sábado, 6 de janeiro de 2018

1968: O tricampeonato de Jim Clark (parte 1)

Não, não o estou a enganá-lo, caro leitor. O piloto escocês ganhou uma competição pela terceira vez na sua carreira, mas não é o campeonato que possa ter na sua mente. É que em 2018, passa meio século sobre o tricampeonato do piloto escocês... mas não na Formula 1. Na realidade, há meio século, enquanto que o automobilismo na Europa hibernava por causa dos rigores do inverno, no hemisfério sul, fervilhava de atividade por causa da Tasman Series, uma competição que albergava corridas na Austrália e Nova Zelândia, e onde os melhores pilotos e equipas da Formula 1 lá participavam, incluindo a Lotus, BRM, Brabham, Ferrari e McLaren.

Em 1968, de uma certa forma, a Tasman Series vivia o seu auge. Tinha começado em 1964, com um regulamento que permitia carros com motores de 2.5 litros, e que atraiu a atenção dos melhores pilotos do campeonato, que corriam contra os melhores pilotos australianos e neo-zelandeses. E entre essas corridas (quatro na Austrália e outros tantos na Nova Zelândia), existiam os Grandes Prémios desses países, e onde alguns dos melhores pilotos de então foram vencedores. Se nunca houve uma prova oficial de Formula 1 na terra dos "All Blacks", já no outro lado do Mar da Tasmânia, os melhores apareciam por ali antes da primeira prova oficial, em 1985.

E em 1968, viveu-se aquilo que provavelmente se poderia dizer o auge de um piloto: Jim Clark. Infelizmente, esse seria a sua última grande conquista, antes de morrer numa prova de Formula 2, em abril, na pista de Hockenheim. E aqui, vou contar em alguns capitulos, a história da sua participação, bem como a Tasman Series de há meio século.


UM POUCO DE HISTÓRIA


Como já disse um pouco acima, a competição começou em 1964 como uma conjunto de corridas na Austrália e Nova Zelândia, do qual incluíam os Grandes Prémios locais. Os melhores na região poderiam concorrer contra os melhores do mundo, que incluíam os pilotos oficiais da Lotus, BRM, Brabham, McLaren, entre outros. Aliás, foi na Tasman Series de 1964 que Bruce McLaren inscreveu a sua equipa, com ele e o americano Timmy Mayer, a primeira pedra de uma equipa que ainda dura hoje.

O seu regulamento previa que os motores usados fossem os de 2.5 litros, que estavam no regulamento da Formula 1 até 1960. A razão era porque na altura, muitos desses antigos carros participavam em provas locais, pois as equipas venderam esses chassis para essa parte do mundo, onde eram ainda máquinas muito válidas.

McLaren foi o primeiro vencedor, em 1964, mas a seguir, apareceram os tubarões, especialmente a Lotus, com Jim Clark. O escocês venceu a competição em 1965, com quatro vitórias, e repetiu o feito em 1967, depois de ver o seu compatriota Jackie Stewart vencer a competição em 1966, a bordo de um BRM, numa temporada onde esses carros venceram todas as provas... menos uma. Em 67, Clark pegou num modelo 33 e venceu três das seis provas, conseguindo 45 pontos contra os 18 do segundo classificado, o seu compatriota Stewart.

Para 1968, quase todas as equipas apostavam forte, pois levavam os seus chassis de Formula 1, colocando os motores especificos dessa competição. A Lotus, por exemplo, levou dois chassis 49 para Clark e Graham Hill, e a Brabham levou chassis BT11, de 1964, para além dos chassis construidos para este tipo de competição como o BT18 e o BT23. A Ferrari levou um chassis 246T (de Tasman Series) para Chris Amon.

Depois de terem passado o Ano Novo em paragens sul-africanas, para a primeira prova do ano, todos pegaram o avião para fazer a longa travessia do Oceano Indico para estarem presentes um Pukehoke, em terras neo-zelandesas, para a primeira prova da temporada.


NOVA ZELÂNDIA: A VITÓRIA DO RAPAZ LOCAL


Se falarmos de Chris Amon, a primeira ideia que fica é que ele nunca venceu corridas a nível oficial na categoria máxima do automobilismo. Na sua longa carreira, entre 1963 e 76, Amon conseguiu cinco pole-positions e onze podios em equipas como Ferrari, March e Matra, mas nunca no lugar mais alto, exceptuando duas vitórias em provas extra-campeonato, ao serviço da equipa francesa.

Contudo, em 1968, Anon estava na Ferrari e tinha tido uma grande temporada, conseguindo vinte pontos e o quarto posto do campeoanto, com quatro pódios. Para além disso, já tinha ganho as 24 Horas de Le Mans, em 1966, com o seu amigo e compatriota Bruce McLaren. Nesta temporada, Amon apostou na Tasman Series, e levou alguns mecânicos da marca e um chassis 246 para ver se conseguia ser campeão nesta competição.

A prova de Pukehoke era também naquele ano o palco do GP da Nova Zelândia. Vinte e um pilotos inscreveram-se para essa corrida, e no mar de locais que lá estavam, entre os consagrados estavam inscritos Clark, Amon, Bruce McLaren (curiosamente, num BRM!), Dennis Hulme, o campeão do mundo, outro escocês, Piers Courage, num McLaren, Pedro Rodriguez, noutro BRM.

Clark foi o poleman, fazendo uma volta em 58,6 segundos, um décimo de segundo mais veloz do que Amon. Frank Gardner foi o terceiro, na frente de McLaren e Rodriguez, enquanto que Dennis Hulme conseguia 1.01,4 com o seu Brabham de 1,5 litros de Formula 2.

No dia da corrida estavam cerca de 37 mil espectadores no circuito de Pukehoke para ver as 58 voltas que iria ter a prova. Na largada, Amon levou a melhor sobre Clark e Frank Gardner. Contudo, logo a seguir, o escocês passou o piloto da Ferrari e começou a distanciar-se, na liderança, com Gardner no terceiro lugar. No final de dez voltas, a distância entre Clark e Amon era de seis segundos, distanciando-se de Gardner, enquanto que Hulme era quarto e Rodriguez tinha ido às boxes, com problemas na embraiagem, acabando por abandonar. Bruce McLaren acabou por fazer o mesmo.

A corrida continuou com Amon a não largar Clark, enquanto que Hulme assediava Gardner para ficar com o terceiro posto. O piloto da Ferrari começou a aproximar-se do escocês a partir da volta 32, ficando com cinco segundos de diferença, mantendo-se assim até à volta 44, quando o motor do Lotus de Clark entregou a sua alma ao Criador, e dando a liderança a Amon. Este estava bem confortável diante de Gardner, que estava com dificuldades graças a uma bateria defeituosa, e via Hulme aproximar-se. Contudo, na volta 56, tocou um piloto atrasado, o local Lawrence Brownlie, e ambos acabaram na berma, com Brownlie em pior estado, pois tinha fraturado ambas as pernas.

No final da prova, Amon tornava-se no terceiro piloto local a vencer o GP da Nova Zelândia, com Gardner a ser o único a cortar a meta na mesma volta do vencedor. o britânico Piers Courage foi o terceiro, no seu McLaren M4A, adiante de outro neozelandês, Jim Palmer, do australiano Paul Bolton e de outro local, Graeme Lawrence.

(continua amanhã)

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