Já escrevi muito sobre o tema. Falar de novo sobre a vida e carreira deste homem que tinha imenso potencial, mas que o destino não o deixou cumpri-lo, sem cair na choradeira e no lugar comum, começa a ser dificil. Mas reconheço que dia é este e que ano é este. Afinal, é um numero redondo.
Spa-Francochamps tem imensa história. Sempre foi um circuito desafiador e enorme, e merece estar na galeria dos clássicos do automobilismo, seja ele pela Formula 1, pela Endurance, quer nos 1000 km de Spa-Francochamps, quer na sua prova de 24 Horas. Mas a sua extensão, bem como o tempo instável daquela parte das Ardenas, já causou variados acidentes, que reclamaram as vidas de alguns pilotos importantes. Richard Seaman, o primeiro britânico da era dos Grand Prix, acabou a sua vida na pista belga. E o pior fim de semana da Formula 1, antes dos eventos de Imola, em 1994, aconteceu aqui, quando Stirling Moss ficou gravemente ferido e os britânicos Chris Bristow e Alan Stacey morreram no mesmo dia, em incidentes separados por minutos.
Foi em Spa-Francochamps que Jackie Stewart teve o seu pior acidente da sua carreira, que o fez acordar para a questão da segurança nos carros e nos circuitos. Durante muito tempo batalhou para que esta pista em particular passasse por imensas obras de reforma, ou que fosse pura e simplesmente banido do calendário. A última prova da Formula 1 no circuito antigo, de 14 quilómetros, foi realizada em 1970, e só voltaram treze anos depois, com o actual desenho.
Stefan Bellof tinha imenso potencial. Sabemos agora que tinha assinado um pré-contrato com a Ferrari para a temporada de 1986, e que tinha feito milagres com o pouco potente (e demasiado leve) Tyrrell 012. Nos Sport-Protótipos, foi piloto oficial da Porsche e era absolutamente audaz. Bateu o recorde de volta do Nurburgring Nordschleife num carro de Grupo C - 6.25,91, com um tempo de qualificação de 6.11,13 - mas também teve um acidente bem feio numa das corridas. Era intrépido, mas por vezes conseguia levar o carro até ao fim sem o estragar.
Em 1985, a equipa oficial dispensou os seus serviços e ele foi correr para a Brun Motorsports, num Porsche 956. A sua imaturidade provavelmente deve ter sido a causa desse despedimento. Derek Bell, que conduziu ao lado dele em algumas corridas, quando não fazia parceria com Jacky Ickx, afirmava que era muito rápido, mas demasiado impulsivo, e que muitas vezes era a sua impulsividade que destruia as suas corridas.
A sua corrida fatal foi um belo exemplo disso: correndo ao lado do local Thierry Boutsen, tinham partido muito atrás na grelha, mas o belga conseguiu recuperar até à frente do pelotão, quando entregou o carro a Bellof. O alemão chegou à traseira de Ickx, e ele tentou impedir de que ele o ultrapassasse, o que o colocou ainda mais impaciente. E quando o tenta ultrapassar, é num local impossivel, Eau Rouge. Era uma aposta: se conseguisse, era um herói. Se não, era um homem morto. Sabemos todos como acabou.
Os anos 80 viram no automobilismo uma série de grandes duelos na Formula 1. Vimos duelos entre Senna e Prost, Piquet e Mansell, Senna e Piquet, Mansell e Senna... o que teria acontecido se incluissemos Stefan Bellof no lote? Teria sido louco? Teria puxado os limites? Teriam acabado na gravilha ou pior? Não sei e ninguém sabe responder a estas perguntas. Sabiamos que era audaz e com pouca paciência. E sabemos nisso no seu pior exemplo: a ultrapassagem "impossivel" que fez a Jacky Ickx no Eau Rouge, faz hoje 25 anos.
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