sexta-feira, 9 de julho de 2021

A imagem do dia


A grande ironia da carreira de Carlos Alberto Reutemann, morto esta quarta-feira aos 79 anos de idade, é que ele nunca ganhou na sua Argentina natal. Teve aquela quebra que partiu o coração de muitos em 1974 quando ficou sem gasolina a duas voltas do final e quando liderava confortavelmente, e o seu grande desgosto quando em 1980, também teve problemas e desistiu, quando parecia que a vitória era uma forte possibilidade. Mas em compensação, conseguiu quatro pódios, incluindo dois segundos lugares em 1979 e 1981, este numa corrida ganha por Nelson Piquet, e no dia do seu aniversário natalício, 12 de abril.

Mas em contraste, tem quatro vitórias no Brasil. Triunfou primeiro em 1972, em Interlagos, na corrida experimental que todas as provas tinham de passar para serem aceites no calendário. No seu Brabham, e no rescaldo da pole-position que tinha feito umas semanas antes em Buenos Aires, aproveitou a desistência de Emerson Fittipaldi para chegar ao lugar mais alto do pódio. Depois, a sério, acabaria por ganhar em 1977, 78 e 81, todas elas com significado. Sobre as edições de 1978, em Jacarépaguá e com todo um público a gritar "quebra! quebra!" porque atrás dele estava o Copersucar de Fittipaldi, e a de 1981, que acabou com um acto de desobediência que ficou na história da Formula 1, já foi falado e será até ao fim dos tempos. Então, hoje se dedica a falar sobre a edição de 1977, em Interlagos.

No rescaldo da surpreendente vitória de Jody Scheckter em Buenos Aires, com Reutemann a chegar em terceiro, atrás do Brabham de José Carlos Pace, a Formula 1 estava em Interlagos, num janeiro tipicamente caloroso e onde os espectadores eram refrescados à mangueirada para aguentar as inúmeras horas à espera da corrida. Reutemann foi batido na qualificação por James Hunt por 70 centésimos de segundo, com Mario Andretti em terceiro, depois de um incêndio no seu motor no dia anterior. 

Na partida, foi surpreendido por Pace, que fizera um tremendo arranque de quinto na grelha. O argentino passou Hunt e foi em perseguição do seu ex-companheiro de equipa na Brabham até que na sétima volta, ambos tocaram-se, com o brasileiro a ir às boxes, perdendo muito tempo. Hunt ficou com a liderança, mas na volta 22, teve de ir às boxes para meter pneus novos. Reutemann ficou com a liderança, mas pelo meio, tinha outro grande obstáculo: a curva 3 de Interlagos.

Naqueles tempos, a versão que usavam era a dos 6940 metros, uma espécie de intestino grosso onde o anel externo era decididamente veloz. Mas fazer a curva 3 a fundo era um enorme desafio, e um erro deitava tudo a perder. E naqueles tempos, havia as redes de proteção, que seguravam carros em caso de despiste. Contudo, num dos acidentes, uma das redes foi para o meio da pista, fazendo com que os carros tivessem de passar com ainda mais cuidado, para não caírem na armadilha. 

Mas nem todos foram assim: gente como Patrick Depailler, Tom Pryce e Jacques Laffite não evitaram a armadilha da curva 3 e caíram nela, algo do qual nos nossso dias teria sido evitada com a entrada dos comissários em pista e o Safety Car, por exemplo. Mas como se sabe, era outro século...

No final, Hunt fora passado por Reutemann na volta 23, suficiente para ir às boxes e colocar pneus novos. Subiu lugar após lugar, mas não o suficiente para apanhar o argentino, que ia dar à Ferrari a primeira vitória do ano e ficava no comando do campeonato, com 13 pontos. Lauda fora apenas terceiro e estava acossado naqueles tempos, porque em Maranello, não tinham esquecido o seu gesto em Fuji, no final do ano anterior. O argentino era o querido da equipa, e confiavam nele os melhores materiais.

O resto é conhecido: o austríaco fez das fraquezas forças, foi metódico e pragmático, e conquistou o título antes do pelotão da Formula 1 chegar a Monza. Ali, deitou a bomba de que iria para a Brabham por um valor bem chorudo e deixou toda a gente na mão. Reutemann limitou-se a ser quarto no campeonato, porque aquele triunfo em Interlagos acabou por ser o único daquela temporada.

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