quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A imagem do dia



A Formula 1 ia para Watkins Glen, em 1978, em jeito de rescaldo. Não só por causa do título mundial, decidido a favor de Mário Andretti, mas também por causa do acidente da primeira volta do GP italiano, que causou a morte do sueco Ronnie Peterson, companheiro de Andretti na Lotus e o segundo classificado no campeonato. 

Os pilotos, na sua busca por segurança, procuravam também um culpado pelo que aconteceu, e alguns acharam que esse seria Riccardo Patrese, piloto da novata Arrows, criada naquele ano depois de uma cisão na Shadow. A marca, feita pelas iniciais dos seus proprietários - Alan Rees, Franco Ambrosio, Tony Southgate, David Wass e Jackie Oliver, com mais um "R" para completar o nome - tinha conseguido alguns bons resultados, nomeadamente o segundo lugar no GP da Suécia, nas mãos do próprio piloto italiano.  

Contudo, nesses tempos, tinha a sua própria polémica, quando o FA1, chassis desenhado por Southgate, foi contestado pela Shadow, que o achou muito parecido com o DS9 - tinha de ser, foram projetados pela mesma pessoa! - e achou que tinha direito a ela, afirmando que era uma cópia. O caso foi a tribunal, em Londres... e a Shadow ganhou, sendo obrigados a fazer um carro diferente... mas não muito. 

Em Itália, Patrese largou entre o Ferrari de Carlos Reutemann e o Copersucar de Emerson Fittipaldi, e na largada, ficou ao lado de James Hunt. O britânico assustou-se e ele tocou no Lotus de Peterson, que também o ultrapassava. Contudo, no final, o britânico da McLaren afirmou que Patrese o tocou, e durante muito tempo passou essa ideia. E foi com isso que Hunt influenciou outros pilotos para que penalizassem Patrese, impedindo-o de alinhar no GP americano, em Watkins Glen.

O grupo, que tinha gente como Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, Mário Andretti e outros, ameaçou boicotar a corrida se aceitassem a inscrição de Patrese, e estes, de uma certa forma, obedeceram à sua pressão. O italiano tentou arranjar uma ordem do tribunal para levantar essa proibição, mas sem sucesso.  Ele voltaria para o GP do Canadá, e acabou na quarta posição, sem excessos ou perigos, mostrando que podia ser rápido.  

Mas Patrese nunca perdoou Hunt, especialmente porque ao longo dos anos seguintes, quando foi comentador da BBC, sempre o responsabilizou pelo acidente fatal. Só muito mais tarde, quando Hunt morreu - e curiosamente, na última temporada de Patrese na Formula 1... - é que a justiça passou a ser mais suave para o italiano, sendo reposta a verdade. E claro, durante muito tempo, as pessoas acreditaram nele. E em relação ao que fizeram a ele, há uma expressão inglesa para aquilo que os pilotos fizeram: "kangaroo court", ou seja, julgamento pelas suas próprias mãos. E isso quase sempre não é justiça, é o seu contrário.       

Sem comentários: