Faltam dez minutos para o final da sessão de qualificação em Brands Hatch. Na tabela de tempos, há uma luta entre o Jordan de Pieter Reinhardt e o Matra de Philippe de Beaufort, com o Ferrari de Patrick Van Diemen e o Apollo de Alexandre de Monforte à espreita. No final da sessão de ontem, foram estes os quatro pilotos que ficaram no topo da tabela de tempos, seguidos pelo Ferrari de Toino Bernardini e do surpreendente Temple-Jordan de Antti Kalhola.
Naqueles minutos finais, muitos olhavam para o Céu, pois o tempo britânico ameaçava fazer das suas, com nuvens carregadas no céu do sul inglês, esperando que ainda haja tempo para marcar uma boa marca. A tensão estava no ar em todas as boxes. Todos queriam marcar um tempo melhor daqueles que tinham, e davam o seu melhor, mesmo no limite. Um Jordan entrava na pista, o primeiro de uma fila de quatro, para marcar uma marca mais confortável que o 18º tempo que tinha, demasiado próximo da "linha de água" dos vinte carros permitidos pela organização.
- Como isto anda? perguntou Pete.
- Para nós, tudo bem, respondeu Alex Sherwood. O Alex é quarto, o Teddy é nono e o Philipp marcou agora o 14º tempo. Em principio, estamos safos.
- O Philipp está a adaptar-se bem. O que é interessante, respondeu Pete.
- Quem está de fora? perguntou Arthur O'Hara, que estava ao lado de Pete, a escutar a conversa.
- Só privados, quase todos Jordans, e o semi-oficial do espanhol Cervantes, que foi agora superado pelo McLaren privado de Manfred Linzmayer. É o primeiro dos não-qualificados, mas à sua frente tem o Temple-Jordan do Hocking e o Jordan oficial do Bob Bedford. Até o novato do Medeiros é melhor do que ele: 12º tempo.
- Quem diria... o Bob está a desinteressar-se pelas corridas?
- Não sei. Já ouvi que o Bruce anda à procura de um pretexto para o despedir, ou o transferir para a Temple, disse Sherwood.
- Kahola?
- Talvez. Cada vez mais se convence que é uma questão de tempo.
- O miudo é bom. Tenho pena de não o ter entre nós, respondeu Arthur.
- É o miudo do Henry e do Holmgren, é um belo achado, acrescentou Pete.
À medida que os carros abordavam a Stoddart Curve, a caminho da Paddock Hill Bend, o tempo para fazer uma marca esgotava-se. Naquela nesga, o tempo cada vez mais piorava, e todos estavam cada vez mais ansiosos. Por essa altura, Brian Hocking e Bob Bedford estavam um atrás do outro a tentar marcar um tempo suficiente para se safarem do embaraço de terem de ver a corrida do dia seguinte das boxes. Estavam na sua primeira volta cronometrada, e quando passaram pela meta, Hocking não conseguiu melhorar, enquanto que Bedford obtivera o 20º tempo, desalojando o McLaren privado de Linzmayer.
Os dois estavam a puxar pelo limite dos seus carros, e depois de fazerem a Paddock Hill Bend, caminharam para a Druids, uma curva apertada à direita, no topo de um monte, para depois descerem a caminho da Bob Turner Bend, que depois era feito à esquerda, para a Cooper Straight, no qual os espectadores no paddock podiam ver os carros rolarem, a caminho de mais uma incursão pela floresta, na Curva Sarti, dada em homenagem ao campeão francês, morto há quase quatro anos em Monza.
Após algum tempo, ambos os carros estavam de volta à vista de todos no paddock, abordando a Stoddart Curve e esperando que melhorassem os seus tempos, um sem largar o outro. Hocking passa e consegue um tempo que o coloca na 11ª posição, enquanto que Bedford era agora o 12º classificado, colocando Linzmayer cada vez mais fora dos vinte primeiros, e colocando Dan Gurney num perigoso 20º tempo. Instantes depois, Hocking trava para abordar o Paddock Hill Bend, mas atrás, Bedford parece estar distraído e coloca o seu lado esquerdo na relva do circuito, perdendo o controlo do seu carro. Tenta recuperar, mas já é tarde. O carro entra em ziguezague, primeiro para a direita, e depois para a esquerda, entrando em pião e batendo de trás na barreira de protecção, fazendo um barulho horrivel.
No rodopiar, a baixa velocidade, bate de novo na barreira, mas de frente, e fica de pernas para o ar. As bandeiras vermelhas são mostradas, para interromper a sessão e retirar Bob o mais rapidamente possivel. Colocam-no numa maca, e todos mantêm a respiração em suspenso, para saber se ele está vivo ou não.
De repente, uma mão levantada. Era a mão enluvada de Bob. Estava bem e recomendava-se. O circuito explodiu em aplausos.
Pouco depois, a sessão continuava, mas nesse preciso instante, a chuva caiu em força no circuito britânico, transformando aqueles minutos em algo inutil, e todos deram a sessão por terminada. Bruce vinha do centro médico com um sorriso nos lábios: Bob Bedford não sofrera nada de grave no acidente. O cinto de segurança tinha-o safo de algo pior, mas o carro é que estava para além do reparável. Decidiu que caso os médicos dessem o seu OK, iria usar o carro de reserva, que seria de Reinhardt, o "poleman" daquela corrida. Bruce cruza-se com Pete Aaron e conversam sobre a situação:
- Como é que está?
