A efeméride foi no passado domingo, na Coreia do Sul, e já falei sobre a sua história esta semana no Portal F1. Mas queria falar de forma mais pessoal acerca da McLaren, porque afinal de contas, é uma das grandes equipas da Formula 1. Pela sua grande história, pelo fato do seu fundador ser um dos homens que mais admiro, por aquilo que fez como piloto e construtor, pelas sólidas bases que deixou para o futuro, após o seu precoce desaparecimento.
Quando no GP do Mónaco de 1966, a primeira corrida da era dos 3 litros, se observou o piloto neozelandês a alinhar no seu próprio carro, creio que a sua longevidade seria algo que Bruce McLaren desejaria, mas provavelmente não esperaria vê-lo alcançar tal numero 45 anos mais tarde. Aliás, neste momento, em termos estatísticos, a McLaren é a segunda equipa mais antiga da Formula 1, apenas superada pela Ferrari.
Falar sobre os 700 Grandes Prémios da equipa de Woking é um feito raro, num mundo em mudança. Martin Whitmarsh dizia no final de semana que passou na Coreia do Sul que durante os 45 anos que a sua equipa participa na categoria máxima do automobilismo, passaram pela Formula 1 mais de 120 equipas, o que demonstra a enorme dificuldade que as equipas têm em sobreviver naquilo que costumam chamar, de forma jocosa, "o Clube das Piranhas".
Sobreviver aos vários desafios, o primeiro dos quais foi o do seu fundador, desaparecido precocemente a 2 de junho de 1970 no circuito britânico de Goodwood, quando treinava com a sua máquina de Can-Am. Com uma boa equipa, constituida por personagens como Tyler Alexander e Teddy Mayer, e um bom piloto como o seu compatriota Dennis Hulme, que ajudou a manter a equipa no seu lugar, a estrutura conseguiu não só aguentar o impacto desse desaparecimento como também partiu dali para o sucesso, nos anos seguintes.
Aliás, nessa altura era uma estrutura de sucesso. Bruce McLaren teve tempo para ver a sua marca brilhar no automobilismo, pois foi ele que deu a primeira vitória da marca na Formula 1, no GP da Belgica de 1968, enquanto que na norte-americana Can-Am, ele e Dennis Hulme venceram tantas corridas que o campeonato de 1969 foi chamado de forma não oficial de "The Bruce and Denny Show", pelo fato de terem vencido todas as onze provas dessa temporada.
E mesmo após a sua morte, pilotos como Peter Revson continuaram a senda vitóriosa da marca. À medida que entravam nos anos 70, já construiam chassis para a IndyCar e em 1972 aconteceu a sua primeira grande vitória através de Mark Donohue, que subuiu ao lugar mais alto do pódio nas 500 Milhas de Indianápolis, um ano depois de Revson ter alcançado o segundo posto na mesma corrida. E quando Gordon Coppuck desenhou o modelo M23, esse sucesso da Indy e da Can-Am transferiu-se para a Formula 1, primeiro com Hulme e Revson ao volante e depois, em 1974, com a Marlboro e Emerson Fittipaldi, os primeiros títulos de pilotos e construtores.
Mas depois de conseguirem repetir o sucesso com James Hunt, em 1976, a equipa atravessou uma fase decadente, ao ponto de em 1980, sem vitórias e pódios, a Marlboro "ordenou" a Teddy Mayer que se fundisse com a equipa que apoiavam na Formula 2, a Project Four, chefiado por um ex-mecânico de 32 anos chamado Ron Dennis. A fusão deu frutos e em 1981, com o MP4/1, o primeiro chassis de fibra de carbono, voltaram às vitórias e ao pelotão da frente. E em 1982, convenceram Niki Lauda a sair da retirada para ver se dava títulos à marca. Conseguiu dois anos depois, com o motor TAG-Porsche Turbo, e com Alain Prost na equipa.
O resto da história é bem conhecido: motores Honda, Ayrton Senna, o dominador McLaren MP4/4, o duelo de titãs entre Senna e Prost que acabou em Suzuka com uma colisão entre os dois... uma história de sucesso com muitos altos e alguns baixos, como a seca de vitórias entre 1993 e 97. Cinquenta Grandes Prémios sem subir ao lugar mais alto do pódio, que fizeram com que já se falasse que Dennis estaria a prazo na estrutura que herdou. Não só provou aos criticos que estavam errados, como apenas só saiu em 2008, "obrigado" por Max Mosley após o "Stephney/Coughlangate", no qual foram obrigados a pagar 100 milhões de dólares de multa, a mais pesada de sempre.
Agora, a McLaren está a pisar novos territórios. Continua a vencer corridas na Formula 1, mas também pensa em construir carros de estrada, com o MP4-12C, o primeiro supercarro da marca, algo que Bruce McLaren ensaiou no final da década de 60. As suas instalações de Woking, desenhadas por Norman Foster, são um portento da arquitectura e aos poucos, pretendem voltar a concorrer noutras categorias, nos GT's. Provavelmente será um regresso às origens, ao ecletismo que Bruce McLaren achava ser essencial para demonstrar a tecnologia da marca. A equipa já tem a sua marca na história, e espera-se que continue eclética e forte nos anos que se seguem. De perferência, com mais 700 Grandes Prémios no currículo.
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