Quem olha para a carreira deste homem, pensa que o azar andou sempre com ele. Andou em projectos falhados, foi protagonista involuntário de um dos mais horriveis acidentes da história da Formula 1, e teve um fim trágico, numa pista americana. Eu acho o contrário: até teve sorte por continuar, apesar das contrariedades. Hoje, 25 anos depois da sua morte, vou falar de Rolf Stommelen.
Nascido a 11 de Julho de 1943 em Siegen, na Alemanha, começou a correr no inicio da década nos Turismos, tornando-se um dos mestres do Nurburgring. Em 1966, entra para a equipa oficial da Porsche, a bordo de um modelo 904. No ano seguinte, consegue a sua primeira vitória relevante, ao ganhar a Targa Florio, em companhia do australiano Paul Hawkins. No ano seguinte, começa a ganhar as 24 Horas de Daytona (irá repetir o feito em 1978, 1980 e 1982), a bordo de um Porsche 908, e consegue classificações no pódio em outras provas importantes de resistência, como o terceiro lugar nas 24 Horas de Le Mans e nas 24 Horas de Spa-Francochamps, sempre a bordo de um Porsche.
Em 1969, para além dos Protótipos, onde faz a "pole-position" nas 24 Horas de Le Mans, a bordo do famoso Porsche 917 LH, mas desiste durante a corrida, faz a sua primeira incursão na Formula 1, a bordo de um Lotus 59... de Formula 2! Este evento invulgar acontece em Nurburgring, pois devido à sua extensão, nessa altura se disputasse em simultâneo as provas de Formula 1 e Formula 2. Na corrida, ele terminou no oitavo posto na geral, quarto na Formula 2.
Em 1970, desenvolve uma carreira na Formula 1, em paralelo com a dos Protótipos. Correndo num Brabham BT33, patrocinado pela revista Auto Motor Und Sport, torna-se no primeiro alemão a fazer uma época completa desde Wolfgang Von Trips, nove anos antes. Consegue classificações relevantes, sendo o melhor um terceiro lugar na Austria, no seu primeiro e unico pódio da sua carreira. Terminou o ano com 10 pontos e o 11º posto do campeonato. Entretanto, nos Protótiopos, sempre com a Porsche, conhece classificações relevantes, como um segundo lugar em Sebring.
Em 1971, vai correr pela Surtees, então uma equipa recém-lançada pelo ex-campeão do Mundo. Nessa temporada, as suas prestações foram um pouco intferiores, conseguindo somente três pontos, e acabando na 20ª posição. Para além disso, consegue dois pódios no Europeu de Formula 2, a bordo da equipa Eifelland, o segundo lugar nas 12 Horas de Sebring, agora ao volante de um Alfa Romeo T33, e até faz uma perninha ao NASCAR, no ultra-rápido curso de Talladega.
Em 1972, torna-se no piloto oficial da Eifelland, um projecto arrojado de um designer suiço, chamado Luigi Colani. O carro tem um desenho radical, mas tem um problema: sobreaquece facilmente, mesmo em ambientes de cinco graus Celsius, como acontecia na Alemanha, quando testavam em pleno Inverno. Foi uma época dificil, onde ele não conseguiu sequer pontuar, e o dinheiro acabou antes do final da época, deixando Stommelen sem voltante para guiar. No ano seguinte, Stommelen aposta mais nas provas de Endurance, a bordo do Alfa Romeo da equipa Autodelta, de Carlo Chiti, e a meio do ano, é chamado para substituir Andrea de Adamich na Brabham da equipa privada Panagossin, onde não consegue mais do que um 11º lugar em Nurburgring.
Em 1974, volta a apostar numa carreira nas provas de longa distância, e de novo com a Alfa Romeo. Com alguns resultados de relevo, em provas de alguma relevância, volta à Formula 1 para substituir um piloto aleijado numa equipa comandada por outro ex-piloto de formula 1: Graham Hill. No Lola da equipa Embassy, consegue qualificar o carro em todas as provas que disputou, mas a sua melhor classificação é um 11º lugar.
Contudo, as suas pestações são suficientes para ficar na Hill em 1975. Com o Lola, consegue acabar em sétimo na Africa do Sul, e em Montjuich, estreia o novo carro, o Hill GH1. Numa corrida marcada pela polémica, onde os pilotos receiam pela sua própria segurança, numa pista urbana, Stommelen dá nas vistas, pelas melhores... e piores razões.
Com uma largada atribulada, onde alguns pilotos (manos Fittipaldi, Merzario) encostam às boxes em sinal de protesto, Stomellen aproveitou as circunstâncias para se aproximar dos primeiros, e na volta 17, Stommelen leva o Hill à liderança! Lá aguenta até à volta 21, altura em que perde a favor do Brabham de José Carlos Pace, mas volta outra vez na volta 23. Contudo, duas voltas mais tarde, aquilo que todos temiam acontece: a asa traseira do Hill sai na recta da meta, causando um despiste em alta velocidade contra a barreira, que em ricochete, ultrapassa-a, matando quatro pessoas (um fotógrafo, um comissário de pista e dois espectadores). Quanto ao alemão, partiu uma perna, duas costelas e o pulso direito. A corrida foi interrompida quatro voltas depois, e foi ganha... por outro alemão, Jochen Mass.
Stomelen volta a correr no final do ano, mas por pouco tempo: um acidente no GP de Itália faz com que termine a carreira mais cedo. Em 1976, volta à Porsche, onde ganha duas provas de Endurance, em Enna-Pergusa e Watkins Glen. Entretanto, volta esporadicamente à Formula 1, ao correr por duas corridas pela Brabham, que lhe dá um terceiro carro em Nurburgring. Numa prova marcada pelo grave acidente de Niki Lauda, Stommelen acaba em sexto, a última vez em que termina nos pontos. Para além das duas provas pela Brabham, corre também em Zandvoort a bordo de um Hesketh, sem resultados de relevo.
Em 1977, corre ao volante do novo Porsche 935 no Mundial de Endurance, onde ganha o título mundial, conseguindo vitórias em circuitos importantes como nas 6 Horas de Mugello ou nos 1000 km de Nurburgring. Também ganha o título no Deutsche Rennen Meisterschaft, aquilo que mais tarde se iria tornar no DTM. Apesar destes títulos, desta vez, esteve afastado da Formula 1. Mas em 1978, voltou para fazer uma temporada inteira a bordo de uma nova equipa: a Arrows. Fazendo parelha com o novato Riccardo Patrese, não conseguiu resultados de relevo, e no final da época, abandonou definitivamente a Formula 1.
A sua carreira na Formula 1: 63 Grandes Prémios, em nove épocas (1969-76, 1978), um pódio, 14 pontos.
Depois de deixar a Formula 1 para trás, continuou a carreira nas corridas de Endurance, onde era mais feliz. Ainda em 1978, ganha as 24 Horas de Daytona, num Porsche 935 privado, da Dick Barbour Racing, e no ano seguinte consegue a sua melhor clasificação de sempre nas 24 Horas de Le Mans. A relevância desse segundo lugar também tem a ver com outro companheiro de equipa mais famoso: o actor Paul Newman. Em 1980 repete a vitória nas 24 Horas de Daytona, os 1000 km de Nurbrugring, e os 500 km de Elkhart Lake. Em 1982, vence as 24 Horas de Daytona pela quarta vez, sendo assim um dos pilotos mais bem sucedidos na pista americana.
Em 1983, participa de novo no seu Porsche 935, mas no campeonato americano de Endurance, o IMSA. contudo, a 24 de Abril desse ano, no circuito californiano de Riverside, a asa traseira do seu Porsche 935 sai, num acidente parecido como tinha tido oito anos antes em Monjuich. Mas desta vez, ele não se safa. Tinha 39 anos.
Fontes:
2 comentários:
Muito bom Speeder
Se meu pai não ocupasse o PC por tanto tempo, ia fazer a bio do Stommelen, mas vc o fez, e muito bem, na minha frente!
Parabéns!
Cada ser humano carrega uma linda história.
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