Muitos aproveitam para dar os parabéns a Michael Schumacher, que comemora hoje o seu 49º aniversário, mas o calendário mostrou-nos hoje que passa uma década sobre algo do qual teve consequências. Pois foi este dia, em 2008, que o Rali Dakar foi cancelado, e por causa disso, foi para a América do Sul, de onde nunca mais voltou.
O cancelamento "em cima da hora" foi inesperado apenas para aqueles que não estavam à espera, e também por ter acontecido tão em cima da hora (a um dia do seu começo), mas era algo do qual já se esperava desde o final do ano anterior. Um atentado terrorista, onde uma familia francesa tinha sido morta na Mauritânia por elementos da Al-Qaeda no Magreb, aliados a relatórios dos serviços secretos franceses afirmando que havia indicios sólidos de que a caravana do Dakar iria ser atacada no "bivouac", fizeram com que o governo do então presidente Nicolas Sarkozy "aconselhasse" o cancelamento do rali. Um conselho que foi reforçado quando as seguradoras decidiram não mais apoiar os concorrentes devido ao elevado risco, e a Total decidiu, algumas horas antes, desmontar a barraca, para forçar a ASO (Amaury Sports Organization) a tomar o cancelamento como fato consumado.
A pressão, de uma certa forma, funcionou, para desilusão, na altura, dos amantes do automobilismo e do Dakar.
O "Dakar português" tinha sido um sucesso desde que chegou, anos antes. As etapas nas nossas bandas tinham atraído, em média, mais de meio milhão de portugueses para as nossas estradas, aplaudindo os concorrentes e passando a ideia de um povo amante do automobilismo. Logo, era extremamente popular, e também uma janela para mostrar Portugal ao mundo. E o cancelamento foi uma desilusão natural lógica.
Isto também mostrou que por vezes, cede-se às ameaças. As coisas nunca foram devidamente explicadas, e claro, o algum secretismo que isto levantou deu origem às "teorias da conspiração" da altura, que tudo isto foi uma maneira de nos tirar a organização do Dakar sem pagar indemnizações. A tal "force majeure" que por vezes se fala. O que se sabe é que hoje em dia há o África Race, que parte de paragens francesas e tem muito menos mediatismo do que o Dakar. E os concorrentes nunca foram incomodados...
No final do dia, sabemos agora o que se passa: o Dakar continua a ser o maior "rally-raid" do mundo, organizado por franceses, mas a ideia original de Thierry Sabine há muito que está sepultado no deserto africano. Agora, é noutras dunas, noutras paragens, noutro continente, que se alimenta o sonho e o desejo. Porque o eventual "regresso a África" não deverá acontecer, pelo menos, não nesta geração.
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