Amaral também tinha a experiência na Divisão 1.

O Porsche 935, pertencente à francesa Team Cachia, tinha mostrado serviço no ano anterior, quando às mãos de Peter Gregg e Claude Ballot-Lena, tinham acabado no terceiro lugar. Contudo, apesar de serem velozes, o carro consumia demasiado para eles. E a adaptação não foi muito boa, pois na qualificação, foi apenas 23º, e sexto na sua classe. Mas a corrida foi boa para eles, pois na segunda hora, eles rodavam na quinta posição. Mas na 18ª hora, problemas mecânicos tiraram-lhe a liderança, e acabaram por serem os sétimos, segundos na classe. Um grande feito, numa corrida onde chegar ao fim era uma vitória.

Menezes, Gomes e Amaral tornaram-se depois nomes fortes do automobilismo brasileiro. Gomes tornou-se quatro vezes vencedor da Stock Car Brasil, e Guaraná Menezes, apesar do seu talento, não conseguiu ir para a Europa, ao contrário de Piquet. Continuou no automobilismo, mas passou depois ao dirigismo, sendo um dos diretores da FASP, a Federação Automobilística de São Paulo. Morreu hoje aos 64 anos, depois de algum tempo lutando contra uma hepatite C, do qual o fez esperar no último ano e meio por um transplante de fígado.

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