O calendário de 1991 tinha marcado a sua jornada de abertura nas ruas da cidade de Phoenix, no Arizona, onde pela terceira vez consecutiva, tinha o seu traçado mudado, de forma a tornar mais atraente aos espectadores locais, que continuavam, aparentemente, a ignorar olimpicamente o facto de terem ali o Grande Prémio. Antes de começar a temporada, a FIA decidira alterar ligeiramente o sistema de atribuição de pontos, dando mais um ponto ao vencedor, passando a receber dez pontos em vez dos até então habituais nove. Era a primeira alteração no sistema de pontos desde 1960.
O pelotão da Formula 1 tinha sofrido mudanças nesse Inverno, como sempre. Se na McLaren tudo ficou igual, com Ayrton Senna e Gerhard Berger, na Ferrari, Alain Prost vira partir Nigel Mansell, de regresso à Williams, e no seu lugar tinha o seu compatriota mais jovem, Jean Alesi. A Williams acolhia de braças abertos o regressado Nigel Mansell, agora com 37 anos, e iria repetir a parelha de 1988, já que Riccardo Patrese se tinha mantido na equipa. Quem tinha saído fora o belga Thierry Boutsen, que rumara à Ligier. A Williams tinha contratado a meio do ano o projetista Adrian Newey, e tinham grandes expectativas com o novo carro, o FW14.
A Benetton mantera a dupla do final do ano, constituida pelos brasileiros Roberto Moreno e Nelson Piquet. O chassis, desenhado por John Barnard, ainda não estava pronto para a corrida americana, e decidiram correr com o chassis antigo. Também durante o Inverno decidiram mudar de pneus, passando da Goodyear para a italiana Pirelli.
Na Tyrrell, a equipa estava excitada com a chegada do novo motor Honda V10, e do italiano Stefano Modena, e em conjunto com o chassis 020, as expectativas eram muito altas para o conjunto do Tio Ken. A Brabham tinha um motor V12, da Yamaha, e uma dupla britânica constituida por Martin Brundle e um novato, Mark Blundell. Outro que tinha um motor V12 e com altas expectativas era a Arrows, agora com o dinheiro da japonesa Footwork. O motor era da Porsche e os pilotos eram experientes, os italianos Michele Alboreto e Alex Caffi.
A Lotus teve um Inverno duro. A sua sobrevivência esteve em jogo, e em janeiro, a Lotus Cars vendeu-a para dois engenheiros, Peter Wright e Peter Collins. Melhoraram o chassis 102, arranjaram um motor Judd V10 e foram buscar uma dupla pouco experiente: o finlandês Mika Hakkinen, campeão do mundo de Formula 3 inglesa no ano anterior, e o britânico Julian Bailey. Apesar da inexperiência, muitos consideravam que o jovem Hakkinen era um piloto bastante prometedor.
A Dallara tinha largado nos motores Ford para voltar a ter motores Judd V10. O italiano Emmanuelle Pirro tinha ficado na equipa, tendo agora a seu lado o finlandês J.J. Letho, que tinha estado na agora extinta Onyx durante parte do ano anterior. Na Larrousse, depois de terem ficado com os motores Lamborghini durante duas temporadas, voltaram para a Ford, mantendo a mesma dupla do ano anterior, o japonês Aguri Suzuki e o francês Eric Bernard. Quem agora tinha esses motores era a Ligier, que contratara Thierry Boutsen para a sua equipa, e tinha também acolhido o campeão da Formula 3000 no ano anterior, o francês Eric Comas.
Na Leyton House, a dupla mantinha-se - o italiano Ivan Capelli e o brasileiro Mauricio Guglemin - e os motores eram contudo de outra preparadora, a britânica Ilmor, fundada por dois engenheiros, o suiço Mario Ilmor e o britãnco Paul Morgan, e que tentavam imitar o sucesso de outra preparadora de motores, a Cosworth. Em contraste, a Minardi tinha conseguido algo que poucos pensariam ver: motores V12 da Ferrari! Os piltotos eram os mesmos do final da temporada anterior, os italianos Pierluigi Martini e Gianni Morbidelli.
Cada vez mais para o final do pelotão, as coisas iriam ser a luta do costume. A francesa AGS, com dois carros, tinha o sueco Stefan Johansson e o italiano Gabriele Tarquini, enquanto que a Coloni corria com um carro, e com um estreante, o português Pedro Chaves. Por fim, a Fondmetal, que tinha comprado a equipa Osella no final de 1990 e a rebatizou, corria também com um carro, entregue ao francês Olivier Grouillard.
