Quando se anunciou a entrada de Marcus Winkelhock na Spyker, em Julho de 2007, aproveitei a oportunidade de elaborar e publicar uma biografia do seu pai, Manfred, um dos alemães que correu na Formula 1 nos anos 80, altura em que não eram muitos e não tinham o impacto que têm agora. De facto, a Alemanha teve construtoras e escuderias na Formula 1, e Winkelhock correu numa, a ATS do irascivel Gunther Schmid, mas pilotos de jeito, tirando Jochen Mass e Rolf Stommelen, o período entre 1961, com Wolfgang Von Trips e 1991, ano em que Michael Schumacher iniciou a sua carreira, foi um deserto.
Mesmo no seu tempo, Winkelhock tinha a sombra de um seu conterrâneo mais rápido, Stefan Bellof, do qual se detinham imensas esperanças, dada a sua velocidade e uma boa dose de loucura. O que não se sabia, quando Manfred morreu, era que Stefan Bellof iria ter pouco mais de quinze dias de vida...
Muitos tem uma boa impressão de Manfred. Uma personalidade divertida, da mesma estirpe de Hans-Joachim Stuck, um verdadeiro "palhaço". Uma das fotos mas famosas dele é do inicio da carreira na Formula 1, quando se mete com uma das meninas da placa nos momentos que antecedem o GP do Brasil de 1982, corrida essa que termina no quinto lugar, a unca vez que conseguiu pontos. Ele estava apenas na sua terceira corrida da sua carreira, depois de um começo no GP de Itália de 1980, a bordo de um Arrows, substituindo o seu compatriota Jochen Mass.
Essa oportunidade acontecera semanas depois do seu maior susto da vida, em Nurburgring. Em 1980, mesmo depois da Formula 1 ter rumado a Hockenheim, o Nordschleife, vulgo o "Inferno Verde" era usado pelas utras categorias. Formula 2, Mundial de Sport-Protótipos, o DRM - antecessor do DTM - usavam frequentemente o mitico circuito de 22 quilómetros e mais de uma centena de curvas. E aqueles carros já não eram como os dos anos 60, já tinham soluções aerodinâmicas como o efeito-solo. E no Flugplatz (nome tão apropriado, diga-se...) Winkelhock deu um "loop" completo, saindo do carro a sacudir o pó, depois de ter apanhado o susto da vida dele...
Para além das passagens pela ATS, correu na Brabham e RAM, testou máquinas como um Toleman e sabendo que as suas oportunidades na Formula 1 não seriam muitas, decidiu fazer "perninhas" no Mundial de Sport-Protótipos, a bordo de um Porsche 962 da Kremer Racing.
Ainda bem que todos se lembram de assinalar os 25 anos da morte de Manfred. Uma pessoa cuja carreira e vida acabou na curva dois do circuito de Mosport, quando foi vitima de um furo, ou de uma falha nos travões, algo que nunca foi totalmente esclarecido. Ainda por cima, entrou no carro, um Porsche 962, pouco minutos depois de lhe ter sido entregue pelo seu companheiro, o suiço Marc Surer. Semanas depois, com o acidente mortal de Beloff e um outro acidente que causou lesões a Jonathan Palmer, as equipas de Formula 1 decidiram meter clausulas exclusivas que os impediam de correr noutras categorias.
Para nós, os que gostamos, percebemos e não deixamos passar estas datas em claro, estas são boas ocasiões para não deixarmos cair no esquecimento estes homens que pagaram o preço mais alto pela modalidade que tanto amavam. É o mínimo que podemos fazer.
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