Sejamos honestos, tivemos um grande fim de semana automobilistica. Uma das 24 Horas de Le Mans mais marcantes em vinte anos, com um duelo Peugeot-Audi que terminou com dos carros separados por 14 segundos, o que é incrivel numa corrida de Endurance. E pelo meio, dois acidentes espectaculares com os Audis de Mike Rockenfeller e Alan McNish, que demonstrou a enorme resistência dos chassis alemães e do automobilismo em geral.
Poucas horas depois, assistimos embasbacadas não a um, mas a dois Grandes Prémios do Canadá, separados a meio por duas horas, devido à pesada chuva que caiu no Circuit Gilles Villeneuve. Como um amigo meu dizia, "assistimos às Quatro Horas de Montreal, prova de Resistência a contar para o Campeonato do Mundo de Formula 1". De fato, foi uma resistência à nossa paciência, mas valeu a pena devido ao final imprevisivel que teve. É como digo: acho que todos os anos alguém invoca o espírito de Gilles Villeneuve só para assegurar que esta corrida nunca será aborrecida.
Mas reservei a 5ª Coluna desta semana por causa de Le Mans. E como o assunto é delicado, decidi que seria mais útil escrever aqui do que noutro lado. E tratar do assunto com pinças. Quem seguiu as 24 Horas de Le Mans em Portugal - a propósito, adorei a cobertura feita pela Eurosport, muito viva e muito bem feita - reparou que, para além dos acidentes e das lutas entre Audi e Peugeot, o carro numero nove, tripulado por Sebastien Bourdais e Simon Pagenaud, que o terceiro piloto desse carro, Pedro Lamy, foi o menos utilizado dos três, ao pilotar apenas duas horas, sobrecarregando os outros dois pilotos, e provavelmente poderá ter tido influência no resultado final.
Sobre esse assunto, Lamy escreveu o seguinte na sua habitual coluna na Autosport (AS) portuguesa: "Obviamente que não posso dizer que estou contente com a decisão da equipa de me manter fora do carro, mas não posso alongar-me, quando ainda não me deram uma explicação sobre essa decisão. Sou um piloto profissional e obedeço às ordens de equipa, mas sinto que podia ter corrido de outra forma e que eles foram injustos comigo. Os meus colegas estiveram mais rápidos do que eu, mas em outras ocasiões fui eu que estive mais rápido, como aconteceu em Spa".
Mais adiante, escreve: "Entrei para a Peugeot há cinco anos, estou neste projeto desde o começo e contribui muito para para chegarmos à posição onde estamos. Desde então houve muitas mudanças, muitos pilotos novos que entraram e outros que sairam. O carro tem muito de mim, mas também dos meus colegas de equipa".
Uma explicação politicamente correta e que me faz ficar de pé atrás sobre algumas declarações que li no "calor da batalha", desde o fato de ter dito que "eles castigaram-me e Deus os castigou" até outra que diz "esta foi a última prova que corri ao serviço da Peugeot", que alguém leu no fórum do Sebastien Bourdais e me mandaram para a caixa de comentários do meu blog. Há especulações sobre a razão de ele ter sido colocado de lado, e uma delas fala que foi visto a conversar na boxe da Audi. Francamente, com tais e tantas declarações, são muito radicais até para alguém como Lamy. E é por isso que trato aqui com pinças e num artigo de opinião, porque nesse mesmo artigo do AS, Lamy conclui: "Agora espero continuar ligado à Peugeot durante mais tempo. É uma equipa que conheço e uma casa onde me sinto bem".
Mas há algo que todos concordam e digo diretamente: Olivier Quesnel, como diretor desportivo, é inferior a Wolfgang Ulrich. Nas últimas duas edições da prova de Endurance, deu enormes tiros no pé. Em 2010 forçou os seus carros no sentido de humilhar a Audi, que naquele ano estava claramente em inferioridade. Isso resultou na explosão dos três carros e uma vitória caída do Céu à Audi. Este ano, com dois carros eliminados de forma espectacular, a Peugeot tinha um carro mais eficiente do que a Audi, como foi demonstrado em Spa-Francochamps. Mas com um carro mais resistente - os três chegaram ao fim - não conseguiram bater um Audi seguro por arames, pois Dr. Wolfgang Ulrich disse depois que o carro guiado por André Lotterer sofria de um furo lento. Em suma, a sorte protegeu a Audi e mais uma vez, Quesnel e a Peugeot saíram embaraçados, para dizer o mínimo.
Em suma, mais do que simples chauvinismo francês ou teimosia de Quesnel por algum assunto mesquinho, acho que foi mais uma vez um grande tiro no pé por parte de Olivier Quesnel, tal como acontecera em 2010. Claro, a Audi agradece sempre. E quanto ao Lamy, a ser verdade o que se fala por aí, é uma pena que tal parceria chegue ao fim desta forma tão mesquinha.
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