Por fim, a Formula 1 iria ver duas equipas estreantes, a irlandesa Jordan, com muita experiência nas categorias mais baixas, e a Modena-Lamborghini, quer era a equipa "oficiosa" da marca italiana. Na primeira, o chassis 191 tinha sido desenhado por Gary Anderson, era propulsionado por motores Ford e tinham contratado pilotos com experiência como o italiano Andrea de Cesaris e o belga Bertrand Gachot. Na Lambo, outro dos nomes que era chamada a equipa, a dupla de pilotos era constituida pelo italiano Nicola Larini e pelo belga Eric Van de Poele. Os motores, claro, eram da Lamborghini.
No final, estavam 34 carros inscritos no pelotão da Formula 1, significando que seriam precisas as pré-qualificações para que aparecessem os 30 carros que iriam participar nas qualificações, dos quais apenas 26 iriam largar para a corrida. Nessa pré-qualificação, onde estavam os novatos mais a Dallara, a Coloni, a Fondmetal, passaram os carros de Pirro, Letho, Gachot e Larini, deixando de fora um surpreendente Andrea de Cesaris.
Na qualificação, Ayrton Senna foi o melhor, com o Ferrari de Alain Prost a seu lado. A segunda fila era preenchida pelos Williams-Renault de Riccardo Patrese e Nigel Mansell, enquanto que na terceira fila estavam o Benetton de Nelson Piquet e o segundo Ferrari de Jean Alesi. Gerhard Berger tinha conseguido apenas o sétimo tempo, na frente do segundo Benetton de Roberto Moreno. A fechar o "top ten" estavam os Dallara de Emmanuelle Pirro e de J.J. Letho.
Quanto aos novatos, Bertrand Gachot levara o carro para o 14º posto, à frente de Nicola Larini, o 17º na grelha, e em relação aos não-qualificados, a fava tinha saído ao AGS de Stefan Johansson, ao Lotus de Julian Bailey, ao Ligier de Eric Comas e ao Arrows-Porsche de Alex Caffi.
Na partida, Senna manteve a liderança, com Prost e os Williams atrás dele. O piloto brasileiro começava aos poucos a afastar-se dos seus perseguidores, e no final da décima volta, o avanço era de dez segundos para o piloto francês. Atrás, havia luta entre os dois Williams, com Patrese e Mansell a tentarem ficar com o terceiro posto.
A luta entre os dois pilotos tinha aumentado o ritmo a tal ponto que tinham apanhado Prost e lutavam pelo segundo lugar. Na volta 22, Patrese tentou uma manobra arriscada no final da meta, mas falhou a travagem e saiu pela escapatória. Conseguiu voltar à pista, mas perdera dois lugares a favor de Alesi e Berger.
Patrese tentou apanhar os dois para recuperar o tempo perdido, e na volta 37 tinha conseguido ganhar dois lugares com as desistências do seu companheiro Mansell, vítima de uma falha na sua caixa semi-automática, e de Berger, com a embraeagem partida. Entretanto, Prost tinha trocado de pneus e estava atrás do italiano, que perseguia Alesi. Eventualmente apanhou o francês, antes deste ir às boxes trocar de pneus.
Assim, Patrese estava no segundo posto, mas na volta 50, a caixa de velocidades deu de si e despistou-se à saída da Curva sete. Os dois primeiros a passarem por ali, o Lotus de Hakkinen e o Benetton de Piquet, evitaram-no por pouco, mas não o outro Benetton de Moreno, que arrancou-lhe o seu nariz, acabando as suas corridas por ali. O Jordan de Gachot despistou-se por causa dos seus destroços, mas conseguiu continuar a corrida.
Com Patrese fora de combate, o segundo lugar ficou com Piquet, mas era desafiado pelos Ferrari. Ele tentou aguentar os carros vermelhos, mas estes estavam com melhores pneus e desencadeou-se uma luta entre os três, para na volta 70, o francês mais velho conseguir passar Alesi e Piquet para o segundo posto, pouco depois de se ter livrado de Stefano Modena, que seguia um pouco atrás no seu Tyrrell.
No final, Senna levou o carro até à meta, sem problemas, vencendo a sua primeira corrida do ano. Prost era segundo com o seu Ferrari, e Nelson Piquet o terceiro, no Benetton do ano anterior. Os três tinham feito algo que só se voltaria a ver no GP do Canadá de 2010: todos eles eram campeões do Mundo. Os restantes lugares pontuáveis ficaram os Tyrrell-Honda de Stefano Modena e de Satoru Nakajima, e o Lola-Larrousse de Aguri Suzuki.
A corrida foi boa, sem qualquer tipo de dúvida, mas segundo a organização local, apenas estavam presentes cerca de 15 mil espectadores. Alguns habitantes locais disseram que uma corrida de avestruzes, numa quinta dos arredores, teria levado mais ou menos a mesma quantidade de espectadores... verdade ou mito, aquele seria a última corrida de Formula 1 em solo americano. A Formula 1 só voltaria em 2000, para correr em Indianápolis.
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário