O terceiro convidado desta série de entrevistas tem uma escolha interessante de se saber, pois não é todos os dias que se conhece um brasileiro que goste e entenda de ralis tanto quanto a Formula 1. Não é o primeiro a fazer tal escolha, mas Marcio Kohara, atualmente com trinta anos de idade e dono do blog Col de Turini, batizada com famosa classificativa do Rali de Montecarlo, já tem experiência por trás quando escreve sobre automobilismo.
Para além do Col, Kohara escreve em outros cantos do automobilismo como o site Bestlap ou agora, no Pódium GP, onde escreve sobre ralis e faz parte de uma extensa equipa. Em suma, podemos dizer que esta é a primeira entrevista a um dos meus colegas de sitio.
1 – Olá Márcio, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?
Olá, Speeder, o prazer é meu. Sobre o Col de Turini, bem... Surgiu meio que por acaso. Acabou saindo um blog opinativo, sobre o que eu gosto no automobilismo, e muitas vezes postando coisas que acabariam em um simples resmungo. Já tinha escrito em alguns blogs e sites, mas nunca tinha feito um próprio, escrevendo sério sobre o esporte. Claro que de vez em quando saem coisas não tão sérias, mas no geral tenho me comportado bem no blog. (risos)
2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?
Bom, não foi planejado. No momento em que pensei em fazer um blog, pensei em algumas outras possibilidades, mas achei que este seria um ótimo nome, afinal 'Col de Turini' é o trecho mais emblemático do Rali Mundial. Tudo bem que pretendia dar um nome menos pomposo - que soasse menos pretensioso, que não gerasse muitas expectativas - mas a ideia da homenagem foi mais forte. No fim das contas, serve como um incentivo para tentar manter o blog e honrar a história do nome com que o batizei.
3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?
Sim. Eu fiz parte da equipe do Bestlap, um site independente de automobilismo, surgido com uma turma do Forum Velocidade. Escrevi, por um tempo, o Worstlap, que era um blog satírico/humoristico. Mantenho, também, uma coluna [agora semanal] no Bestcars, site especializado no mercado automobilistico. E agora faço parte da equipe do PódiumGP, onde sou, orgulhosamente, seu colega.
4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?
Bom, minha memória é horrível, o que significa que sou péssimo com datas. Mas, pesquisando nas estatísticas, digo que o Col começou no dia 9 de junho do ano passado e teve, até o momento, 3,653 visitantes. É um bom número.
5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe... ou não?
Puxa... Como disse, minha memória é péssima. Para piorar, sou bem desorganizado, o que dificulta este tipo de citação. Mas o post mais lido da história do Col é um que foi retuitado pelo Ico, sobre a confusão das Lotus também na GP2. Teve algo em torno de quatro vezes mais visitantes do que a média, número que chama a atenção.
6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?
Bom, reconheço que nunca parei para pensar nisso. Mas tento escrever sempre algo a mais do que surge por aí, noticiado pelos grandes portais. Seja misturando um pouco do 'mundo real', digamos assim, seja simplesmente ligando assuntos que, pelo menos a princípio, não parecem tão ligadas. Acho que isso diferencia um pouco o Col do restantes.
7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?
Gosto muito do Joe Saward. Sempre tem alguma coisa interessante para ler por lá. Em português, leio sempre o Blog do Ico, o Formula UK do Mike Vleck, o a Mil por Hora do Rodrigo Mattar e o teu Continental Circus.
8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?
A primeira que me lembro é o GP dos EUA de 1986 -Detroit. Nem tanto pela corrida, mas mais pela vitória do Senna, e da volta com a bandeira. Para uma criança, marca bastante, ainda mais se considerarmos que era o dia seguinte da eliminação da seleção brasileira da Copa de 1986.
9 – E qual foi aquela que mais te marcou?
Olha... Ímola 1994 foi marcante. Afinal foram as primeiras mortes que testemunhava num final de semana de F1, e um deles era uma lenda das pistas - o primeiro e único campeão de Fórmula 1 a morrer numa corrida da categoria - e o cara que me fez gostar disso. Mas, como gosto dessa coisa, não gostaria de ficar com uma lembrança ruim. Diria que a última corrida foi sensacional (não pela corrida em si, mas pelo cenário que se formou, da briga pelo título e pelo desfecho improvável. Diria que é a maior decisão de título da história). Como corrida, guardo o GP da Europa 1999 com carinho na memória (pela vitória da Stewart e pela corrida absurda que foi).
10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?
Bom, como disse há algumas respostas, Senna foi o piloto que me fez gostar disso. Depois aprendi que o automobilismo não se resume a isso, mas Ayrton Senna me fez gostar de F1 (e por um motivo fortuito, muito antes dele se tornar a lenda que virou). Também foi o único que pude ver a carreira inteira na categoria. Agora, tirante razões sentimentais e pessoais, não há como negar que os três tem importância fundamental para o automobilismo brasileiro, cada um em sua era e cada um com o seu motivo. Se Senna era o homem que levantava as multidões, que colocou a categoria nos corações do povo por aqui, Piquet foi campeão com a inteligência e Fittipaldi tem como marca o empreendedorismo e o pioneirismo. Não há como tirar o mérito de nenhum deles.
11 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?
Hmmm... Pergunta difícil. Mais difícil que separar uma era na categoria é separar um único nome. Claro que, de novo evocando os motivos pessoais, Alain Prost foi meu alvo por um bom período, então ele seria o nome a ser citado. Mas não sei se ele mereceria tamanha deferência. Difícil não citar nomes como Juan Manuel Fangio, Michael Schumacher, Jackie Stewart, Jim Clark, Gilles Villeneuve, Ronnie Peterson... Nos últimos tempos, Fernando Alonso tem sido marcante, dentro e fora das pistas.
12 - Quem é que tu achas que é o favorito para a temporada de 2011?
Acho que Sebastian Vettel, pelo que parece que a Red Bull vem procurando não mostrar na pré-temporada, é o nome a ser batido. Ainda mais depois de ter tirado o peso da conquista do título das costas -e pela excelência de Adrian Newey. Bem, não posso dizer que ficaria chateado com o bi-campeonato do alemãozinho. Mas, se bobear, sempre tem um Fernando Alonso pretendendo ser o mais jovem tri-campeão da história da categoria.
13 - Achaste bem o cancelamento do GP do Bahrein?
Pela confusão política local sim. Mas quem poderia dizer se há ou não condições de se realizar a corrida seriam os organizadores. Ainda bem que houve bom senso. Tomara que se entendam por lá. Mas seria curioso ver um GP do Bahrein com alguma tensão, com medo de que um manifestante maluco invadisse a pista. Pelo menos Rubens Barrichello haveria de gostar. Afinal ele venceu as duas últimas corridas em que tivemos problemas de invasão da pista. hehehe
14 - Qual é a tua opinião sobre a confusão entre a Lotus Cars e Tony Fernandes pelo direito a usar o nome “Team Lotus”?
Não vou falar que acho Tony Fernandes um sujeito de reputação ilibada, porque não posso ser ingênuo a ponto de achar que é sem ter provas. Mas, nesse caso, ele parece ter razão. Um dos motivos para que eu acredite nisso é que, afinal, a Lotus Cars nunca entrou em acordo com David Hunt para adquirir a marca. Fernandes, de alguma forma, conseguiu este acordo e comprou o direito de uso da marca. Me parece uma atitude mais justa e ética do que simplesmente tentar apagar a história e misturar alhos com bugalhos, confundindo a opinião pública.
15 - A grande ausência de 2011 vai ser Robert Kubica. Qual foi a tua reacção quando soubeste do acidente e o que achas dos pilotos de Formula 1 poderem fazer outras atividades, como ralis?
Fiquei bem chateado ao saber desta notícia. Num primeiro momento a sua reação é tentar imaginar que você se enganou, ou que as pessoas se enganaram, que não era ele, na verdade. Depois que a ficha cai, você fica chateado. Simpatizo com Robert. Parece ser um sujeito bacana e estava carregando a Renault nas costas, mostrando o quão ótimo piloto ele é. Gostaria de vê-lo numa equipe grande e disputando o título. O carro desse ano poderia ajudá-lo a realizar isso. Mas, se não é para acontecer, não tem jeito. Fica a torcida para que ele volte melhor do que estava antes.
Sobre os pilotos poderem fazer outras atividades... Bom, o normal é isso, não é mesmo? Não me parece saudável que alguém pense, coma, viva apenas em função de uma atividade, por mais especializada que ela seja. E ainda o Pole dizia que era uma forma de aprimorar os seus reflexos, o que lhe fazia um piloto melhor. Há um certo preconceito contra o rali, acredito. Principalmente porque Mark Webber caiu da bicicleta duas vezes na temporada passada, e em uma delas quase morreu. Mas nunca ouvi ninguém falando que era um esporte perigoso... É o que o Petter Solberg disse. Você pode estar no chuveiro e cair no chão. Pode acontecer em qualquer lugar.
16 - Achas que Nick Heidfeld é um bom substituto?
Acho que sim. Não é brilhante, não acho que vá carregar o time nas costas - ficaria bem surpreso se isso acontecesse - e a Renault brigasse por pódios e vitórias, por exemplo. Mas, entre os nomes disponíveis, era o mais gabaritado que tinha.
17 - Já começou o Mundial de ralis, com carros e marcas novas, como a Mini. Achas que vai ser de novo Sebastien Löeb ou os pilotos da Ford como Mikko Hirvonen e Jari-Matti Latvala tirarão o ceptro das mãos?
Ainda não sei bem o que pensar. No ano passado o começo do campeonato também teve vitória da Ford na Suécia e depois o que se viu foi um massacre da Citroen. Como são muitas mudanças, ainda temos um cenário nebuloso pela frente. Acredito num cenário um pouco mais equilibrado do que nos últimos anos, mas ainda não tenho motivos para botar muita fé nos pilotos da Ford.
18 - Que impressão tu tens de Sebastien Löeb?
Bem, Loeb é um “esculacho”, digamos assim. Um nome daqueles que a gente lamenta que não tenha o reconhecimento que merece por não ter pilotado na Fórmula 1 – e olha que ele tentou - num GP de Abu Dhabi aí. É abusrdo o que ele consegue fazer no comando de um carro, mesmo não parecendo que é tão rápido. Coisa para poucos.
19 - E achas que Kimi Raikonnen está se a dar bem nesta nova vida como piloto de ralis?
Acredito que Kimi poderia ter escolhido começar um pouco mais abaixo, mesmo que fosse no IRC, por exemplo. Seria útil na curva de aprendizado que, no rali, é bem complicada. Mas também acho que a sua ideia era competir com um carro da classe WRC e a chance era na temporada passada, já que neste ano os WRC mudam para os Super2000 1.6 turbo. Realizado o sonho, não faria sentido dar um passo para trás agora. Acho que, na medida do possível, Kimi vem bem. Ainda não é constante como devem ser os pilotos de rali, mas talento é algo que não falta para ele.
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0 – Que expetativas tens sobre Daniel Oliveira e Armindo Araújo, que vão pilotar os Minis semi-oficiais em 2011?
Acho que depende muito do que os Countrymans oferecerão neste primeiro ano. A Prodrive entende deste negócio de rali, mas sabe-se lá até que ponto os Minis entrarão desenvolvidos. Se entrarem bem, podem até brigar por pontos, mas eu ficaria absurdamente surpreso com isso no primeiro ano. Se não, andam atrás, o que me parece a lógica.
Numa comparação entre os dois, a tendência é que Armindo ande à frente de Daniel Oliveira, já que o luso tem alguns anos de experiência nos ralis que compõem o WRC e o brasileiro não - teria que começar suas notas do zero.
Por outro lado, a entrada de Oliveira no WRC pode ser uma oportunidade para que os brasileiros entendam que o automobilismo é muito mais do que a Fórmula 1. Se não houver o tradicional oba-oba e a criação de expectativas inatingíveis que a imprensa local faz para os brasileiros, a experiência dele deve ser bem positiva. Mas desconfio que imaginar este cenário é pedir muito.
18 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?
Muitas vezes a espera também acontece durante a corrida, quando se está a ver o GP do Bahrein, por exemplo (risos). Mas, falando sério, enquanto torcedor, é evidente que as expectativas se acumulam e o desejo de que os carros se engalfinhem em batalhas por posições dure para sempre.
19 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?
Bom, sim, já experimentei andar de kart algumas vezes. Minha habilidade ao volante, da mesma forma que a minha aptidão para os esportes, é bem pequena. E, se considerado o meu físico não adequado para a prática desportiva, posso dizer que não sei como se sente o piloto mais rápido da pista em qualquer momento (gargalhada). Mas, falando sério, acredito que a sensação de euforia ao se guiar um veículo rápido é nítida, o que dá a noção de porque algumas pessoas parecem viciadas em velocidade. Não é só isso, imagino. Mas dá uma noção do que faz alguém pegar um carro e tentar andar o mais rápido possível...
20 - Tens algum período da história do automobilismo que gostarias de ter assistido ao vivo?
Acho que a década de 1970 é um período bem interessante, com técnicas de pilotagem ainda não destruídas pela dependência da aerodinâmica na Fórmula 1 (Ronnie Peterson). O começo da década de 1980 também é um período que gostaria de ter visto com maior detalhamento - não apenas na F1, mas o WRC teve um período memorável então. Felizmente são periodos relativamente bem documentados.
21 – Que impressão ficas quando vês os vídeos de Antti Kalhola?
Os vídeos dele são muito bons. Bem montados, com acabamento primoroso. A matéria prima é importante, mas saber como agir com as imagens é tão importante - ou mais, até - do que apenas ter as imagens. E o que ele faz é surpreendente, ainda mais para um moleq...er... jovem com os seus 20 anos. Pena que o velho octogenário pretende comandar os destinos das imagens do circo dele com mão de ferro e fica perseguindo o garoto.
22 – E já agora, viste alguma vez o Top Gear? Se sim, que impressão tens sobre o programa?
Sim, adoro ver o programa. Para quem gosta de carros, é O programa. Os três apresentadores gostam de carros, o que é algo positivo. E a qualidade das imagens é muito interessante. Diferente do que temos por aqui. Vi as outras versões também. Da australiana não gostei muito, mas gostei bastante da primeira temporada da versão norte-americana.
23 – Para finalizar, que planos tens para o teu futuro próximo?
Hmmm... Continuar escrevendo o Col de Turini é um bom começo (risos). Mas acho que fazê-lo disciplinadamente é um bom caminho. E, de preferência, fazendo com qualidade. Acho que é isso.
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