- Safa-se. Foi um grande susto, confesso.
- É... não dá jeito termos mais mortes nesta temporada. Já tivemos as mais que suficientes.
- Acredito. Perdeste agora o John...
- Pois... ainda estamos de luto. Mas tinhamos de vir aqui.
- Os teus substitutos são bons?
- O que achas?
- O sildavo é bom. E o outro também... vais querer-lo para 71, suponho.
- Nâo supões: está tudo tratado. Só falta assinar.
- Que pena... dá excelentes indicações. Vai correr contigo nesta época?
- Em principio, nas corridas americanas. Por essa altura, o campeonato está acabado. Em troca, estaremos em força para as Nove Horas, no final do ano.
- Hmmm... sorte a tua teres um piloto como ele.
- Mas tu em compensação tens o finlandês.
- É verdade, mas... só para o ano.
- Com o carro-turbina?
Bruce riu-se, acompanhado por Pete. Sabia-se que Bruce estava a experimentar uma solução radical, que tinha visto em Indianápolis, e que queria aliar a outra solução técnica que estava a ser experimentada, as quatro rodas motrizes. Pete sempre desconfiava dessas soluções técnicas, e era simplista: mecânica acima de tudo, embora soubesse ser pragmático o suficiente para aceder à aerodinâmica. Sabia que, para obter resultados naquele ano, tinha de ser conservador e optar por soluções comprovadas... e baratas. Pete deu uma palmada nas costas de Bruce, vendo que tudo estava bem para os lados dele, e seguiu caminho.
(continua)
Os dois estavam a puxar pelo limite dos seus carros, e depois de fazerem a Paddock Hill Bend, caminharam para a Druids, uma curva apertada à direita, no topo de um monte, para depois descerem a caminho da Bob Turner Bend, que depois era feito à esquerda, para a Cooper Straight, no qual os espectadores no paddock podiam ver os carros rolarem, a caminho de mais uma incursão pela floresta, na Curva Sarti, dada em homenagem ao campeão francês, morto há quase quatro anos em Monza.
Após algum tempo, ambos os carros estavam de volta à vista de todos no paddock, abordando a Stoddart Curve e esperando que melhorassem os seus tempos, um sem largar o outro. Hocking passa e consegue um tempo que o coloca na 11ª posição, enquanto que Bedford era agora o 12º classificado, colocando Linzmayer cada vez mais fora dos vinte primeiros, e colocando Dan Gurney num perigoso 20º tempo. Instantes depois, Hocking trava para abordar o Paddock Hill Bend, mas atrás, Bedford parece estar distraído e coloca o seu lado esquerdo na relva do circuito, perdendo o controlo do seu carro. Tenta recuperar, mas já é tarde. O carro entra em ziguezague, primeiro para a direita, e depois para a esquerda, entrando em pião e batendo de trás na barreira de protecção, fazendo um barulho horrivel.
No rodopiar, a baixa velocidade, bate de novo na barreira, mas de frente, e fica de pernas para o ar. As bandeiras vermelhas são mostradas, para interromper a sessão e retirar Bob o mais rapidamente possivel. Colocam-no numa maca, e todos mantêm a respiração em suspenso, para saber se ele está vivo ou não.
De repente, uma mão levantada. Era a mão enluvada de Bob. Estava bem e recomendava-se. O circuito explodiu em aplausos.
Pouco depois, a sessão continuava, mas nesse preciso instante, a chuva caiu em força no circuito britânico, transformando aqueles minutos em algo inutil, e todos deram a sessão por terminada. Bruce vinha do centro médico com um sorriso nos lábios: Bob Bedford não sofrera nada de grave no acidente. O cinto de segurança tinha-o safo de algo pior, mas o carro é que estava para além do reparável. Decidiu que caso os médicos dessem o seu OK, iria usar o carro de reserva, que seria de Reinhardt, o "poleman" daquela corrida. Bruce cruza-se com Pete Aaron e conversam sobre a situação:
- Como é que está?
- Safa-se. Foi um grande susto, confesso.
- É... não dá jeito termos mais mortes nesta temporada. Já tivemos as mais que suficientes.
- Acredito. Perdeste agora o John...
- Pois... ainda estamos de luto. Mas tinhamos de vir aqui.
- Os teus substitutos são bons?
- O que achas?
- O sildavo é bom. E o outro também... vais querer-lo para 71, suponho.
- Nâo supões: está tudo tratado. Só falta assinar.
- Que pena... dá excelentes indicações. Vai correr contigo nesta época?
- Em principio, nas corridas americanas. Por essa altura, o campeonato está acabado. Em troca, estaremos em força para as Nove Horas, no final do ano.
- Hmmm... sorte a tua teres um piloto como ele.
- Mas tu em compensação tens o finlandês.
- É verdade, mas... só para o ano.
- Com o carro-turbina?
Bruce riu-se, acompanhado por Pete. Sabia-se que Bruce estava a experimentar uma solução radical, que tinha visto em Indianápolis, e que queria aliar a outra solução técnica que estava a ser experimentada, as quatro rodas motrizes. Pete sempre desconfiava dessas soluções técnicas, e era simplista: mecânica acima de tudo, embora soubesse ser pragmático o suficiente para aceder à aerodinâmica. Sabia que, para obter resultados naquele ano, tinha de ser conservador e optar por soluções comprovadas... e baratas. Pete deu uma palmada nas costas de Bruce, vendo que tudo estava bem para os lados dele, e seguiu caminho.
(continua)
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