Todos os dias, sempre que abro o computador, vou ao meu blogroll ler o que os outros já escreveram. Joe Saward, Flávio Gomes, o Rianov, a Julianne Cerasoli, o Pitpass, o Ico ou o Mike Vlcek... enfim, leio imensa gente e são leituras valem sempre a pena, pois muitas vezes me inspiram ou chamam a atenção de coisas que merecem ser discutidas e refletidas e que muitas vezes o fluxo de noticias não nos deixa pensar. É algo que tudo e todos fazem. Sei que alguns fazem isso em relação a mim e também sei que muitos escrevem posts inspirados neste blog. Não há cópias, não há plágios, há apenas referências que por vezes, na altura do café da manhã, nos dão um motivo para trabalhar para o resto do dia.
Sendo assim, hoje o Ico despertou-me sobre o regresso das montadoras ao panorama desportivo, quer da formula 1, quer dos ralis. Toda a gente sabe que a qualquer momento, ainda neste mês, a Volkswagen (VW) irá apresentar os seus projetos desportivos no WRC. Uns falam que vão anunciar aqui em Portugal, durante o fim de semana do rali, outros falam que afinal deixaram o Scirocco - fabricado em Palmela - e vão para o Polo, e que até querem Sebastien Löeb, porque ele vai acabar o seu contrato no final desta temporada, se calhar com mais um título na mão. O francês já disse que não, o que poderemos assumir que eles já o contactaram.
Estas noticias sobre a marca de Wolfsburgo significam que pelo menos na industria automobilística, o período de vacas magras está a acabar. As vendas estabilizaram e até aumentaram nos mercados emergentes, os lucros voltaram e já há verbas para os seus programas desportivos. Em suma, depois das fugas de 2008 e 2009, parece que 2012 poderá ser o inicio do regresso das marcas à competição. A VW, sendo alemã, e num país que apresenta crescimento de três por cento ao ano - um feito, num continente com crescimentos anémicos, planos severos de austeridade e alta percentagem de desemprego - quer demonstrar esse regresso aos lucros. E até podem ter planos para entrar na Formula 1 em 2013, como fornecedora de motores.
A industria automóvel, como sabemos, está em ebulição. As marcas estão a apostar forte e feio em tecnologia híbrida e elétrica, enquanto não desenvolvem os sistemas de captação de hidrogénio e respetiva conversão em combustível, para combaterem os altos preços do petróleo nos mercados, e mesmo as construtoras que estiveram à beira da falência, como a General Motors americana, estão a deixar para trás os tempos dificieis, e começam a pensar nas "montras" que o desporto automóvel lhes oferece.
Contudo, eis os meus temores: apesar deste forte período de vacas magras, em que o sistema financeiro foi sériamente posto em causa, este regresso ao "business as usual" terá os mesmos defeitos que causaram a crise atual, do qual ainda não nos safamos. As empresas estão dispostas a gastar milhões no objetivo do sucesso fácil. A imprensa especializada diz que a VW tem cem milhões de euros disponiveis para gastar nos ralis para o "sucesso já", passando por cima do bom trabalho que a Skoda - que faz parte do Grupo Volkswagen - faz no IRC. Na minha optica pessoal, teria preferido que a Skoda desse o salto para o WRC do que ver a marca de Wolfsburgo a gastar incontilhões a montar estruturas de raíz, contratar engenheiros da Ford e Citroen e tentar os melhores pilotos da nossa praça, sem garantias.
Nesse aspecto, a BMW foi mais esperta: colocou uma das suas marcas satélite, a Mini, nos ralis, e pediu à Prodrive para desenvolver o seu carro, perferindo investir forte e feio no seu motor, e pedindo a outros para fazerem o mesmo. É mais barato e mais compensador do que montar estruturas de raíz, cujos resultados serão à partida mais duvidosos a alcançar. E se a Mini for melhor sucedida do que a VW, com dez por cento do dinheiro que esta gastar, existirão muitos sorrisos em Munique...
E como sabem, a Formula 1 nesta década que passou, ficou cheia de projectos de montadoras que se retiraram em meia duzia de anos, depois de terem gasto centenas de milhões (Jaguar, Honda, Toyota) e nada ganharam ou ganharam muito pouco. As montadoras, que claro, estão de olho na Formula 1, esperam pela aplicação dos regulamentos previstos para 2013 para avançarem com os seus projetos. Ainda não temos a certeza se vão avançar com todo o pacote - chassis e motor - ou somente serão fornecedoras de motores. Mas francamente, perferiria que eles avançassem só com os seus motores. Dos projetos completos, só a Renault teve sucesso, vencendo dois campeonatos de Construtores, e esta está a querer abandonar a Formula 1 aos poucos, vendendo a sua estrutura à Genii Capital e ficando-se pelos motores.
Se as construtoras voltarem em força à Formula 1 mas com os velhos hábitos, isso significaria que nada aprenderam com a crise e com os seus fracassos. E quero acreditar, honestamente, que eles aprenderam algo com esta crise.
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