terça-feira, 14 de junho de 2011

A entrevista a Adrian Newey à Autosport portuguesa

Na semana que passou, a Autosport portuguesa fez uma entrevista exclusiva a Adrian Newey, provavelmente o melhor projetista da atualidade, pois é ele que projetou os Red Bull que conquistaram os títulos de pilotos e construtores em 2010. Mas a Red Bull é apenas a sua mais recente paragem, depois de passagens pela March, Williams e McLaren, onde projetou carros ganhadores, como o Williams FW14 ou o McLaren MP4-13. Feito por Luis Vasconcelos, explica um pouco o segredo para fazer carros vencedores.

INOVAR É A MINHA PAIXÃO

Que Adrian Newey é o homem na base do sucesso da Red Bull, ninguém duvida. Mas o inglês tem métodos pouco comuns na F1 e mais poder dentro da equipa que a generalidade dos seus rivais. Foi para ficarmos a conhecer um pouco melhor o último génio da F1 que o entrevistamos, numa altura em que o futuro da categoria, para além do final de 2012, está a ser definido. Homem de poucas palavras, Adrian Newey passa por ser muito reservado em público, mas quando o tema lhe agrada poderemos ter a certeza que vamos ouvir uma explicação completa e sem estar com contemplações para o politicamente correto.

Talvez por isso, o homem forte da Red Bull mantenha um belíssimo relacionamento com Patrick Head, com quem trabalhou na Williams durante seis anos e meio e nunca se entendeu com Martin Withmarsh, que tende a usar 500 palavras quando apenas 50 bastavam, mas que raramente mostra exatamente o que está a pensar. Mais do que um organizador de equipas, que parece ser o papel reservado aos diretores técnicos modernos, Adrian Newey é um criador por natureza, sendo a grande inspiração do espirito inovador que é notório no departamento técnico da Red Bull.

O nosso comum amigo
Ivan Capelli, que trabalhou com Newey na Leyton House entre 1988 e 1990, descreveu-nos o inglês como "o tipo de projetista que é capaz de estar a preparar um barbecue para os amigos, quando tem uma ideia para uma parte do carro, deixa tudo no grelhado e vai desenhar aquilo que lhe veio à cabeça, sem noção do tempo que está a utilizar. É certo que queima a carne toda, mas de certeza que fica satisfeito com o trabalho feito para melhorar o carro".

Face a essa imagem, Newey sorri e admite: "Criar e inovar é a parte do trabalho que mais adoro. Como lider técnico da Red Bull, tenho muitas outras coisas com que ocupar, desde a organização até à execução em pista, mas o que mais me agrada é ter a possibilidade de olhar para o projeto como um todo, dar um passo atrás e ver que áreas poderão ser melhoradas com ideias novas.

É claro, também, que não trabalho sozinho e tenho comigo engenheiros que pensam da mesma forma. Nao me agrada fazer apenas a evolução dos conceitos que já exploramos: gosto de procurar outros caminhos para ganhar eficiência, pois a evolução técnica não se pode fazer trilhando sempre os mesmos caminhos. Temos de procurar novos caminhos, novos desafios, e é isso que me agrada mais.
"

EQUILIBRIO NECESSÁRIO

Considerado um mago da aerodinânica, Newey não parece nada agradado com o caminho que a FIA quer impor para a F1, pois um dos objetivos declarados das regras previstas para a 2013 é o de poder retirar importância à aquele elemento, alegada para se poder assistir a mais ultrapassagens. Para Newey, "temos é que procurar um bom equilibrio. Existem três elementos fundamentais para o desempenho dum F1, agora que todos temos os mesmos pneus: o piloto, o motor e o chassis. E é importante que todos esses elementos tenham um peso semelhante na competitividade da cada monolugar. Se passarmos a ter uma categoria em que o piloto que faz toda a diferença, quem tiver mais dinheiro contrata os melhores pilotos e ganha o campeonato. Se tivermos uma formula dominada pelos motores, duas ou três equipas vão dominar tudo. Por isso acredito num compromisso como o melhor caminho a seguir."

Com contrato até ao final de 2014, Newey admite que o seu futuro para além deste ponto dependerá do caminho a seguir pela F1: "É claro que no que toca ao chassis é a aerodinânica o elemento mais importante na definição da sua competitividade e, como sabes, é uma área que fascina imenso. Por isso, se passarmos a ter imensas limitações no que se pode fazer a nivel aerodinâmico, ao ponto de ser impossivel fazer a diferença na competitividade dum carro por esse caminho, a F1 deixa de ser atrativa e, penso, pouco interesse tanto para os técnicos como para os espectadores mais conhecedores."

OS CIRCUITOS FAVORITOS

Dadas as suas características, não é surpreendente que os carros de Adrian Newey tenham ganho onze dos 21 Grandes Prémios disputados no Circuit de Catalunya e doze dos últimos vinte que se correram em Silverstone. Como explica o responsável técnico da Red Bull, "esses são circuitos onde predominam curvas de média e alta velocidade, como Spa e Suzuka, onde um piloto tem de utilizar todo o seu talento. É nesse tipo de circuitos que pode ver aquilo para que um F1 foi concebido: para andar o mais depressa possivel nas melhores curvas do mundo!

Basta olhar para a percentagem do tempo por volta em que os carros estão em curva para se perceber que Silverstone, Barcelona e Suzuka são as pistas em que a carga e a eficiência aerodinâmica são mais importantes. Passa-se mais tempo em curva nessas pistas do que na maior parte dos outros circuitos permanentes, o que recompensa quem tenha um carro do ponto de vista mais eficaz do ponto de vista aerodinâmico. E este tende a ser o caso dos meus carros...
" conclui com um sorriso quase embaraçado.

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"O SEBASTIAN É ESPECIAL!"


Numa temporada em que a Red Bull tem dominado os acontecimentos, só Sebastian Vettel tem ganho Grandes Prémios, enquanto Mark Webber tem passado maiores dificuldades. Sem querer abrir muito o jogo, Newey admite que, "o Sebastien é... especial, mas os dois são muito bons pilotos, com imenso talento. Só que o Sebastian passou um belo e sereno inverno, confortado pela certeza que era Campeão do Mundo e de que não tinha mais nada que provar. Penso que o Mark teve um inverno menos tranquilo..."

Para Newey, os pneus também explicam a razão pelo qual este ano Vettel tem sido mais rápido que Webber: "
Penso que se adaptou mais facilmente aos Pirelli, mas o Mark está a fazer progressos, como se viu quando fez a pole-position em Barcelona. Mas todos estamos ainda a aprender como funcionam estes pneus, pelo que é natural que um piloto se adapte mais depressa do que o outro, da mesma maneira que algumas equipas apenderam mais depressa do que outras."

"RENAULT FOI A SURPRESA"

Pouco dado a comentar o trabalho das outras equipas e engenheiros, Newey tem de ser levado suavemente para esse campo para dar uma opinião mais direta. A inovação que é o sistema de escape da Renault foi o caminho que encontramos para para que abrisse um pouco o jogo, com o lider técnico da Red Bull a admitir que, "do ponto de vista da evolução em relação ao final de 2010 não restam dúvidas que a Renault foi a equipa que efetuou as principais mudanças e deu o maior passo em frente. Eles foram muito agressivos no seu programa de desenvolvimento, pensaram muito para além do que seria a evolução óbvia do carro e, por isso, tehno de cumprimentá-los. As pessoas falam muito nos escapes do R31, mas existem outras áreas em que a Renault correu riscos e a julgar pelo andamento que o carro já mostrou em algumas circunstâncias, esses riscos vão dar bons frutos para a equipa. Já os outros acabaram, mais ou menos, por fazer a evolução lógica que já tinham no ano passado".

Confrontado com as criticas de conservadorismo da Ferrari, que acabaram por levar ao despedimento de Aldo Costa, Newey joga à defesa, afirmando que "não diria que foram necessáriamente conservadores, mas é verdade que evoluiram os conceitos vistos no pano passado. Dado que tinham um carro muito competitivo em 2010, não posso dizer que tenha sido a opção errada, mas eles não parecem satisfeitos com o carro que têm entre mãos."

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